· Cidade do Vaticano ·

O Pontífice concluiu o encontro sobre “Cidades ecoeducativas” promovido por Scholas Occurrentes

Uma educação que respeite
a autenticidade de cada um

 Uma educação  que respeite a autenticidade de cada um  POR-022
01 junho 2023

Bullying, “comercialização” do amor, relação com os idosos, carências na educação. Foram alguns dos temas abordados pelo Papa Francisco numa ligação com jovens dos vários continentes, no encerramento do encontro “Cidades ecoeducativas”, promovido pelo movimento internacional Scholas Occurrentes e pelo Banco de Desenvolvimento da América Latina (Caf). O encontro, que contou com a presença de 50 presidentes de câmaras municipais provenientes da América do Sul e de Portugal, teve lugar na tarde de 25 de maio, no Instituto Agostinianum de Roma. Foi a etapa conclusiva do primeiro congresso mundial das “Cidades ecoeducativas”, que teve início no dia 23 e que se destinava também a celebrar o décimo aniversário do lançamento mundial do projeto educativo global concebido pelo Papa.

Entre as várias ligações, destaca-se aquela com um lar de idosos de Granada, Espanha — onde Scholas promove o programa “Estar juntos”, em resposta ao apelo do Pontífice à unidade intergeracional — mas também com jovens da Argentina, dos Estados Unidos, do México e da Amazónia colombiana. Neste contexto, o Papa Bergoglio formulou a pergunta: quantas crianças, atualmente, não têm acesso à educação? E muitas vezes, observou com amargura, acabam na “comercialização” do amor. Mas o amor não deve ser comercializado e as crianças não devem ser usadas, foi a sua advertência. Em resposta à pergunta de um jovem mexicano sobre a violência sexual e o sistema educativo, Francisco sublinhou que a educação «é um dever da sociedade e dos pais», os quais devem preparar os jovens para saberem «o que é o amor na vida». O Pontífice denunciou os danos causados pela pornografia, que por vezes substitui a educação e influencia a forma como os jovens se relacionam afetiva e sexualmente.

Numa ligação vídeo com o México, Francisco falou do pacto global para a educação, lançado em 2020, apelando às falhas ou limites do sistema, como o abandono escolar ou a falta de acesso à educação, considerados um peso para a sociedade.

Quando uma jovem argentina lhe perguntou se tenciona fazer a sua primeira viagem à terra natal, o Papa respondeu que a sua ideia seria ir lá no próximo ano, se for possível.

Em ligação com a Colômbia, a primeira-dama do país, Verónica Alcocer, enviou uma mensagem ao Papa: «Estamos convencidos de que, através da arte e da cultura, lançaremos sementes que contribuirão para a paz».

De Puerto Nariño, na Amazónia colombiana, o presidente da câmara local, Alirio Vásquez, pediu ao Pontífice que abençoasse um cinema de madeira, um espaço que faz parte do projeto educativo de Scholas. A beleza que nos salvará é a poesia da criação, aquele facto poético que Deus nos deu e do qual devemos cuidar, comentou Francisco.

De Miami, María e Camila, duas voluntárias de Scholas, convidaram-no a falar sobre o problema da violência, em particular sobre o bullying. Quando a maneira de ser do outro não é respeitada, disse o Papa Bergoglio, é muito grave e destrói vidas. Cada um tem o dever de ser autêntico e o direito de ver respeitada essa autenticidade. Este é o grande caminho a percorrer.

Francisco também respondeu a uma pergunta sobre a questão das armas nos Estados Unidos da América, sublinhando que é necessário identificar as causas do problema. Não se sai de uma crise sozinho, observou, mas sai-se acompanhado. E não se sai de uma crise da mesma maneira, sai-se melhor ou pior.

Foram muitos os dons oferecidos ao Papa: estatuetas de cerâmica, livros, quadros, artesanato, até uma t-shirt número 10 com as cores branco e azul da equipa de futebol de Nápoles, que foi entregue pelo presidente do clube campeão italiano, Aurelio De Laurentiis, que recordou ao Pontífice que a t-shirt com o número 10 foi usada pela inesquecível estrela argentina Diego Armando Maradona. De Laurentiis ofereceu também ao Pontífice uma pequena reprodução de um pé de ouro, em memória do pibe de oro.

Outra prenda, uma escultura em bronze que representa as raízes de uma árvore, deu a Bergoglio a oportunidade de falar do diálogo entre gerações e de quando costumava passar manhãs inteiras com os seus avós. Lembrou-se de ter tido a graça de os ver vivos durante muito tempo. «Somos migrantes, disse, e os meus avós paternos viviam a poucos metros de casa. A minha avó levava-me à sua casa para que a minha mãe pudesse trabalhar com o segundo filho e preparar os outros três. Somos cinco». O pequeno Jorge Mario passava o tempo com os avós, escutando a sua língua, aprendendo: com eles tinha diálogos profundos e foi assim que aprendeu os valores quando era criança.

Referindo-se ainda às suas raízes, o Pontífice disse que uma sociedade se arruína quando a união entre a raiz e o tronco se rompe, quando seca se não receber a seiva das raízes. Os jovens em particular, acrescentou, não podem sonhar sem as raízes.

Fez um forte convite a não abandonar os idosos e a não os deixar morrer no isolamento. A este propósito, Francisco recordou que, quando era bispo, costumava visitar lares de idosos e as enfermeiras contavam-lhe casos de pessoas idosas cujos familiares não as visitavam durante meses. A relação entre idosos e jovens é natural, disse o Papa, e uma sociedade que não cuida desta relação torna-se ideologizada, sectarista. Há alguns setores da sociedade que escondem os idosos, quando só há que aprender com a sua “sabedoria”. Eis então o apelo dirigido aos jovens: «Não percais a ilusão», porque os idosos devem ser preservados, têm sabedoria para dizer e para dar, e é preciso aproximar-se deles.