Desde o dia 28 de junho, o cardeal esmoler Konrad Krajewski está em Kherson, enviado pela sexta vez pelo Papa em missão à Ucrânia para levar ajuda e conforto à população atormentada pela guerra e pelas suas consequências. «Uma expedição evangélica», assim a definiu numa mensagem de voz enviada aos meios de comunicação do Vaticano.
O cardeal chegou à cidade do sul da Ucrânia — onde nas últimas semanas foi destruída a barragem hidroelétrica de Kakhovka, provocando a inundação de mais de 80 aldeias e cidades, a devastação de 20.000 hectares de terras agrícolas e o derrame de mais de 150 toneladas de petróleo — conduzindo ele mesmo um camião carregado de géneros alimentícios (a maioria proveniente da Coreia e mais de 100.000 sopas liofilizadas) e sobretudo medicamentos, provenientes do Vaticano, do Hospital Gemelli e do “banco suspenso de Nápoles”. Partindo de Roma a 22 de junho, o cardeal percorreu mais de 3.125 quilómetros. «Muita estrada, muitos quilómetros», disse.
A 26 de junho, Krajewski chegou em Odessa. No dia seguinte, esteve em Drohobych, o segundo centro económico da região, depois da capital do Oblast de Lviv, da qual dista cem quilómetros. Visitou um centro humanitário greco-católico que presta assistência e abrigo aos necessitados e o hospital, o centro para alcoólicos e o centro para crianças, que atualmente acolhe refugiados durante as férias.
O cardeal dirigiu-se depois a Mykolaiv, visitando a paróquia ainda de pé, aberta e ativa, apesar dos enormes bombardeamentos russos. Passou algumas horas com o pároco local: «Da última vez não podia sair, agora foi possível ficar com ele». Agradeceu-lhe o facto de não ter fugido, a «resistência» e a coragem de que deu provas. O cardeal exprimiu a mesma gratidão às pessoas («Aqueles que não fugiram») com quem rezou com os rosários do Papa que levou de presente.
A acompanhar o esmoler estava o bispo Jan Sobiło, auxiliar de Kharkiv-Zaporizhzhia. Em Kherson, diz Krajewski, «descarregámos imediatamente os medicamentos, os remédios de primeiros socorros. Um médico dividiu os medicamentos, depois chegaram as ambulâncias para os distribuir pelos vários ambulatórios do hospital».
O programa previa também uma paragem no centro da cidade: «Quase deserta, tudo fechado... — observou o cardeal — de vez em quando ouvíamos as sirenes e quando entrávamos, havia bombardeamentos. A um quilómetro de nós via-se fumo e fogo e ainda há duas noites a cidade estava sob ataque». Apesar disso, foram com o pároco «procurar as pessoas, falar e levar ajuda muito concreta».
À noite, o cardeal Krajewski visitou as comunidades ortodoxas, «inclusive as que dependem de Moscovo», e as comunidades greco-católicas basilianas. A elas transmitiu «o abraço do Papa para dizer que não passa um dia sem uma oração pela Ucrânia e por aqueles que sofrem». Enquanto se ouvia o eco das bombas, o cardeal rezou e cantou com os monges. «Celebrámos a Missa com o pano de fundo dos bombardeamentos do outro lado do Dnipro. Também fomos ao hospital que foi atacado pelos russos». Usando luvas e um avental azul — como mostram alguns vídeos que circulam nas redes sociais — o esmoler distribuiu pão e refeições quentes às populações das zonas inundadas no refeitório dominicano, financiado com a caridade do Papa.
No dia 28 de junho, a viagem continuou nas aldeias onde a água já baixou «para levar alimentos». Nos próximos dias há ainda um longo caminho a percorrer: «Ficaremos dois dias em Kherson e depois talvez nos dirijamos a Kiev. Vou encontrar-me com as comunidades, pois também recebemos muito, muito desta gente». A última parte da missão será em Lviv, cidade que nunca deixou de visitar nas suas outras viagens à Ucrânia: «Depois, há ainda muitos quilómetros e, no regresso, quem sabe quantos mais encontros e momentos de oração».
Não há datas para o seu regresso, apenas um objetivo. O mesmo das viagens anteriores: «Estar com estas pessoas em nome do Santo Padre. Não é necessário dizer muito, basta estar», diz Krajewski. «Rezemos por todos eles — foi o pedido do esmoler — e rezemos também por nós, para não nos habituarmos a esta guerra e continuarmos a ajudar as pessoas em dificuldade».
Salvatore Cernuzio