· Cidade do Vaticano ·

O vínculo de amor
invisível aos olhos

 O vínculo de amor invisível aos olhos  POR-025
22 junho 2023

«Só se pode ver com o coração. O essencial é invisível aos olhos». Esta célebre frase do livro O Pequeno Príncipe descreve bem o que aconteceu após a hospitalização do Papa Francisco na Policlínica Gemelli, a 7 de junho. Nesses dias, antes do regresso ao Vaticano a 16 de junho, os fiéis não puderam encontrar-se publicamente com o bispo de Roma, mas isto não significa que o pastor e o povo estavam distantes um do outro. Aliás, nalguns aspetos — citando o próprio Antoine de Saint-Exupéry — o Papa Francisco e as pessoas que gostam dele estiveram ainda mais unidos graças à oração que brota do coração e que não precisa da visibilidade para se exprimir. Uma prece que é como “oxigénio da vida”, para retomar as palavras de uma das suas catequeses de novembro de 2020, durante o período obscuro da pandemia.

Olhando em retrospetiva para o que aconteceu, é significativo que, pouco antes da sua hospitalização, todos puderam observar o Papa que — no início da audiência geral na praça de São Pedro — se recolhia em oração diante das relíquias de Santa Teresa de Lisieux, de quem é muito devoto. Naquele momento as pessoas não sabiam que o Papa seria operado pouco depois, nem podiam saber pelo que Francisco rezava naqueles instantes. Portanto, mais uma vez “o essencial” era “invisível aos olhos”. Uma experiência e um ensinamento preciosos, ainda mais no mundo de hoje, onde parece que tudo deve ser mostrado, “revelado”, para ter valor.

A oração — recorda-nos o Papa — tem uma força invisível que muda até o sulco da história. Por isso, não se cansa de rezar (e de nos pedir que também nós o façamos) pela paz no mundo. Fê-lo inclusive nos dias de internamento no hospital. Onde quer que esteja, o seu pensamento vai sempre para lá: para o povo ucraniano, assim como para todos os povos que sofrem por causa da violência e da guerra. Rezar, testemunha-nos Francisco, é no fundo o ato mais eficaz que o cristão pode realizar, porque é um diálogo com o Senhor, pedido de escuta, proposta de ajuda. É falar com o coração ao maior Coração, que abraça cada um de nós.

Todos nos lembramos do “Boa noite” com que Jorge Mario Bergoglio se apresentou na varanda central da basílica de São Pedro, no dia 13 de março de há dez anos. Mas nem sempre nos lembramos que, pouco depois daquela saudação — tanto normal quanto perturbadora, nos lábios de um Papa recém-eleito — pediu para recitar o Pai-Nosso, a Ave-Maria e o Glória. Uma oração do pastor com o povo que, a partir daquele momento, nunca mais se interrompeu e que se torna mais intensa nos momentos de dificuldade e de sofrimento. “Orai por mim!”: há poucas semanas, numa entrevista à televisão “Telemundo”, Francisco explicou com uma imagem eficaz porque repete esta exortação com tanta frequência. «As pessoas — disse — não se dão conta do poder que têm quando rezam pelos seus pastores». E acrescentou que «qualquer pastor, quer seja um pároco, um bispo, é como se fosse defendido, couraçado com uma armadura, com a oração dos fiéis». Uma armadura de amor que não pesa, mas sustenta. Uma couraça invisível aos olhos, mas visível ao coração.

Alessandro Gisotti