· Cidade do Vaticano ·

Francisco assomou à janela em companhia de uma avó e de um jovem

O futuro constrói-se em conjunto no cuidado mútuo entre gerações

Tourists and pilgrims gather in St. Peter's square during the Angelus prayer, as part of the World ...
27 julho 2023

«Promover uma aliança entre as gerações, de que há tanta necessidade, porque o futuro se constrói em conjunto, na partilha de experiências e no cuidado recíproco entre os jovens e os idosos»: eis a exortação relançada pelo Papa no final do Angelus de 23 de julho. Assomando à janela do Palácio apostólico, em companhia de uma idosa e de um jovem, o Pontífice presidiu à recitação da prece mariana com cerca de vinte mil fiéis presentes na praça de São Pedro e com quantos o acompanhavam através dos meios de comunicação social, introduzindo-a com uma reflexão sobre o Evangelho dominical, centrada na parábola do trigo e do joio. Em seguida, publicamos as palavras do Santo Padre nessa ocasião.

Estimados irmãos e irmãs
bom dia!

O Evangelho de hoje oferece-nos a parábola do trigo e do joio (cf. Mt 13, 24-43). Um agricultor, que lançou uma boa semente no seu campo, descobre que um inimigo, de noite, semeou o joio, uma planta muito parecida com o trigo, mas é uma erva daninha.

Desta forma, Jesus fala do nosso mundo que, na realidade, é como um grande campo, onde Deus semeia o trigo e o maligno o joio, e assim o bem e o mal crescem juntos. O bem e o mal crescem juntos. Vemo-lo nas notícias, na sociedade, mas também na família e na Igreja. E quando, ao lado do trigo bom, vemos as ervas daninhas, temos vontade de as arrancar imediatamente, para fazer “limpeza”. Mas hoje o Senhor adverte-nos que fazer isto é uma tentação: não se pode criar um mundo perfeito, nem fazer o bem destruindo apressadamente o que não é bom, porque isto tem efeitos piores: acaba-se — como se diz — por “deitar fora o bebé com a água do banho”.

No entanto, há um segundo campo onde podemos fazer limpeza: o campo do nosso coração, o único onde podemos intervir diretamente.

Também ali há trigo e joio, aliás, é a partir dali que ambos se espalham no grande campo do mundo. Irmãos e irmãs, com efeito, o nosso coração é o campo da liberdade: não é um laboratório assético, mas um espaço aberto e, por conseguinte, vulnerável. Para o cultivar como se deve é preciso, por um lado, cuidar constantemente dos delicados rebentos do bem e, por outro, identificar e arrancar as ervas daninhas no momento certo. Olhemos, pois, para dentro de nós e examinemos o que se passa, o que cresce em mim, o que cresce em mim de bom e de mau. Há um bom método para o fazer: chama-se exame de consciência, que consiste em ver o que aconteceu na minha vida hoje, o que atingiu o meu coração e quais decisões tomei. Precisamente para ver, à luz de Deus, onde está o joio e onde está a boa semente.

Depois do campo do mundo e do campo do coração, há um terceiro campo. Podemos chamar-lhe o campo do próximo. São as pessoas com quem nos relacionamos todos os dias e que muitas vezes julgamos. Como é fácil para nós reconhecer o joio delas, como gostamos de “esfolar” os outros! E pelo contrário, como é difícil ver o bom trigo que cresce! Contudo, lembremo-nos que se quisermos cultivar os campos da vida, é importante procurar antes de mais nada a obra de Deus: aprender a ver nos outros, no mundo e em nós mesmos a beleza daquilo que o Senhor semeou, o trigo beijado pelo sol com as suas espigas douradas. Irmãos e irmãs, peçamos a graça de ser capazes de o ver em nós, mas também nos outros, a começar pelos que nos estão próximos. Não se trata de um olhar ingénuo, mas de um olhar crente, porque Deus, o agricultor do grande campo do mundo, gosta de ver o bem e de o deixar crescer até ao ponto de fazer da colheita uma festa!

Por isso, também hoje podemos formular-nos algumas perguntas. Pensando no campo do mundo: sei vencer a tentação de “fazer de toda a erva um feixe”, de limpar o campo dos outros com os meus juízos? Depois, pensando no campo do coração: sou honesto em procurar a erva daninha que há em mim e estou decidido a lançá-la no fogo da misericórdia de Deus? E, pensando no campo do próximo: tenho a sabedoria de ver o que é bom, sem me deixar desanimar pelos limites e pela lentidão dos outros?

Que a Virgem Maria nos ajude a cultivar com paciência o que o Senhor semeia no campo da vida, no meu campo, no campo do meu próximo, no campo de todos.

No final do Angelus, depois de ter recordado a celebração do Dia mundial dos avós e a iminente Jornada mundial da juventude, o Pontífice lançou um veemente apelo à ação contra os fenómenos climáticos extremos, para pôr fim ao massacre de migrantes e pela paz na querida Ucrânia.

Prezados irmãos e irmãs!

Hoje, enquanto muitos jovens se preparam para partir para a Jornada Mundial da Juventude, celebramos o Dia Mundial dos Avós e dos Idosos. Por isso, um jovem e uma avó estão ao meu lado: o neto e a avó. Um aplauso aos dois! A proximidade entre as duas celebrações seja um convite a promover uma aliança entre as gerações, que é muito necessária, pois o futuro constrói-se em conjunto, na partilha de experiências e no cuidado recíproco entre jovens e idosos. Não nos esqueçamos deles. E um aplauso a todos os avôs e a todas as avós! Bem forte!

Aqui e em muitos países verificam-se fenómenos climáticos extremos: por um lado, em várias regiões, há ondas de calor anormais e incêndios devastadores; por outro, em não poucos lugares, há tempestades e inundações, como aquelas que flagelaram a Coreia do Sul nos últimos dias: estou próximo de quem sofre e de quem assiste as vítimas e os desabrigados. E, por favor, renovo o meu apelo aos líderes das nações, a fim de que se faça algo mais concreto para limitar as emissões poluentes: é um desafio urgente e inadiável, que diz respeito a todos. Protejamos a nossa casa comum!

E agora gostaria de chamar a atenção para o drama que continua a consumar-se para os migrantes na parte norte da África. Milhares deles, num sofrimento indescritível, há semanas estão bloqueados e abandonados em áreas desérticas. Apelo, em particular aos Chefes de Estado e de Governo europeus e africanos, a fim de que prestem urgentemente socorro e assistência a estes irmãos e irmãs. Que o Mediterrâneo não volte a ser teatro de morte e de desumanidade. O Senhor ilumine a mente e o coração de todos, suscitando sentimentos de fraternidade, solidariedade e acolhimento.

E continuemos a rezar pela paz, de modo especial pela querida Ucrânia, que continua a sofrer mortes e destruições, como infelizmente aconteceu de novo esta noite em Odessa.

Saúdo todos vós, romanos e peregrinos provenientes da Itália e de muitos países, especialmente do Brasil, Polónia, Uruguai... São muitos! Também as estudantes de Buenos Aires e os fiéis da diocese de Legnica, na Polónia. Saúdo também o grupo de ciclistas “Quarenta anos depois” de Cogorno, os participantes na iniciativa “Pedalar pela Paz” e as crianças acolhidas por algumas comunidades do Lácio.

Desejo bom domingo a todos e, por favor, não vos esqueçais de rezar por mim. E rezemos também por esta avó e este neto, e por todos os avós e netos. Bom almoço e até à vista!