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Quatro estudantes que escolheram “viver” os ensinamentos do Pontífice

 Quatro estudantes que escolheram “viver” os ensinamentos do Pontífice  POR-032
10 agosto 2023

Muito do que o Papa Francisco propõe na encíclica Laudato sì' pode ser vivido durante os anos de estudante na Universidade católica. Quem o diz é Tomás Virtuoso, 29 anos, de Lisboa, com licenciatura e mestrado em economia pela Católica Lisbon School of Business and Economics da Universidade Católica Portuguesa. Foi o primeiro jovem a dirigir-se ao Pontífice, durante o encontro com os estudantes universitários.

Tomás e a «Laudato si’»

Santo Padre!

A Universidade Católica Portuguesa tem sido, ao longo da minha vida académica, um lugar de transversalidade de saberes no qual tudo se percebe ligado e interdependente, de renovado espanto diante da beleza da realidade criada (seja numa equação matemática seja num texto de S. Agostinho) e de encontro profundo com Deus, que tudo sustenta e a tudo dá sentido. Muito daquilo que o Santo Padre propõe na sua Laudato si’ pude eu viver ao longo destes anos felizes como aluno da Católica: tanto nos bancos das aulas ou da biblioteca como na experiência marcante da Missão País, tanto no projeto Economia de Francisco como nas muitas amizades que aqui fiz e que me lembram que a minha vida ganha propósito e grandeza quando é vivida com outros e ao seu serviço.

À minha geração, parece-me que se pede que não ignore as muitas intuições que a Laudato si’ nos lança. Em primeiro lugar, que nos estimule a mobilizar cada vez mais a melhor ciência, pondo verdadeira confiança no dom divino da razão, para continuar a encontrar soluções efetivas para os desafios com que nos debatemos. Em segundo lugar, que nos convença crescentemente a não aceitar quaisquer avanços tecnológicos que não tenham um forte enraizamento ético e espiritual, que não garantam o respeito pela dignidade inviolável da pessoa e por toda a criação. Em terceiro lugar, que nos leve à decisão firme de viver de acordo com as exigências do bem comum, esse princípio estruturante da doutrina social da Igreja. Por um lado, que nos encoraje a uma conversão de vida, da cabeça, do coração e das mãos. E, por outro lado, que nos anime a uma participação política e social mais comprometida que coloque no centro a opção preferencial pelos pobres. Em último lugar, especialmente para todos os jovens católicos da minha geração, que nos entusiasme a evangelizar, a dizer sem medo que não é possível uma verdadeira ecologia integral sem Deus, que não pode haver futuro num mundo sem Deus.

Santo Padre, no 4º Congresso Internacional sobre o Cuidado da Criação, que a Universidade Católica acolheu no início desta semana por iniciativa da Fundação João Paulo ii para a Juventude, foi justamente com a ecologia integral que nos comprometemos. Com a certeza de que Cristo, Deus vivo e verdadeiro, é a resposta a um mundo que procura um sentido por entre as alegrias e as tristezas do tempo presente, tenho a alegria de poder entregar nas mãos de Vossa Santidade o Manifesto que resultou dos nossos trabalhos acerca dos estilos de vida para uma nova humanidade.

Obrigado, Santo Padre, por nos convidar a ser verdadeiros adoradores de Deus e, com isso, a viver com sabedoria, a pensar em profundidade e a amar com generosidade.

Mariana e o Pacto educativo global

Santo Padre!

Reconheço hoje com alegria que o meu percurso nesta Universidade converge com os princípios para os quais Vossa Santidade convocou o mundo académico com a proposta de um Pacto Educativo Global. É nisso que gostaria de me centrar.

Entrei na Universidade Católica em 2020, em plena pandemia. Nesse contexto, por meio do programa Católica Solidária, a Universidade ajudou-me a perceber a urgência de manter a prioridade dada à pessoa humana, e assim pude ajudar a servir refeições, todas as semanas, às pessoas sem abrigo e mais necessitadas, no centro da cidade do Porto.

Mas esta experiência foi apenas um ponto de partida e o modo de Deus me ensinar que estar ao serviço para acolher os mais vulneráveis e excluídos tinha de ser uma prioridade nos meus dias de estudante, como membro de uma “Igreja em saída”. Nos últimos anos, colaborei com uma instituição que apoia pessoas com deficiência, e pude dar-me conta do impacto real da esperança e da alegria, dadas e recebidas.

A Universidade Católica pôs-me também em contacto com a metodologia Aprendizagem-Serviço, o que me deu uma compreensão mais abrangente dos temas curriculares e uma convicção maior quanto à responsabilidade cívica que a educação traz consigo. Nesse contexto, tenho sido voluntária na Clínica de Psiquiatria de um estabelecimento prisional. Entrei neste projeto de cabeça, mãos, coração e alma, e conseguimos alcançar metas altas, fazendo, por exemplo, que 28 reclusos com problemas de saúde mental reconheçam o seu potencial e experimentem a “liberdade dos talentos” (assim designei este projeto).

