· Cidade do Vaticano ·

O encontro do cardeal Parolin com um grupo de Prémios Nobel abriu o Meeting mundial sobre a fraternidade

Sinal de esperança

 Sinal de esperança  POR-024
15 junho 2023

Trinta prémios Nobel reunidos «para promover a paz e a justiça entre os povos»: um «sinal de esperança para o mundo», assim o definiu o cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado, ao abrir o encontro na manhã de 10 de junho, no Palácio romano da Cancelleria, dando início ao Meeting mundial sobre a fraternidade humana intitulado «Not alone» (#notalone), promovido pela Fundação Fratelli tutti.

Os vencedores do Prémio Nobel foram os primeiros dos cinco grupos de trabalho que se reuniram durante a manhã. À tarde, na Praça de São Pedro, teve lugar o evento final do Meeting, que foi transmitido em mundovisão pelos meios de comunicação do Vaticano e pela Rai 1 e difundido nas plataformas sociais da Fundação Fratelli tutti. Participaram personalidades da ciência, da cultura, da sociedade e das associações internacionais, bem como numerosos artistas, inclusive em ligação com oito praças em todo o mundo.

Dirigindo-se aos prémios Nobel, o secretário de Estado sublinhou que o encontro reúne «a riqueza das diferenças e das experiências, de que cada um é portador, para testemunhar o que une a nossa humanidade e nos permite reconhecermo-nos todos como irmãos, como ensina o Santo Padre Francisco com o seu magistério».

De facto, acrescentou, «agir num espírito de fraternidade é uma responsabilidade a que não se podem negar aqueles que são chamados a animar a cultura das relações internacionais». Com efeito, muitos prémios Nobel, através de «escolhas e gestos feitos em áreas de conflito, demonstram com o exemplo de vida que na interrupção do diálogo as relações se degeneram e que a fraternidade que une é mais forte do que a dor que divide». Muitos podem testemunhar «que tecer a paciente teia do diálogo é laborioso, muitas vezes tortuoso e não raro pouco gratificante», mas é o que há de mais «nobre para o bem da comunidade humana, tanto a nível local como internacional».

O purpurado sublinhou ainda que a procura de cooperação entre os países, «a afirmação da primazia do direito sobre a força, o compromisso com o desenvolvimento humano integral e com uma economia em consonância com as aspirações de justiça de todos os povos» constituem as múltiplas expressões de uma «dedicação que nos leva a trabalhar incansavelmente para que nenhuma mulher e nenhum homem da Terra possa ser ou sentir-se excluído da família humana».

Neste caminho árduo «mas inevitável», prosseguiu o cardeal Parolin, a encíclica Fratelli tutti ilumina, «apoiando-nos na intenção de dar os nossos passos em direção à amizade social entre os povos e à recomposição dos conflitos, a partir da força vital, e só aparentemente indefesa, do encontro e do diálogo».

Precisamente neste sentido, a experiência do encontro fraterno propõe-se «tomar-nos pela mão e levar-nos a compreender as posições daqueles que não pensam como nós», para depois abrir, em reciprocidade, «as portas à esperança de partilhar um rumo no qual a humanidade possa caminhar em conjunto, tendo o cuidado de medir o ritmo para que ninguém que procura um caminho comum fique para trás». Esta solicitude «solidária e subsidiária, muitas vezes silenciosa, parte da pessoa» para abraçar «a dimensão familiar, social e das nações, até chegar à comunidade internacional».

Noutras ocasiões, o secretário de Estado tinha reiterado que, provavelmente, não basta definir-se irmãos e fazer da amizade social um ideal a perseguir. Do mesmo modo, «as relações internacionais não esgotam o seu objetivo na paz entendida como ausência de guerra, nem na segurança, no desenvolvimento ou no respeito teórico dos direitos fundamentais». Embora a ação diplomática deva ser «reforçada no papel dos organismos multilaterais, e esta é, de facto, uma prioridade no atual horizonte internacional», sublinhou o purpurado, «considero que seja essencial, como primeiro passo, voltar ao significado que o Santo Padre reconhece à fraternidade», quando a propõe como o «fundamento efetivo que está no coração das agendas internacionais». O cardeal referiu-se à vocação universal que se realiza «em termos concretos a partir de cada um». Eis o cerne da motivação: «o apelo ao compromisso de uma proximidade a cultivar na primeira pessoa, tornando-se testemunhas dela nos diversos terrenos da vida, como sementes que lentamente crescem, brotam e dão frutos juntos, mesmo que lá fora as estações de aridez continuem a alternar-se com furacões e tempestades».

Hoje, mais do que ontem, observou o secretário de Estado, «no mundo acelerado e complexo em que vivemos, tão globalizado quanto poluído», tudo está «interligado e interdependente, e esta é mais uma razão para nos confrontarmos, alargarmos o nosso olhar e unirmos forças». «Exige isto causa da paz, a urgência de um desenvolvimento menos injusto e mais integral, a casa que todos habitamos». Todas as crises que o mundo atravessa hoje, com efeito, «quer sejam geopolíticas, laborais, climáticas ou sociais», estão unidas pela «necessidade de cooperar para o bem comum, construindo relações, regras e instituições capazes de olhar para além dos interesses individuais». Elas «postulam, por assim dizer, uma “ecologia da fraternidade humana”».

Por fim, dirigindo-se aos prémios Nobel, o cardeal Parolin frisou que a sua história e o seu empenho testemunham que isto é possível. Confirmando ao mundo, de muitas e variadas maneiras, que «ninguém se salva sozinho», como afirmou o Papa Francisco na encíclica Fratelli tutti. A sua presença no encontro deixa claro que «a resignação ao egoísmo, tanto pessoal como sistémico, pode e deve ser superada». O secretário de Estado concluiu fazendo votos de que em cada uma das línguas representadas o encontro «faça ecoar o som da palavra esperança». Uma esperança da qual o mundo «tem sede, uma esperança que seja concreta, uma esperança que seja “audaz”».