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O Papa em Fátima para implorar a paz na Ucrânia e no mundo

 O Papa em Fátima para implorar a paz na Ucrânia e no mundo  POR-028
13 julho 2023

OPapa Francisco visita pela segunda vez o santuário de Nossa Senhora de Fátima, onde em maio de 1917 três pastorinhos — dois já santos e a terceira a caminho dos altares — receberam uma mensagem de Maria sobre o futuro da humanidade. A etapa de algumas horas em Fátima, onde chegará de helicóptero no sábado, 5 de agosto, foi acrescentada posteriormente, uma vez que a peregrinação papal incluía inicialmente apenas a permanência em Lisboa para a Jornada mundial da juventude. Francisco já tinha visitado o famoso santuário mariano por ocasião do centenário das aparições para a canonização dos dois pequenos videntes Francisco e Jacinta Marto, em maio de 2017. O facto de ter decidido ir novamente aos pés de Nossa Senhora de Fátima é significativo e, nas intenções do Pontífice, está ligado à tragédia da guerra que está a provar a “martirizada Ucrânia” bombardeada pelo exército russo, mas também às muitas guerras esquecidas em curso no mundo.

O gesto do bispo de Roma pode ser diretamente ligado a outro que ele fez, pouco mais de um mês após o início da guerra, a consagração da Rússia e da Ucrânia ao Imaculado Coração de Maria, celebrada em São Pedro a 25 de março de 2022. Com efeito, precisamente a consagração da Rússia foi pedida pela aparição na mensagem aos pastorinhos de Fátima. Há dezasseis meses, Francisco tinha rezado assim: «Perdemos o caminho da paz. Esquecemos as lições das tragédias do século passado, o sacrifício de milhões de mortos nas guerras mundiais. Não respeitámos os compromissos assumidos como Comunidade de Nações e estamos a trair os sonhos de paz dos povos e as esperanças dos jovens... Tu, estrela do mar, não nos deixes naufragar na tempestade da guerra... Livra-nos da guerra, preserva o mundo da ameaça nuclear».

Fátima e a história dos Papas

As aparições portuguesas estão ligadas à história dos Papas do século xx e entrelaçam-se com as suas biografias pessoais. A 5 de maio de 1917, com o enfurecer da Primeira guerra mundial, Bento xv decidiu acrescentar a invocação «Rainha da Paz, rogai por nós» às tradicionais Ladainhas de Loreto, recitadas depois do Rosário. Poucos dias depois, a 13 de maio, dá-se a primeira aparição de Nossa Senhora de Fátima. Um acontecimento que ocorreu no mesmo dia em que, na Capela Sistina, o Papa consagrou bispo Eugenio Pacelli, destinado a ser o seu segundo sucessor. Tendo-se tornado Pio xii , em 31 de outubro de 1942, Pacelli consagrou ao Imaculado Coração de Maria «os povos separados pelo erro ou pela discórdia». Paulo vi , em maio de 1967, foi o primeiro Papa a peregrinar a Fátima, num Portugal que ainda vivia sob o regime do ditador Salazar, para celebrar o cinquentenário das aparições. Poucos dias antes de partir, o Papa Montini explicou: «O motivo espiritual, que quer dar um sentido próprio a esta viagem, é rezar, uma vez mais, e de forma mais humilde e viva, a favor da paz». E na homilia em Fátima, afirmou: «Homens, não penseis em projetos de destruição e de morte, de revolução... pensai em projetos de conforto comum e de colaboração solidária. Homens, pensai na gravidade e na grandeza desta hora, que pode ser decisiva para a história das gerações presentes e futuras». Paulo vi descreve a gravidade da situação histórica em tons que não são minimamente tranquilizadores: por um lado, «o grande arsenal de armas terrivelmente mortíferas» e um progresso moral que não acompanha o progresso científico e técnico, por outro, o estado de pobreza e de miséria em que se encontra «a maior parte da humanidade». «É por esta razão que dizemos que o mundo está em perigo. É por esta razão que viemos aos pés da Rainha para lhe pedir a paz, um dom que só Deus pode conceder... Vede como o quadro do mundo e dos seus destinos é aqui imenso e dramático».

O sangue do Papa Wojtyła
e a mensagem de Bento xvi

Mas é com Karol Wojtyła que a história de Fátima e a mensagem aos pastorinhos, mantida em segredo até ao ano 2000, estão indissociavelmente ligadas à vida de um Sucessor de Pedro. No dia 13 de maio de 1981, às 17h17, na praça de São Pedro, João Paulo ii foi gravemente ferido numa tentativa de assassinato perpetrada pelo terrorista turco Ali Agca. O Pontífice polaco chegou quase exangue e à beira da morte ao Hospital Gemelli: considerará a sua sobrevivência milagrosa e, dezanove anos mais tarde, dará finalmente a conhecer a terceira parte do segredo de Fátima, onde é descrito o assassinato de um «bispo vestido de branco» que atravessa uma cidade em ruínas e, no final, é assassinado, atribuindo a si a visão. Durante o seu longo pontificado, Wojtyła visitou o santuário português três vezes, em 1982, em 1991 e, por fim, no Grande Jubileu de 2000. O seu sucessor, Bento xvi , também peregrinou a Fátima durante a sua visita a Portugal em 2010 e afirmou: «Iludir-se-ia quem pensasse que a missão profética de Fátima terminou». Naquela ocasião, no voo de ida, respondendo a uma pergunta de um jornalista, o Papa Ratzinger falou também da crise dos abusos, dizendo: «Quanto às novidades que podemos descobrir nesta mensagem de hoje, há também o facto de que não só os ataques ao Papa e à Igreja vêm de fora, mas o sofrimento da Igreja vem precisamente do interior da Igreja, do pecado que existe dentro da Igreja. Também isto sempre se soube, mas hoje vemo-lo de uma forma verdadeiramente aterradora: que a maior perseguição à Igreja não vem de inimigos externos, mas do pecado que existe dentro da Igreja, e por isso a Igreja tem uma profunda necessidade de reaprender a penitência».

Andrea Tornielli