Publicamos o texto da carta conjunta que o Dicastério para os institutos de vida consagrada e as sociedades de vida apostólica (Divcsva) e o Dicastério para a cultura e a educação (Dce) dirigiram a todos aqueles que participam «na missão educativa das escolas católicas».
A todos aqueles que participam
na missão educativa
das escolas católicas
Caríssimas, caríssimos!
No passado dia 22 de maio, o “Dicastério para a Cultura e a Educação” e o “Dicastério para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica” convidaram ao Vaticano alguns protagonistas da rede mundial de escolas católicas, para expor em primeira pessoa as potencialidades e os desafios da missão educativa, nesta fase da história, descrita pelo Papa Francisco não tanto como «época de mudanças, mas mudança de época» (cf. Papa Francisco, Bons votos de Natal à Cúria Romana, 21 de dezembro de 2019).
Por que motivo o convite para este tempo de escuta foi dirigido não apenas pelo Dicastério dedicado à educação, mas também pelo Dicastério que se ocupa da vida consagrada? Porque uma parte muito substancial das mais de 240.000 escolas católicas que fazem da Igreja um dos protagonistas da educação primária e secundária no mundo é gerida por Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica. A iniciativa conjunta não era apenas estratégica, mas tencionava honrar sobretudo o que é recomendado pela Constituição Apostólica Praedicate Evangelium, que convida à «escuta recíproca», onde «cada um tem algo a aprender» (n. 4). Naquela ocasião, como organismos da Santa Sé ao serviço do Santo Padre, aprendemos com quantos trabalham na vanguarda da educação; além disso, os dois Dicastérios aprenderam um com o outro. Com efeito, dois olhos veem melhor do que um e dois ouvidos escutam mais do que um.
Queremos agradecer a quantos dedicam os melhores recursos da sua vida à importante missão educativa a que são chamados. Obrigado aos professores e a todo o pessoal administrativo e de serviço que constituem a comunidade educativa global, fios de diferentes cores tecidos numa única tapeçaria. Obrigado a todas as famílias que, valendo-se da competência formativa da comunidade cristã, educam os seus filhos e filhas numa aliança educativa com as escolas católicas. Obrigado aos Bispos, às Dioceses do mundo inteiro, aos Institutos de Vida Consagrada e às Sociedades de Vida Apostólica que investem consideráveis energias humanas e recursos financeiros na manutenção das escolas antigas e na criação de novas. Vistos de cima, os gestos destes atores — cada um com o seu toque e o seu carisma — compõem uma grandiosa coreografia, desejosa de que ninguém seja excluído da dança da vida.
Claramente, também surgiram sérias dificuldades do encontro de maio passado. Algumas delas são comuns ao mundo inteiro, outras sobrecarregam determinados contextos: a recente pandemia ainda faz sentir os seus efeitos, a crise da economia mundial, a taxa de natalidade, a pobreza extrema, a desigualdade de acesso aos alimentos, à água, à saúde, à educação, à informação, à cultura e à Internet. A isto acrescenta-se, pelo menos em certos países, a incapacidade do sistema legislativo de reconhecer a igualdade económica das escolas não estatais. Além disso, em várias dioceses do mundo, os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica constatam uma diminuição significativa das vocações. E, pelo menos no mundo ocidental, a fé em Deus continua a ser fortemente marginalizada da vida pública e, de modo mais geral, da vida dos homens e mulheres do nosso tempo. Isto tem certamente efeitos práticos complexos, que levam até ao fechamento ou à alienação de algumas escolas, com uma enorme perda de “personalidade” no sistema escolar. Com efeito, quando se fecha uma escola diocesana ou religiosa, apagam-se do ambiente educativo as marcas da história daquela única Igreja local, do carisma inconfundível daquela família religiosa. Quando se assiste ao doloroso fechamento de uma escola, extingue-se um lugar que identifica e guarda uma porção de esperança. Depois, constatou-se que circunstâncias, oportunidades e questões inéditas às vezes tornam mais difícil a expressão da identidade cristã e católica, de modo dialogante mas firme, sólido mas afável.
A situação pode ser assustadora, até pela rapidez dos seus efeitos. Mas recordemos que é precisamente de situações de medo — como o caos que precede a Criação (cf. Gn 1, 2) — que Deus tira as suas obras mais surpreendentes. A leitura de alguns dados da realidade é suscetível de inibir a esperança; no entanto, aquilo que à primeira vista bloqueia a coragem, na realidade pode revelar-se como um “bloco de partida”, um “starting block” que favorece uma nova explosão, para a frente. Por exemplo, o contexto complexo em que somos chamados a trabalhar como escolas católicas poderia fomentar uma maior vontade de “fazer coro”, como recentemente o Santo Padre pediu também às Pontifícias Instituições Académicas Romanas (Audiência de 25 de fevereiro de 2023). Infelizmente, às vezes as escolas católicas atuam no mesmo espaço não como solistas que, graças ao seu singular timbre vocal, enriquecem todo o coro, mas como vozes fora do coro, isoladas, sem contexto; em certos casos até em concorrência dissonante. É necessário e urgente fazer coro entre os vários Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica comprometidos na educação; fazer coro entre os Bispos, os párocos, toda a pastoral diocesana e a riqueza dos carismas educativos garantidos pelas escolas pertencentes aos Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica. É indispensável que o clero, os religiosos, as religiosas e os leigos façam coro e que lhes seja garantida a possibilidade de fazer ressoar a voz educativa de uma diocese e até o timbre singular de um carisma religioso. A tal propósito, exortamos a atuação de iniciativas, até de caráter experimental, vibrantes de imaginação e criatividade, capazes de partilha e futuro, exatas no diagnóstico e arejadas na visão. O medo dos riscos não deve extinguir a audácia, pois a crise não é o momento para enfiar a cabeça na areia, mas para contemplar as estrelas, a exemplo de Abraão (cf. Gn 15, 5).
Nas últimas linhas desta carta, queremos insistir no “Deves”. Sim, de modo mais decidido, todos devemos “fazer coro”. E fazemo-lo confiantes na potencialidade e beleza da missão educativa, «direito inalienável» que favorece a dignidade da pessoa humana (Gravissimum educationis 1). Como organismos chamados a ajudar o Santo Padre no exercício do seu ministério petrino, desejamos sobretudo encorajar-vos. Por isso, recorreremos a formas antigas e novas de vos escutar, percorrendo um caminho comum, para que se tome em urgente consideração a realidade e do corpo eclesial surjam soluções para o futuro, até em contextos exigentes. O Espírito de Cristo ilumine os nossos sentidos, tornando-os capazes de discernir, imaginar e arriscar.
Saudamos-vos com estima grata e compartilhada!