Reconheço que a comunidade educativa, a mim, não me falhou, dando-me as condições e as ferramentas necessárias para que pudesse crescer integralmente, como jovem e como mulher. Por isso, comprometo-me a ser abraço de reconciliação e paz no serviço à comunidade, como Vossa Santidade nos tem interpelado, e estou certa de que Deus me convida a traçar o meu caminho junto dos mais excluídos. O meu dever, enquanto futura psicóloga, passa por acolher todos sem discriminações e aceitar o outro exatamente como ele é, independentemente da sua morada ou do seu passado.

Santo Padre, quero ser protagonista da mudança — e não jovem “à janela que vê o mundo a passar” — aplicar profissionalmente o que aprendi para chegar aos mais vulneráveis e ajudar a escrever novas histórias e paradigmas para um mundo mais justo e com mais fé.

A nossa geração o quer ser feliz. Constato com alegria que estou rodeada de jovens protagonistas, com iniciativa, e prontos para “fazer barulho” com o entusiasmo, o empenho e a esperança que transformam o mundo. Nós, jovens cristãos, temos muita vontade de contagiar os outros, e de lhes mostrar que vale a pena arriscar com Deus. Sei que Deus é jovem, e eu vejo-o todos os dias em cada um de nós.

Muito obrigada!

Beatriz e a «Economy of Francesco»

Santo Padre, bom dia!

Agradeço-lhe os múltiplos convites de aprofundamento e de missão conjunta. Obrigado por nos fazer encetar caminhos novos, por provocar a reflexão, por nos escutar, por nos responsabilizar, por nos encorajar e depositar confiança em nós, jovens membros da Economia de Francisco.

Os meus estudos em Filosofia vêm no culminar de um processo longo de discernimento. Fui percebendo que, qualquer que seja a forma vocacional que a minha vida tome, o meu desejo de ser madura passa sempre por me ocupar dos outros. Especificamente, senti-me chamada por Deus a ajudar a erguer os corações feridos pelo pecado. Nesse sentido, depois da minha conversão tardia, fui tendo várias experiências que me levaram a concluir que é a partir do campo da cultura que me sinto chamada a ser abençoada por Deus, a descobrir-me, a descobri-lo e a atuar.

Como fermento no meio da massa, como sal da terra, é na cultura da aldeia, na cultura das pessoas, na cultura da terra e dos cantares que desejo estar, vigilante e com a Igreja, em prol de uma cultura boa e sã. Uma grande confirmação que tenho é perceber que, já antes da minha conversão ao Deus de Jesus Cristo, o Espírito Santo me encaminhava como batizada para aqui. Desse tempo guardo também um grande amor à pergunta sobre o que significa viver e ser pessoa, e sobre o sentido do sofrimento.

Assim, a Filosofia surge como o caminho pelo qual Deus me capacita para assumir cada vez mais esse cuidado pelos meus irmãos e por mim, por quem Jesus Cristo tanto sofre. Tenho vindo a descobrir a grande potência do estudo da filosofia para trabalhar as virtudes, mas também para criar laços de amizade, numa busca conjunta da Verdade, que é Cristo, e para combater o desenraizamento cultural.

Em português temos uma expressão que usamos quando queremos ajudar alguém: chamar à razão. Desejo que ela — a razão — esteja ao serviço da comunhão. Assim, como agente cultural num sentido largo, vejo alegria em levar a arte de contemplar para o meio das pessoas. Desejo ajudar a pensar e a viver a vida a partir de princípios de Caridade, de Paz e de Verdade.

Como nos aconselha Santo Inácio, ajuda-nos o compromisso com o pouco, pequeno e possível. Neste momento comprometo-me a terminar o curso de Filosofia, com um aproveitamento efetivo e afetivo. E, para isso, é imprescindível uma boa rotina de oração, para crescer em confiança na Providência e em abertura ao Espírito Santo no dia a dia.

Mahoor e a cultura do encontro

Santo Padre!

O meu nome é Mahoor Kaffashian, sou estudante de Medicina Dentária em Viseu desde setembro de 2022.

Refugiada, inicialmente deslocada do meu próprio país, o Irão, para a Ucrânia, onde uma guerra real me fez sentir sobrevivente. Acima de tudo, sou crente, e devo o meu olhar de esperança sobre o futuro à extraordinária equipa da Universidade Católica: cuidou e cuidará de mim, no contexto do Fundo de Apoio Social Papa Francisco.

Eu não era a mesma pessoa que sou agora. No ano passado, se me tivessem dito que eu era uma pessoa muito forte, provavelmente não teria acreditado. Mas agora acredito.

Depois de tudo o que passei, depois do sentimento constante de ausência de um lar, da família, dos amigos, depois de ter ficado sem teto, sem universidade, sem dinheiro, sei que o conceito de força não significa que não me sinta cansada, exausta e abatida pela dor e pela perda. Significa apenas que tenho a força, a fé e a coragem para seguir em frente. Sinto-me orgulhosa de estar aqui, num novo recomeço neste país tão belo e acolhedor, participando ativamente na vida da nossa casa comum, e estudando, enquanto tento distribuir à minha volta, eu também, o amor, a esperança e a fé que esta Universidade me ofereceu incondicionalmente numa verdadeira cultura do encontro.

Não há palavras para descrever os meus sentimentos neste momento, mas tenho a sorte de estar aqui, a falar a Vossa Santidade com orgulho do passado, acreditando que melhores dias virão.

Obrigada!