· Cidade do Vaticano ·

Em conversa com o arcebispo de Seul após o anúncio de que a Coreia do Sul acolherá a próxima Jmj daqui a quatro anos

«Um momento de graça para os nossos jovens»

 «Um momento de graça  para os nossos jovens»  POR-034
24 agosto 2023

AJornada mundial da juventude regressará à Ásia em 2027, trinta e dois anos depois da que foi organizada nas Filipinas, em Manila, a qual bateu o recorde de participação, com cerca de quatro milhões de jovens na missa no Parque Rizal. O Papa João Paulo ii teve de utilizar um helicóptero para chegar ao altar. O Papa Francisco anunciou que Seul, capital da Coreia do Sul, será a anfitriã do próximo encontro mundial de jovens, como concebido por São João Paulo ii e inaugurado em 1985. Comentou esta notícia o arcebispo de Seul, D. Peter Chung Soon-taick, que numa entrevista anterior recordou que, embora o número de católicos no país tenha crescido nos últimos vinte anos de 8,3% para 11,1%, o mesmo não se pode dizer do número de jovens nas igrejas, porque a Coreia do Sul tem a taxa de natalidade mais baixa do mundo, com apenas 0,8 filhos por casal. Por isso a jmj — disse o arcebispo aos jornalistas na conferência de imprensa após o anúncio do Papa — «poderia tornar-se uma excelente oportunidade para reunir os jovens ao redor de um projeto que os torne protagonistas. Daria início a um processo e, uma vez concluído, seria bom partilhar com todos aquilo que experimentámos. Seria uma oportunidade missionária para partilhar os valores do Evangelho na nossa sociedade».

O país asiático, que atualmente conta com mais de 6 milhões de católicos deve a sua primeira evangelização e difusão, há mais de 230 anos, a uma iniciativa do povo, de pessoas simples, e não de sacerdotes ou missionários. Os estudiosos leigos, ao entrarem em contacto com os livros religiosos do Ocidente, compreenderam e aceitaram o catolicismo como religião e não como estudo ou literatura, percebendo que os sacramentos só podiam ser administrados pelos sacerdotes. Assim, a comunidade católica começou a atravessar as fronteiras da China a fim de levar sacerdotes para a Coreia, até correndo o risco de morte, devido à perseguição do governo da época.

Excelência, como viveu esta experiência da Jornada mundial da juventude em Lisboa, sabendo que em 2027 a jmj será em Seul?

Na verdade, esta Jornada mundial da juventude é uma grande oportunidade para todos nós, porque, mesmo que a cultura e a língua sejam diferentes, podemos sentir que somos o mesmo povo de Deus, que somos um só. Por isso, esta Jornada mundial da juventude é uma ótima oportunidade para sentirmos este tipo de unidade em Cristo. Na próxima vez, na Coreia, aqueles que forem ao nosso país poderão descobrir a cultura coreana, um sabor diferente, mas também sentirão a unidade em Cristo. Será uma grande oportunidade e um momento de graça.

Embora estejamos a falar de 2027, imagino que os preparativos comecem em breve. O que implicará? E como tencionam levar para a Coreia esta unidade que descreveram aqui em Lisboa?

Neste momento não é fácil responder, mas temos de debater e rezar, e talvez tentemos encontrar uma forma de levar esta unidade para a Coreia.

Em termos práticos, que aspetos funcionaram bem nesta ocasião em Lisboa que gostaríeis de replicar?

Na jmj de Lisboa 2023 vi muitos voluntários. Trabalharam muito e com total dedicação. Isto é uma grande ajuda para uma Jornada mundial da juventude. Por isso, também na Coreia gostaríamos de convidar muitos coreanos, não apenas jovens, mas de todas as idades, para trabalharem em conjunto, para colaborarem como voluntários. Eles serão uma grande ajuda para o sucesso desta Jornada mundial da juventude.

Em termos de religiosidade na Coreia do Sul, o catolicismo é uma minoria. O que significa então para a Igreja coreana acolher a Jornada mundial da juventude?

Esta Jornada mundial da juventude pode oferecer uma boa oportunidade para melhorar a nossa pastoral juvenil na Coreia. Como já disse, depois da pandemia do coronavírus que durou quase três anos, a pastoral juvenil tornou-se muito difícil na Coreia. Por isso, ao prepararmos a próxima Jornada mundial da juventude, gostaríamos de aproveitar um tipo de atualização da pastoral juvenil na Coreia, convidando os jovens, mas não só eles, a reorganizar toda a pastoral juvenil. Isto significa que, durante a preparação da próxima Jornada mundial da juventude, os jovens coreanos tornar-se-ão jovens líderes na Igreja e na sociedade. Nós acompanhá-los-emos para que se tornem jovens líderes.

Como pode este evento reforçar a relação com os fiéis de outras religiões, também nos países vizinhos?

Na verdade, ao acolher esta Jornada mundial da juventude na Coreia, estou convencido de que não só os coreanos, mas também todos os povos asiáticos ficarão muito satisfeitos. Por isso, nós, bispos coreanos e a Igreja coreana, partilharemos esta oportunidade e debateremos com outros países. Gostaríamos também de os convidar a cooperar connosco.

Em 2014, a Coreia do Sul acolheu a Jornada asiática da juventude em Daejeon, com a participação do Papa Francisco. Poderá ser esta a base para a construção da vossa Jornada mundial da juventude?

Em 2014, o Papa Francisco foi à Coreia. Agora, em 2027, o Santo Padre visitará novamente a Coreia. Penso que essa Jornada asiática da juventude pode ser uma boa base para preparar a próxima Jornada mundial da juventude. Estou de acordo consigo.

Poderia transmitir uma mensagem aos jovens coreanos que acabaram de receber esta notícia, especialmente aos que estão aqui?

A Jornada mundial da juventude é uma grande oportunidade para os jovens coreanos e para os jovens de todo o mundo. Durante a preparação da próxima Jornada mundial da juventude, os jovens tornar-se-ão líderes na Igreja, jovens líderes na sociedade. Por isso, sois bem-vindos e estais convidados. Vinde experimentar e trabalharemos juntos. Preparemos juntos a próxima Jornada mundial da juventude.

Alessandro Di Bussolo
e Francesca Merlo