· Cidade do Vaticano ·

A carta com a qual o Pontífice constituiu a “Comissão dos Novos Mártires — Testemunhas da Fé”

Modelos de generosa fidelidade

 Modelos de generosa fidelidade  POR-028
13 julho 2023

«Elaborar um catálogo de todos aqueles que derramaram o sangue para confessar Cristo e testemunhar o Evangelho»: com este objetivo, em vista do próximo Ano santo de 2025, o Papa Francisco constituiu no Dicastério para as Causas dos Santos a “Comissão dos Novos Mártires — Testemunhas da Fé”. O Papa Francisco deu-o a conhecer através de uma carta — divulgada a 5 de julho que publicamos a seguir — na qual explica que a Comissão «continuará a busca, já iniciada por ocasião do Grande Jubileu de 2000, para identificar as Testemunhas da Fé neste primeiro quarto de século e para depois prosseguir no futuro».

Em vista do próximo Jubileu de 2025, que nos verá reunidos como “Peregrinos da esperança”, constituí no Dicastério para as Causas dos Santos a “Comissão dos Novos Mártires — Testemunhas da Fé”, para elaborar um Catálogo de todos aqueles que derramaram o seu sangue para confessar Cristo e testemunhar o seu Evangelho. Os mártires na Igreja são testemunhas da esperança que nasce da fé em Cristo e incita à verdadeira caridade. A esperança mantém viva a convicção profunda de que o bem é mais forte do que o mal, porque em Cristo Deus venceu o pecado e a morte. A Comissão prosseguirá a busca, já iniciada por ocasião do Grande Jubileu de 2000, para identificar as Testemunhas da Fé neste primeiro quartel do século e para depois prosseguir no futuro.

De facto, os mártires acompanharam a vida da Igreja em todos os tempos e florescem como «frutos maduros e excelentes da vinha do Senhor» ainda hoje. Como já disse muitas vezes, os mártires «são mais numerosos no nosso tempo do que nos primeiros séculos»: são bispos, sacerdotes, consagrados e consagradas, leigos e famílias, que nos diversos países do mundo, com o dom da própria vida, ofereceram a prova suprema da caridade (cf. lg 42). Como já escrevia São João Paulo ii na Carta Apostólica Tertio millennio adveniente, tudo deve ser feito para que não se perca a herança da nuvem dos «soldados desconhecidos da grande causa de Deus» (n. 37). Já no dia 7 de maio de 2000, eles foram recordados numa celebração ecuménica, que viu reunidos no Coliseu representantes de Igrejas e comunidades eclesiais de todo o mundo, para evocar, juntamente com o Bispo de Roma, a riqueza daquilo a que depois chamei «ecumenismo do sangue». Também no próximo Jubileu estaremos unidos numa celebração semelhante.

Com esta iniciativa não se pretende estabelecer novos critérios para o apuramento canónico do martírio, mas continuar o levantamento inicial daqueles que, até hoje, continuam a ser assassinados pelo simples facto de serem cristãos.

Por conseguinte, trata-se de continuar o reconhecimento histórico para recolher os testemunhos de vida, até ao derramamento do sangue, destas nossas irmãs e irmãos, a fim de que a sua memória sobressaia como tesouro que a comunidade cristã preserva. A busca não dirá respeito apenas à Igreja católica, mas estender-se-á a todas as confissões cristãs. Também no nosso tempo, no qual assistimos a uma mudança de época, os cristãos continuam a mostrar, em contextos de grande risco, a vitalidade do Batismo que nos une. De facto, não são poucos aqueles que, mesmo sabendo dos perigos que correm, manifestam a sua fé ou participam na Eucaristia dominical. Outros são mortos no esforço de ajudar na caridade a vida dos pobres, de cuidar dos descartados pela sociedade, de valorizar e promover o dom da paz e o poder do perdão. Outros ainda são vítimas silenciosas, individualmente ou em grupo, das convulsões da história. Em relação a todos eles, temos uma grande dívida e não os podemos esquecer. O trabalho da Comissão permitirá colocar lado a lado com os mártires, oficialmente reconhecidos pela Igreja, os testemunhos documentados — e são muitos — destes nossos irmãos e irmãs, num vasto panorama no qual ressoa a voz única da martyria dos cristãos.

A Comissão agora instituída deverá contar com o contributo ativo das Igrejas particulares nas suas articulações, dos institutos religiosos e de todas as outras realidades cristãs, segundo os critérios que a mesma Comissão elaborará.

Num mundo onde, por vezes, parece que o mal prevalece, estou certo de que a elaboração deste Catálogo, também no contexto do Jubileu já iminente, ajudará os crentes a lerem o nosso tempo à luz da Páscoa, bebendo do tesouro de uma fidelidade tão generosa a Cristo as razões da vida e do bem.

Vaticano, 3 de julho de 2023

Francisco