· Cidade do Vaticano ·

ANGELUS — Prece pelas vítimas das violências numa penitenciária feminina hondurenha

Reconciliação e convivência fraterna também nas prisões

 Reconciliação e convivência fraterna também nas prisões  POR-026
28 junho 2023

Proximidade de Francisco à família de Emanuela Orlandi


Um apelo «a abrir-se à reconciliação e a dar espaço à convivência fraterna também nas prisões», foi lançado pelo Papa no final do Angelus de 25 de junho. Falando da janela do Palácio apostólico aos 20.000 fiéis presentes na praça de São Pedro e a quantos estavam ligados através dos meios de comunicação social, o Pontífice dirigiu um pensamento às vítimas das violências que eclodiram nos últimos dias numa penitenciária feminina de Tamara, Honduras. Precedentemente, comentando o trecho litúrgico do Evangelho de domingo, exortou a seguir o convite de Cristo aos seus discípulos: «Não tenhais medo».

Estimados irmãos e irmãs
bom dia, feliz domingo!

No Evangelho de hoje, Jesus repete três vezes aos seus discípulos: «Não tenhais medo» (Mt 10, 26.28.31). Pouco antes, falou-lhes das perseguições que terão de suportar por causa do Evangelho, uma realidade ainda hoje atual: a Igreja, de facto, desde o início conheceu, juntamente com as alegrias — e foram tantas! — muitas perseguições. Parece paradoxal: o anúncio do Reino de Deus é uma mensagem de paz e de justiça, fundada na caridade fraterna e no perdão e, no entanto, encontra oposições, violências e perseguições. Jesus, porém, diz para não temermos: não porque no mundo tudo correrá bem, não, mas porque para o Pai somos preciosos e nada do que é bom se perderá. Por isso, diz-nos para não deixarmos que o medo nos detenha, mas para temermos outra coisa, apenas uma coisa. O que nos diz Jesus que devemos temer?

Descobrimo-lo através de uma imagem que Jesus utiliza hoje: a imagem da “Geena” (cf. v. 28). O vale da “Geena” era um lugar que os habitantes de Jerusalém conheciam bem: era o grande depósito de lixo da cidade. Jesus fala dele para dizer que o verdadeiro medo que se deve ter é o de deitar fora a própria vida. Jesus diz: «Sim, temei isto». Como se dissesse: não é tanto ter medo de sofrer incompreensões e críticas, de perder o prestígio e as vantagens económicas para permanecer fiel ao Evangelho, mas de desperdiçar a existência perseguindo coisas banais, que não enchem a vida de sentido.

E isto é importante para nós. De facto, também hoje, podemos ser ridicularizados ou discriminados se não seguirmos certos modelos em voga, que, no entanto, colocam muitas vezes no centro realidades de segunda categoria: por exemplo, seguir coisas em vez de pessoas, desempenhos em vez de relações. Vejamos alguns exemplos. Estou a pensar nos pais, que precisam de trabalhar para sustentar a família, mas não podem viver só para o trabalho: precisam de tempo para estar com os filhos. Penso também num sacerdote ou numa religiosa: devem empenhar-se no seu serviço, mas sem se esquecerem de dedicar tempo a estar com Jesus, caso contrário caem na mundanidade espiritual e perdem o sentido de quem são. E penso ainda num jovem ou numa jovem, que tem mil compromissos e paixões: escola, desporto, interesses diversos, telemóveis e redes sociais, mas precisa de encontrar pessoas e realizar grandes sonhos, sem perder tempo com coisas que passam e não deixam marca.

Tudo isto, irmãos e irmãs, implica alguma renúncia perante os ídolos da eficácia e do consumismo, mas é necessário para não nos perdermos nas coisas, que depois são deitadas fora, como se fazia na Geena de então. E na Geena de hoje, as pessoas acabam muitas vezes por: pensar nos últimos, muitas vezes tratados como material de descarte e objetos indesejados. Permanecer fieis ao que conta custa; custa ir contra a maré, custa libertar-se dos condicionamentos do pensamento comum, custa ser afastado por aqueles que “seguem a onda”. Mas não importa, diz Jesus: o que importa é não deitar fora o bem maior, a vida. Só este facto já nos deve assustar.

Perguntemo-nos, então: eu, do que tenho medo? De não ter aquilo de que gosto? De não atingir os objetivos que a sociedade impõe? Do julgamento dos outros? Ou de não agradar ao Senhor e não colocar o seu Evangelho em primeiro lugar? Maria, sempre Virgem, Mãe sábia, ajuda-nos a sermos sábios e corajosos nas escolhas que fazemos.

No final do Angelus, depois de ter rezado pelas presas que morreram em Tamara (Honduras), o Papa recordou o 40º aniversário do desaparecimento de Emanuela Orlandi, manifestando a sua proximidade à família e «a todas as famílias que suportam a dor de um ente querido desaparecido». Concluindo, saudou alguns dos grupos presentes na praça, voltando a «implorar de Deus o dom da paz» para «o martirizado povo ucraniano».

Caros irmãos e irmãs!

Fiquei muito triste com o que aconteceu há alguns dias no Centro Penitenciário Feminino de Tamara, Honduras. Uma terrível violência entre bandos rivais semeou morte e sofrimento. Rezo pelos defuntos, rezo pelas suas famílias. Que a Virgem de Suyapa, Mãe das Honduras, ajude os corações a abrir-se à reconciliação e a dar espaço à convivência fraterna, mesmo dentro das prisões.

Nestes dias celebra-se o 40º aniversário do desaparecimento de Emanuela Orlandi. Aproveito esta ocasião para exprimir, uma vez mais, a minha proximidade à família, especialmente à mãe, e para lhe assegurar as minhas orações. Estendo a minha recordação a todas as famílias que suportam a dor de um ente querido desaparecido.

Saúdo todos vós, romanos e peregrinos de Itália e de diversos países, especialmente os fiéis de Bogotá, Colômbia.

Saúdo a Fraternidade da Ordem Franciscana Secular de Pisa; os jovens de Gubbio, Perugia e Spoleto; o grupo de Limbadi que festeja o jovem Leo; os participantes da moto-peregrinação de Cesena e Longiano; e os voluntários da Rádio Maria Itália que, com um grande estandarte, nos convidam a colocar-nos “todos sob o manto” da Virgem Mãe Maria, para implorar de Deus o dom da paz. E pedimos isto especialmente para o martirizado povo ucraniano.

Desejo a todos bom domingo. Por favor, não vos esqueçais de rezar por mim. Bom almoço e até à vista!