· Cidade do Vaticano ·

Arcebispo emérito de São Salvador da Bahia

Faleceu o cardeal brasileiro Geraldo Majella Agnelo

 Faleceu o cardeal brasileiro Geraldo Majella Agnelo  POR-035
31 agosto 2023

O Cardeal Geraldo Majella Agnelo, Arcebispo emérito de São Salvador da Bahia e ex-Primaz do Brasil, faleceu na manhã de 26 de agosto, em Londrina, onde residia desde 2014. As suas condições de saúde eram graves desde há tempos. Nasceu em Juiz de Fora, Minas Gerais, a 19 de outubro de 1933, e recebeu a ordenação sacerdotal a 29 de junho de 1957. Nomeado Bispo de Toledo a 5 de maio de 1978, recebeu a consagração episcopal em 6 de agosto seguinte. Tornou-se Arcebispo Metropolitano de Londrina no dia 4 de outubro de 1982 e foi nomeado Secretário da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos em 16 de setembro de 1991. A 13 de janeiro de 1999 foi nomeado Arcebispo Metropolitano de São Salvador da Bahia. No consistório de 21 de fevereiro de 2001, João Paulo ii criou-o e publicou-o Cardeal, com o título de São Gregório Magno “alla Magliana nuova”. A 12 de janeiro de 2011, renunciou ao governo pastoral da Arquidiocese de São Salvador da Bahia. O velório do Cardeal começou, na Catedral de Londrina, na manhã de domingo, 27 de agosto, com a celebração da missa de duas em duas horas. Após a última eucaristia, na manhã de 28 de agosto, o Purpurado foi sepultado na cripta da Catedral de Londrina, em conformidade com o seu desejo. O Purpurado foi recordado nas celebrações eucarísticas em todas as igrejas da Arquidiocese de São Salvador da Bahia: em particular, na tarde de 1 de setembro será celebrada uma missa em sua memória na Catedral da mesma Arquidiocese.

Figura de destaque na Igreja no Brasil, inclusive como presidente da Conferência episcopal de 2003 a 2007, bem como na América Latina, Geraldo Majella Agnelo foi arcebispo de São Salvador da Bahia de 1999 a 2011. Em Aparecida, em maio de 2007, foi um dos três presidentes da v Conferência geral do episcopado latino-americano e do Caribe.

Doente há muito tempo, tinha sido internado no ano passado, pouco antes do Natal, no hospital de Londrina, devido a um acidente vascular cerebral, e depois prosseguiu o tratamento em casa.

A presidência da cnbb — que tinha apelado à oração após o agravamento do seu estado de saúde — recordou o cardeal numa nota: «Demos graças a Deus pelo dom deste irmão no episcopado que ofereceu a sua vida à Igreja no Brasil e no mundo. Nos lugares onde serviu como sacerdote e bispo, Dom Geraldo distinguiu-se pela sua cordialidade e pela sua virtude de criar laços de amizade e de comunhão entre as pessoas. A sua vida foi marcada por um grande amor à Igreja e uma contínua dedicação aos assuntos da Igreja, ao serviço da fé e ao testemunho de vida cristã. Geraldo demonstrou sempre grande zelo pela liturgia, pela boa formação dos sacerdotes e do povo católico, e pela lealdade incondicional ao Papa e à Igreja. Foi um intérprete da correta reforma litúrgica desejada pelo Concílio Vaticano ii . Estamos particularmente gratos pelos anos que dedicou à nossa Conferência, tendo presidido à Comissão episcopal para a Liturgia de 1983 a 1987, servindo como vice-presidente da Região Sul e guiando-a como presidente de 2003 a 2007».

Terceiro dos oito filhos de Antônio Agnelo (falecido a 11 de dezembro de 1969) e Sylvia Spagnolo (falecida em 15 de maio de 1996) — o seu avô materno Silvio Spagnolo era natural de Gazzolo d’Arcole, na região do Veneto, Itália, e tinha emigrado para o Brasil em 1891 — o seu nome recorda a devoção da família a São Geraldo Majella (1726-1755), redentorista, universalmente invocado como protetor das mulheres grávidas, beatificado por Leão xiii em 1893 e canonizado por São Pio x em 1904.

