· Cidade do Vaticano ·

Publicado o «Instrumentum laboris» do Sínodo

Uma Igreja que acolhe todos e não anula as diferenças

 Uma Igreja  que acolhe todos  e não anula as diferenças  POR-025
22 junho 2023

Foi publicado o documento orientador para os trabalhos da Assembleia geral de outubro de 2023 e de 2024 sobre o tema da sinodalidade. Dividido em duas partes principais, é fruto de contribuições das etapas diocesanas e continentais e relata a experiência das Igrejas em todo o mundo que sofrem com guerras, desigualdades, pobreza, feridas de abusos.

Cerca de 60 páginas com a experiência das Igrejas em todas as regiões do mundo que passam por guerras, mudanças climáticas, sistemas económicos que produzem «exploração, desigualdade e “descarte”». Igrejas cujos fiéis sofrem o martírio, em países onde são minorias ou onde se deparam «com uma secularização cada vez mais intensa e, às vezes, agressiva». Igrejas feridas por abusos «sexuais, de poder e de consciência, económicos e institucionais», feridas que precisam de respostas e de uma «conversão». Igrejas que abraçam os desafios, sem medo e sem tentar «resolvê-los a todo o custo», engajando-se no discernimento sinodal: «Somente desta forma as tensões podem tornar-se fontes de energia, sem cair em polarizações destrutivas».

A 20 de junho foi publicado o Instrumentum laboris, documento que servirá de base para o trabalho dos participantes no Sínodo sobre a sinodalidade, programado para começar em outubro de 2023 no Vaticano e acabar em 2024. Um ponto de partida, certamente não um ponto de chegada, o documento reúne a experiência das dioceses de todo o mundo nos últimos dois anos, a partir de 10 de outubro de 2021, quando Francisco deu início a um caminho para entender quais passos tomar «para crescer como Igreja sinodal».

Portanto, um documento para o discernimento “durante” a Assembleia geral, mas ao mesmo tempo de preparação “em vista” do encontro para os participantes e grupos sinodais: «O objetivo do processo sinodal», especifica, «não é produzir documentos, mas abrir horizontes de esperança».

Instrumentum laboris — apresentado na Sala de Imprensa do Vaticano — é composto por um texto e 15 fichas de trabalho que dão uma visão dinâmica do próprio conceito de “sinodalidade”. Mais detalhadamente, há duas “partes principais”: a parte a , na qual se destaca a experiência destes dois anos e o caminho a seguir para se tornar uma Igreja cada vez mais sinodal; a parte b — intitulada Comunhão, missão, participação — que destaca as “três questões prioritárias”, no centro do trabalho em outubro de 2023, ligadas aos três temas principais: crescer em comunhão, acolhendo todos, sem excluir ninguém; reconhecer e valorizar a contribuição de cada pessoa batizada em vista da missão; identificar estruturas e dinâmicas de governação por meio das quais articular ao longo do tempo  participação e autoridade numa Igreja sinodal missionária.

Enraizado neste contexto está «o desejo de uma Igreja cada vez mais sinodal também nas suas instituições, estruturas e procedimentos». Uma Igreja sinodal que é, acima de tudo, uma «Igreja da escuta» e, portanto, «deseja ser humilde e sabe que deve pedir perdão e que tem muito a aprender». «O rosto da Igreja hoje traz os sinais de graves crises de confiança e credibilidade», lê-se no Instrumentum laboris. «Em muitos contextos, as crises ligadas a abusos sexuais, económicos, de poder e de consciência levaram a Igreja a um exigente exame de consciência para que, sob a ação do Espírito Santo, não deixe de se renovar, num caminho de arrependimento e conversão que abre vias de reconciliação, cura e justiça».

Uma Igreja sinodal também é «uma Igreja de encontro e diálogo» com os crentes de outras religiões e de outras culturas e sociedades. É uma Igreja que «não tem medo da variedade», mas «valoriza-a sem a forçar à uniformidade». Sinodal é, então, a Igreja que se nutre incessantemente do mistério que celebra na liturgia, durante a qual «todos os dias faz experiência de radical unidade na mesma oração», mas na «diversidade» de línguas e ritos.

Outras passagens significativas dizem respeito à questão da autoridade («Ela situa-se na linha dos parâmetros de derivação mundana ou de serviço?», é uma das perguntas); a necessidade de uma «formação integral, inicial e permanente» para o Povo de Deus; o «esforço» para a renovação da linguagem usada na liturgia, na pregação, na catequese, na arte sacra, bem como em todas as formas de comunicação com os fiéis e com a opinião pública, também por meio de novos e antigos meios de comunicação. «A renovação da linguagem», afirma o texto, «deve ter como objetivo torná-la acessível e atraente para os homens e as mulheres do nosso tempo, sem representar um obstáculo que os mantenham distantes».

Salvatore Cernuzio


Su L'instrumentum Laboris Sinodo