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Francisco convidado do programa “À Sua imagem” transmitido a 4 de junho na Rai 1

Francisco convidado do programa “À Sua imagem” transmitido a 4 de junho na Rai 1

 Francisco convidado do programa  “À Sua imagem” transmitido a 4 de junho na Rai 1  POR-023
07 junho 2023

«Éuma história tão antiga como a humanidade: com a paz ganha-se sempre, talvez pouco mas ganha-se, com a guerra perde-se tudo. Tudo! E os chamados ganhos são perdas». Nos estúdios da rai de Saxa Rubra, convidado do programa dominical À Sua imagem, Francisco reverberou o apelo de Pio xii na sua mensagem radiofónica aos governantes em 1939, quando, nas vésperas da Segunda Guerra Mundial, afirmou: «Nada se perde com a paz. Tudo se pode perder com a guerra». Francisco fez sua esta advertência, pensando no conflito na Ucrânia que fere a Europa, mas também em todas as guerras e violências que marcam o mundo. Há um «prazer em torturar», observou a propósito: «Vemos isso na guerra, nos filmes de guerra, o prazer.... E muitos soldados, aqueles que lá trabalham a torturar os soldados ucranianos. Eu vi os filmes. E isto acontece por vezes com os jovens».

Primeira vez em Saxa Rubra

A guerra foi um dos muitos temas a que Francisco dedicou uma reflexão durante o programa de aprofundamento religioso da Rai 1, do qual sempre se disse espetador. Uma conversa — a primeira vez de um Papa num estúdio da rai — conduzida pela apresentadora Lorena Bianchetti e acompanhada por intervenções do padre Marco Pozza, capelão da prisão Due Palazzi de Pádua, da irmã Agnese Rondi, religiosa do Cottolengo, e outros convidados. A transmissão, um episódio especial de A Força da Vida, foi gravada no dia 27 de maio.

O papel dos meios
de comunicação

Entre ligações exteriores, excertos de histórias de vida, testemunhos em direto, mantendo o format tradicional do programa, o Papa Francisco revelou que nunca esteve num estúdio de televisão nem viu demasiada televisão: «Vou contar-vos um segredo, quando eu era jovem ainda não havia televisão», diz, em tom de gracejo, a Lorena Bianchetti. Em seguida, falou do papel que a informação deve desempenhar no atual cenário mundial: «Os meios de comunicação social devem ajudar as pessoas a encontrarem-se, a compreenderem-se, a fazerem amigos e a afastarem os diabinhos que arruínam a vida das pessoas. Isto é positividade, não é só falar de religião. Pode-se fazer sim, falar de Deus... mas preservar a humanidade, o humanismo».

O Jubileu, ocasião de perdão

Na entrevista, foi dado espaço aos grandes acontecimentos da Igreja, como o Jubileu de 2025, uma ocasião «para nos aproximarmos todos uns dos outros, de Deus, para resolver os problemas, para perdoar» («Uma das coisas mais bonitas nas pessoas é o perdão», afirmou, ou as recordações pessoais, como a da sua avó Rosa, a primeira que lhe ensinou o amor a Nossa Senhora: «Ela falava-me de São José e de Nossa Senhora, mas sempre com Jesus no centro».

Aparições marianas

A centralidade de Cristo é também importante, sublinhou o Papa, para discernir a veracidade das aparições marianas. As aparições «não as procureis, porque é um instrumento de devoção mariana que nem sempre é verdadeiro», advertiu. «Houve aparições verdadeiras de Nossa Senhora, mas sempre com o dedo assim, na direção de Jesus. Nunca Nossa Senhora atraiu para si. Quando a devoção mariana está demasiado centrada em si mesma, não é bom. Tanto na devoção como nas pessoas que a praticam».