Foi batizado na igreja paroquial de São Mateus, em Juiz de Fora, a 11 de fevereiro de 1934. Depois de ter frequentado — de 1942 a 1944 — a escola primária Santos Anjos, dirigida pelas Irmãs Carmelitas da Divina Providência, seguindo a sua vocação, iniciou em 1945 — tinha 12 anos — o curso ginasial no Seminário menor diocesano Santo Antônio, na sua cidade natal de Juiz de Fora, concluindo-o em 1947. Contou com o apoio e a dedicação dos padrinhos Antônio José Ribeiro Pinto e Maria José de Oliveira Pinto.

A partir de 1948, prosseguiu os estudos no Seminário menor arquidiocesano de Pirapora do Bom Jesus, em São Paulo (para onde, entretanto, a família se transferiu), dirigido pelos Premonstratenses.

Em 1951, iniciou os estudos de filosofia no Seminário central Imaculada Conceição, no Ipiranga, São Paulo. Depois de se formar em filosofia na Universidade de Mogi das Cruzes, em 1953, ingressou na Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção em 1954, formando-se em 1957.

Em 29 de junho do mesmo ano, foi ordenado sacerdote pelo bispo auxiliar de São Paulo, Dom Antônio Maria Alves de Siqueira.

Como sacerdote, exerceu numerosos cargos na Arquidiocese de São Paulo: diretor espiritual e professor do pré-seminário Santo Cura d’Ars para vocações adultas, na freguesia do Ó; assistente eclesiástico da juventude estudantil católica feminina; notário do Tribunal eclesiástico arquidiocesano; diretor e professor do Seminário filosófico arquidiocesano de Aparecida; diretor espiritual e professor do Seminário central Imaculada Conceição, no Ipiranga; professor de Filosofia da Universidade Católica de São Paulo. Durante esse período, de 1958 a 1978, colaborou também na atividade pastoral da paróquia de Santo Antônio, na Barra Funda.

No início de 1964, o arcebispo de São Paulo, cardeal Carlos Carmelo de Vasconcellos Motta, nomeou-o cônego do Cabido metropolitano, cargo que exerceu até 1978, e mestre de cerimônias da catedral.

No outono de 1967 estudou em Roma Liturgia no Pontifício Ateneu Sant’Anselmo, doutorando-se em Teologia com especialização em Liturgia a 3 de dezembro de 1969. «Servitus no Sacramentário veronês. Significado e doutrina, contributo para o conhecimento do significado teológico do serviço litúrgico» foi o tema da sua tese.

Durante a estadia em Roma, viveu no Pontifício Colégio Pio Brasileiro e participou no programa para o Brasil, transmitido pela Rádio Vaticano, «Liturgia e Vida». Ao mesmo tempo, colaborou nas atividades da paróquia de São Clemente Papa, em Montesacro.

Após o regresso ao Brasil, em 1970, foi coordenador da pastoral na Arquidiocese de São Paulo e lecionou Teologia litúrgica e sacramental no Instituto Pio xi , no Seminário maior João xxiii e na Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, da qual foi reitor de 1974 a 1978.

A 5 de maio de 1978 foi nomeado por Paulo vi bispo de Toledo, Paraná. Recebeu a ordenação episcopal na catedral de São Paulo, das mãos de Dom Paulo Evaristo Arns, a 6 de agosto de 1978, precisamente no dia e hora da morte do Papa Paulo vi . Os co-consagrantes foram Dom Benedito de Ulhoa Vieira, arcebispo de Uberaba, e Dom Angélico Sandalo Bernardino, bispo auxiliar de São Paulo.

“Caritas cum fide”, era seu lema episcopal.

Em Toledo, foi também cofundador, reitor e professor da Faculdade de Ciências humanas Arnaldo Busato. Na cnbb foi vice-presidente da Região Sul 2 desde 1980.

