· Cidade do Vaticano ·

O cardeal Manuel Clemente traçou o balanço de uma semana especial

«A jmj foi alegria convicção e profecia»

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24 agosto 2023

«Aquele silêncio espontâneo e repentino de um milhão e meio de jovens quando o Santíssimo Sacramento foi colocado no altar, no Campo da Graça, vinha do Céu. Foi impressionante». Da Jornada mundial da juventude realizada na sua cidade, o cardeal Manuel Clemente, conserva sobretudo este momento no coração, o da adoração eucarística no Parque Tejo, na noite de sábado, 5 de agosto. E na entrevista aos jornalistas dos media do Vaticano, o pastor de 75 anos sublinhou três aspetos. O primeiro, o da alegria — para os jovens, para a sociedade e para a Igreja — «simples, espontânea, pura». Depois, a convicção e a devoção, expressas no silêncio total e espontâneo nos momentos de oração quando «não foi necessário que alguém o pedisse». Por fim, a profecia, que não é utopia: «Já está aqui, porque estes jovens são o mundo futuro, a geração 2023». E o Papa Francisco, com quem o cardeal esteve ao lado durante muito tempo no papamóvel, «em cada evento era mais “jovem” e mais feliz. Vi-o muito satisfeito».

Podemos fazer um balanço do que aconteceu nestes dias em Lisboa com a Jornada mundial da juventude, que envolveu a Igreja de todo o país e também os dicastérios da Santa Sé?

Nestes dias pensei naquilo que me ficou mais marcante. São três ideias e impressões muito fortes. A primeira é a alegria, a alegria de toda esta gente, porque vieram tantos jovens. Quando acompanhei o Papa no papamóvel, vi o olhar dos outros para o Papa e do Papa para os outros. A alegria era impressionante porque saía das pessoas continuamente, difícil de entender, mas era alegria. Simples, espontânea, pura, magnífica.

A outra impressão foi a convicção destas pessoas. Não é fácil, numa multidão, numa multidão destas dimensões. Viu-se isto em todas as celebrações, tanto nas orações, todos juntos, como no silêncio. Não foi preciso que alguém pedisse silêncio, imediatamente todos se recolhiam. No sábado à noite, na adoração eucarística, havia um milhão e meio de jovens, que se perdia de vista. Mas quando o Santíssimo Sacramento foi colocado sobre o altar, o que aconteceu? Convicção, devoção. Isto é muito interessante.

E a terceira impressão, muito forte, pode ser definida profecia. Nunca falamos o suficiente de profecia, que não é utopia, mas serve para mostrar desde já o que está para vir. Quando vemos todos estes jovens, esta alegria, esta convicção, esta devoção, este estar junto com os outros... assim será o mundo futuro, se tudo isto permanecer. É uma profecia para o futuro, uma profecia que já existe. Não se pode dizer que não existe, está lá! E para estes jovens será decisivo: chamo-lhes a geração 2023.

Um momento que o marcou de forma particular nestes dias...

Para mim, a impressão mais forte, que permanece, é a de toda esta alegria, de que já falei. Mas um momento muito significativo foi durante a adoração eucarística, quando ninguém dizia uma palavra. O Santíssimo Sacramento foi colocado sobre o altar e um milhão e meio de jovens, de repente, calaram-se. O que é isto? É algo que vem do Céu, não é uma coisa nossa.

Fale-nos do caminho de preparação, para criar tudo o que vimos. O trabalho logístico da Igreja, as suas estruturas organizativas, o apoio do governo...

Desde o primeiro momento falei com todos: os governadores, o chefe de Estado, os presidentes de câmara, e todos queriam o melhor para esta Jornada e puseram todos os meios à disposição da jmj . Porque uma coisa tão grande como esta não pode ser feita só com os meios da Igreja, é impossível. Foi unicamente porque o Estado, o governo, considerou esta jmj como algo de interesse para o país que ela pôde ser realizada. Para os católicos e para todos. Pois vi, nas ruas, quando o papamóvel passava, não só católicos, mas toda a população, feliz. Isto é bom: desde o primeiro momento esta colaboração começava bem e o resultado foi muito positivo.

O que aconteceu, este vento de alegria que invadiu todo o país e Lisboa, o que mudará na Igreja de Portugal mas também na sociedade?

A memória deste acontecimento permanece, este “souvenir operacional”. Porque todos experimentaram uma coisa bonita, algo que se pode fazer, e haverá também a nostalgia de a realizar novamente. Mas penso que o mais importante que ficará é a geração de todas as pessoas que trabalharam na Jornada mundial da juventude dois, três, quatro anos, inclusive durante a pandemia, com todas as dificuldades. Isto criou o hábito de trabalhar em conjunto para uma coisa boa. E isto permanece porque não se trata de um momento, mas de anos de trabalho. Muito trabalho.

Sempre esteve muito próximo do Papa, recebeu-o em sua casa. Como foi nestes dias?

Muito bem e cada vez melhor! Dia após dia, cada vez ele estava mais feliz e também no papamóvel, quando falámos, ele estava satisfeito.

Vimos que o Papa estava sempre a sorrir...

Ele absorveu esta juventude! Mas ele é o Papa jovem...

O que dizer aos jovens que não puderam vir a Lisboa?

Que quantos puderam vir devem dar testemunho, exemplo e dizer: “Vemo-nos juntos na próxima jmj , em 2027, em Seul!”.

E aos nossos amigos de Seul?

Eles estão muito felizes, como vistes. E vão fazer bem a jmj , pois têm os meios e a vontade.

Antes de Seul, temos o encontro em Roma...

Sim, em 2025, no Jubileu, porque será um Jubileu para todos, incluindo os jovens, de uma semana. Mas não será um evento desta dimensão. Penso que será sobretudo para os jovens de Roma, da Itália e também para outros jovens que vierem de outros países, mas não com esta dimensão.

Alessandro Di Bussolo
e Silvonei Protz