«Recordou-nos o menino de Pascoli, a criança que temos dentro de nós», comentou Emilio Isgrò, o poeta das rasuras, depois do encontro do Papa com os artistas. Mais de duzentos, de trinta países: cineastas, músicos, escritores, artesãos da palavra, das notas ou das imagens que, com o seu trabalho, se medem todos os dias, necessariamente, com o invisível, quer tenham consciência disso quer não. Entre outros, recordamos o sacerdote Sidival Fila, frade franciscano de origem brasileira que trata o tecido como um material a que se deve dar nova vida, e a arte conceitual de Anselm Kiefer.
O artista é como uma criança e como um vidente, repetiu o Pontífice durante o encontro que teve lugar sob os afrescos da Capela Sistina, citando a profundidade lúcida do pensamento de Romano Guardini; um cronista sui generis da realidade chamado a ter dois olhos, um que olha e outro que sonha. Assim como, em certos ícones bizantinos, Cristo tem olhos deliberadamente diferentes, não simétricos: um que julga, outro que perdoa. «Devemos relançar a experiência da Igreja como amiga dos artistas, interessados nas questões que a vida contemporânea nos apresenta», disse o cardeal José Tolentino de Mendonça, prefeito do Dicastério para a cultura e a educação, que organizou e promoveu o evento em colaboração com o Governatorato do Estado da Cidade do Vaticano, os Museus do Vaticano e o Dicastério para a comunicação. O encontro, que deseja uma nova aliança entre linguagens diferentes que muitas vezes se cruzam sem se conhecerem, foi introduzido pela música de um violoncelo do mar tocado pelo japonês Issei Watanabe: um destes instrumentos, construídos pelos presos do cárcere de Opera com madeira recuperada de barcos encalhados, que simbolicamente querem encarnar a transformação da dor em beleza.
Uma das tarefas da arte, que «em si», disse Isgrò, «pertence às regiões do espírito, embora muitas vezes nos esqueçamos disto. São duas esferas naturalmente relacionadas», acrescenta o artista, que utiliza os traços dos marcadores como o zero da matemática, chamado a aumentar o valor de outros números. «São questões de que a política deixou de falar», concluiu o cineasta Roberto Andò, nascido em Palermo, autor de La stranezza, homenagem original a Pirandello no cinema. Ao seu lado, na Galeria dos Lapidários dos Museus do Vaticano, onde os convidados pararam para conversar, estava também o escritor francês Éric-Emmanuel Schmitt.
«É muito importante restituir o cristianismo a todos», disse Schmitt a «L’Osservatore Romano», «o Evangelho pertence a todos, ao artista, ao poeta, ao cineasta, ao homem de rua, não é algo que diz respeito unicamente à Igreja», continua o escritor. Com o encontro de hoje, o Papa legitimou de certa forma também o nosso trabalho». Schmitt nunca fez mistério acerca da sua fé; no seu livro La Nuit de feu, por exemplo, fala da sua experiência mística no deserto de Hoggar. E o título recorda explicitamente a famosa noite mística de Blaise Pascal. «Os pensamentos de Pascal são para mim um texto de referência, um livro que está sempre na minha nessa de cabeceira. Recordam-nos que o homem é composto de razão e de coração, que não se pode ser cristão apenas com um fragmento de si mesmo, mas também com a imaginação, com os livros que se leu, com as peregrinações que se fez». E foi precisamente de uma peregrinação que nasceu o seu último livro, O desafio de Jerusalém, no qual descreve a sua viagem à Terra Santa. Entre os artistas convidados, também estava presente Amélie Nothomb, sem o seu habitual chapéu preto; a nostalgia da beleza, simbolizada pela sua infância passada no Japão, é uma constante nas suas obras. O clamor do homem que não se resigna à finitude é também evocado na obra de Alessandro Haber, que encena La signora del martedì, com Giuliana De Sio.
Silvia Guidi