A 27 de outubro de 1982, João Paulo II nomeou-o arcebispo metropolitano de Londrina, Paraná. Tomou posse a 28 de outubro de 1983.

De 1983 a 1987, foi presidente da Comissão de Liturgia da Conferência nacional dos bispos do Brasil e, em 1983, lançou em Florestópolis a Pastoral da criança, que depois se propagou em todas as dioceses do Brasil e de outros países da América Latina. Tal Pastoral fora concebida com a contribuição de Zilda Arns — irmã do Cardeal Arns — (1934-2010), pediatra falecida durante um tremor de terra no Haiti, para apoiar concretamente os mais pequeninos e as suas famílias, especialmente as mulheres grávidas. A desnutrição causou muitas mortes na região de Florestópolis e era urgente fornecer alimentos e cuidados de saúde adequados.

Em abril de 1991, na assembleia plenária do Conselho episcopal latino-americano ( celam ), em Buenos Aires, foi eleito presidente do departamento de Liturgia, do qual fora membro de 1983 a 1987.

A 16 de setembro de 1991, João Paulo ii nomeou-o secretário da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos.

De 12 a 28 de outubro de 1992, em Santo Domingo, participou na iv Conferência geral do episcopado latino-americano e do Caribe.

A 3 de junho de 1994, foi nomeado membro da Pontifícia Comissão para a América Latina. Em seguida, a 3 de março de 1995, tornou-se membro do Comité central para o Jubileu do Ano 2000 e, nesse âmbito, presidente da Comissão para a Liturgia. A 30 de outubro de 1997, tornou-se também membro do Pontifício Comité para os Congressos eucarísticos internacionais.

Nestas funções, trabalhou para a realização das indicações conciliares relativas à liturgia. Participou em encontros e jornadas de estudo e promoveu a investigação e a análise do caminho litúrgico no mundo.

A 13 de janeiro de 1999, João Paulo ii nomeou-o arcebispo metropolitano de São Salvador da Bahia, tornando-se assim Primaz do Brasil. Tomou posse a 11 de março seguinte.

No seu ministério — como em Toledo e Londrina — atento às questões sociais da pobreza e do trabalho, interessou-se pela centralidade da pessoa e o anúncio do Evangelho através da experiência da evangelização comum.

De maio de 1999 a maio de 2003, foi segundo vice-presidente do celam . Em outubro de 1999, participou na segunda assembleia especial para a Europa do Sínodo dos bispos.

Em 2000 foi nomeado membro do Pontifício Conselho para a Pastoral dos migrantes e itinerantes.

No consistório de 21 de fevereiro de 2001, o Papa criou-o e publicou-o cardeal com o título de São Gregório Magno “alla Magliana nuova”.

A 19 de maio de 2001 foi nomeado membro da Pontifícia Comissão para o património cultural da Igreja.

De 30 de setembro a 27 de outubro do mesmo ano, participou na x Assembleia geral ordinária do Sínodo dos bispos, dedicada ao ministério episcopal.

A 9 de maio de 2003 foi eleito presidente da cnbb , com um mandato de quatro anos. Participou no conclave que elegeu Bento xvi a 19 de abril de 2005.

Em outubro do mesmo ano, interveio na xi Assembleia geral ordinária do Sínodo dos bispos, dedicada à Eucaristia, «fonte e ápice da vida e da missão da Igreja».

Depois, em Aparecida, de 13 a 31 de maio de 2007, foi um dos três presidentes da v Conferência geral do episcopado latino-americano e do Caribe, sobre o tema: «Discípulos e missionários de Jesus Cristo, para que n’Ele os nossos povos tenham vida».

A 12 de janeiro de 2011, renunciou ao governo da arquidiocese de São Salvador da Bahia. Participou no conclave que elegeu o Papa Francisco, a 13 de março de 2013.

É autor de numerosos livros e artigos, nomeadamente para revistas litúrgicas e para «L’Osservatore Romano».