«A oração, a comunidade, o uso comum dos bens e o espírito de serviço à Igreja: eis as quatro constantes carismáticas da vossa história, as “quatro estrelas” que nunca se apagam, tornando luminoso e atual o vosso apostolado». Foi com estas palavras que o Papa Francisco encorajou a comunidade dos Cónegos regulares lateranenses, recebidos em audiência na manhã de 19 de junho, na Biblioteca particular do Palácio apostólico.
Estimados irmãos
bom dia e bem-vindos!
Saúdo o Abade-geral e todos vós, felicitando-vos pelo segundo centenário de fundação! Ela nasceu da fusão de duas comunidades: a dos Cónegos Regulares do Santíssimo Salvador e a dos Cónegos Regulares Lateranenses. Mas a vossa origem é muito mais antiga: remonta ao século xv e mergulha as raízes nos primórdios da Igreja quando, por obra de pastores iluminados, depressa se começou a promover a vida comum dos clérigos. Esta é uma graça muito grande!
Por isso, pertenceis a uma tradição secular, inspirada na comunidade cristã primitiva e centrada na oração, na comunhão de vida e no uso comum dos bens (cf. At 2, 42.47) para, como diz Santo Agostinho, «viver unidos em casa e ter uma só alma e um só coração voltados para Deus» (Regra i , 3). Oração, comunidade, uso comum dos bens e espírito de serviço à Igreja: eis as quatro constantes carismáticas da vossa história, as “quatro estrelas” que nunca se apagam, tornando luminoso e atual o vosso apostolado.
“Oração”, porque é o oxigénio da alma. Se não rezares, serás o deus de ti mesmo. Todo o egoísmo nasce da falta de oração. Peço-vos, por favor: fazei um exame de consciência, cada um diga quantas horas reza por dia. Cada um. “Comunidade”: aquilo a que me referi, ser irmãos; e dou-vos um conselho: nunca faleis mal uns dos outros, nunca! A bisbilhotice é um flagelo. Direi que vos deem, sobre a tagarelice, um escrito do secretário da Congregação de Propaganda Fide, lede-o bem! A tagarelice é um flagelo, destrói as comunidades. Nada de bisbilhotice! E depois “o uso comum dos bens”: uma coisa sábia, sempre... O diabo entra pelos bolsos! Pensai quando Jesus diz: “Não podeis servir a dois senhores, ou servis a Deus” — e aí eu esperaria que dissesse: ou servis ao diabo — contudo não diz o diabo, mas “o dinheiro”, como se fosse pior do que o diabo. Isto é curioso! O diabo entra sempre pelos bolsos, sempre. E a quarta: “o espírito de serviço à Igreja”. Não viver para si próprio, mas para servir: eis as quatro estrelas.
O vosso carisma quer que sejais simultaneamente contemplativos e ativos, dedicados à oração e ao estudo, bem como ao ministério, prontos a responder às exigências dos tempos que mudam. Passastes muitas vezes por mudanças e até o bicentenário que celebrais está ligado a uma delas quando, num período de circunstâncias adversas, soubestes fazer escolhas corajosas, transformando o desafio em ocasião de renascimento.
Agora perguntais-vos como continuar a renovação da vossa vida religiosa. Gostaria de vos dizer: deixai-vos orientar pelas vossas quatro estrelas. É o próprio nome da vossa Congregação que as evoca: Cónegos Regulares do Santíssimo Salvador Lateranense. A vossa dedicação ao Salvador recorda a importância de cultivar, através da oração, a centralidade de Cristo. Além disso, tendes o título de Cónegos: sabeis bem que não se trata de uma indicação de grau, mas de um sinal de pertença a uma comunidade. Chamais-vos cónegos regulares, isto é, vinculados a uma Regra, e isto delineia a fidelidade à vossa consagração segundo os votos, em primeiro lugar a pobreza. Concluindo, o vosso nome vincula-vos à Basílica Lateranense: nem sequer isto constitui um adorno de prestígio ou uma recordação que evoca passados gloriosos, não, mas o convite à fidelidade à Igreja, a testemunhar essencialmente através do serviço.
Sei que alguns jovens sacerdotes provenientes de várias partes do mundo, nestes meses fazem uma experiência que, através de encontros, celebrações e visitas significativas, quer ajudá-los a construir projetos e vínculos, mas também ampliar os seus conhecimentos. A eles e a todos vós, digo: vivei esta ocasião como dom, escutando-vos reciprocamente, reconhecendo em cada um uma riqueza para os outros. Dialogai e escutai-vos uns aos outros, com sinceridade e abertura de coração, sem permanecer firmes nas vossas próprias convicções, mas movendo-vos com o coração, como sugere Santo Agostinho: “Uma coisa é mover-se com o corpo e outra é mover-se com o coração: move-se com o corpo quem se desloca fisicamente de um lugar para outro, move-se com o coração quem orienta os seus afetos de modo diferente» (Comentário ao Evangelho de São João, 32). É com o coração em movimento, dinâmico e dilatado, que se seguem os caminhos que o Espírito Santo indica. É o que vos desejo de coração, ide em frente! Abençoo-vos e agradeço-vos por terdes vindo. E peço-vos, por favor, que rezeis por mim!