A gratuidade de Deus

Entre os vários vídeos transmitidos durante o episódio, o de Fausto Desalu, 29 anos, campeão olímpico de estafetas com a Itália, que conta a sua história de renascimento. O jovem ligou-se com o estúdio e perguntou ao Papa: «Tudo bem?». «Ainda estou vivo», respondeu o Papa, com o habitual tom de gracejo. A história pessoal do jovem ofereceu ao Papa a ocasião para falar da gratuidade: «O Senhor foi tão bom para nós que nos habituou a ter o sentido da gratuidade. E nós queremos tudo de graça. A gratuidade é uma coisa muito grande de Deus, mas devemos dar algo de nós... Ninguém pode dar livremente se não tiver experimentado essa gratuidade».

O “complexo do pavão”

Contra esta atitude de gratuidade, existe o “complexo do pavão”: «Não sei se esta categoria existe na psicologia, mas eu chamo-lhe “complexo do pavão”, aquele que não se comporta como um pavão sente-se pequeno. E há aquele homem, aquela mulher que vai trabalhar, capaz de comprar uma casa, de constituir uma família. Ninguém é um pavão em relação a eles! Mas aqueles que são um pouco superficiais caem na tentação do pavão, tentam aparecer, fingir...». «Não é assim, disse o Papa, a vida é para viver, não para fazer maquiagem».

O abraço aos pais
da pequena Angelica
que faleceu no Hospital Gemelli

Do Papa também uma reflexão sobre o sofrimento. O Senhor, diz, citando o Génesis, «não quer que soframos, mas a harmonia do refazer... Com isto, o Senhor colocou-nos como protagonistas no progresso do destino. Se tivermos a oportunidade de ter tudo, perdemos a graça de ser cocriadores, de constituir família, de ter filhos, de herdar a sabedoria dos idosos, mas este é o trabalho. O trabalho é o centro da humanidade».

A propósito de dor, durante o programa, Matteo e Serena, os pais da pequena Angelica, a menina de 5 anos gravemente doente que faleceu na véspera da alta do Papa da Policlínica Gemelli, entraram de surpresa. Francisco encontrou-se com eles diante do hospital e o abraço do Papa à mãe em lágrimas deu a volta ao mundo. Perante estas histórias, o Papa recordou a importância da «ternura» e do «acompanhamento da dor»: «Também eu fui acompanhado no momento da dor. Aprendi uma coisa, quando tive aquela doença aos 21 anos, arrisquei morrer: perante a dor só os gestos, as palavras não servem para nada... Não há palavras para a dor, só gestos e silêncio».

Educar para a mansidão

Depois ao Papa foi contada a história de Diana Ghini, de 19 anos, vítima de bullying devido à sua forma física e também por causa da sua irmã, que tem uma deficiência grave. «A maldade é uma das possibilidades da pessoa», comentou o Papa. Os jovens que praticam o bullying «parecem ser vencedores», mas «é uma vitória falsa, porque é uma vitória sobre a agressão, sobre a dor dos outros. A verdadeira vitória é harmoniosa, não é agressiva, é mansa. A verdadeira palavra é mansidão. Hoje não se educa muito para a mansidão, porque se tem a impressão que ser manso é — desculpai a palavra — ser estúpido».

Também ele, Jorge Mario Bergoglio, recebeu palavras que o magoaram: «Como jovem, como criança...». Reagiu inicialmente «engolindo o sapo», depois «dizendo, dizem isto, mas eu mereço-o por isto, isso e aquilo, e aceitando-o como uma palavra que me faz justiça dentro».

Mensagem aos pais
e aos professores

O Papa reiterou o que é «o estilo» de Deus: «proximidade, compaixão e ternura». Isto deve ser ensinado às crianças: «Não há saída: ou escolhemos o caminho do amor, da ternura, ou escolhemos o caminho da indiferença». Mas atenção, disse aos pais: «É preciso educar até aos limites. Se fizerdes crescer um menino, uma menina, uma criança sem limites, estais a fazer o mal. Eles precisam de carinho, de amor, mas também do não do amor. Não aos caprichos». O mesmo se aplica aos professores: «Um professor nunca seduz, ele atrai, faz-nos sentir bem e impõe limites. Um mestre que só dá doces não é bom. Um mestre é aquele que te ajuda a caminhar, mas te diz o limite e te repreende. E um pai e uma mãe que não repreendem um filho, algo não funciona».

Salvatore Cernuzio