O sentido de um magistério através de onze palavras

Com este artigo abrimos uma série de páginas especiais dedicadas às “sementes teológicas” do Papa Francisco.

Trata-se de uma forma não só de sublinhar a importância e a originalidade do alcance teológico do ensinamento de Francisco, mas também de abrir novas estradas de reflexão, novas ideias de investigação e de partilha. As primeiras histórias desta série tenderão a ser compostas por três elementos: entrevista a um teólogo, um excerto de um dos volumes da série “As sementes teológicas de Francisco”, publicada em 2018 pela editora San Paolo, e a contribuição de uma voz “externa”, inclusive não teológica, explicando o próprio ponto de vista sobre a questão. Este primeiro encontro é dedicado ao tema da carne. Não é por acaso: a carne é um tema central no Magistério de Bergoglio. Todos os mistérios do Credo cristão são reinterpretados pelo Papa à luz da carne de Cristo e dos seus irmãos. Por conseguinte, a carne não representa para Francisco um tema entre muitos outros, mas — como escreve Giovanni Cesare Pagazzi — «o ponto de vista a partir do qual se pode apreender todo o Evangelho, todo o depósito da fé». Para o Papa, os limites da carne estendem-se à criação: carne e corpo são também criaturas e o planeta que habitamos. Um conceito fortemente reiterado na Laudato si’. Palavras que ecoam ainda com mais força num mundo em crise como o nosso, marcado por guerras terríveis — muitas vezes ignoradas — pela miséria, solidão, exploração, discriminação, desigualdades. Saber acolher o outro significa, antes de mais, reconhecer a “sublime comunhão” que nos une a ele e que não passa pelo intelecto ou pela linguagem, mas pela carne.