· Cidade do Vaticano ·

O Pontífice ao capítulo geral da “congregação samaritana” das Pequenas irmãs missionárias da caridade

Como Dom Orione, unidas
a Jesus e com «as mãos na massa» no serviço criativo

 Como Dom Orione, unidas a Jesus  e com «as mãos na massa» no serviço criativo  POR-022
01 junho 2023

«Unidas a Jesus, próximas aos irmãos e ativas no serviço»: as indicações de Dom Luís Orione às Pequenas irmãs missionárias da caridade, foram recordadas pelo Papa Francisco às religiosas participantes no 13º capítulo geral da congregação, recebidas em audiência na manhã de 25 de maio, na Sala Clementina.

Queridas irmãs
bom dia e bem-vindas!

Encontro-me convosco neste momento significativo para a vossa Congregação, que é o Capítulo Geral, um tempo forte de diálogo entre vós e com o Espírito Santo, do qual saireis renovadas, no coração antes do que nas iniciativas e estruturas.

Quando São Luís Orione fundou a vossa primeira comunidade, deu-vos como missão «fazer experimentar [às pessoas] a Providência de Deus e a maternidade da Igreja». Ou seja, chamou-vos a encarnar a ação misericordiosa de Deus e da Igreja num espírito materno. Para isso, indicou três caminhos fundamentais: estar unidas a Jesus, próximas dos irmãos e ativas no serviço. Vejamo-los juntos.

Estar unidas a Jesus. São Luís Orione fundou a vossa Congregação — juntamente com os Filhos da Divina Providência, as Irmãs Sacramentinas Adoradoras Cegas e as Irmãs Contemplativas de Jesus Crucificado — sob a insígnia do lema paulino Instaurare omnia in Christo: «Reconduzir todas as coisas a Cristo, a única Cabeça» (Ef 1, 10). Portanto, é claro que a união com Cristo para vós deve ser a raiz de toda a atividade. O Concílio Vaticano ii recordou-nos isto como um valor fundamental para todos os religiosos, dizendo que eles tanto mais enriquecem o apostolado e a vitalidade da Igreja quanto mais fervorosamente vivem unidos a Cristo (cf. Perfectae caritatis, 1), como os primeiros discípulos. Por conseguinte, não se trata de cultivar intimismos esfumados e estéreis na vida espiritual e apostólica, nem de nos tornarmos “eficientes executivos de empresa” na gestão das obras. Trata-se, ao contrário, de fazer nosso o estilo de vida de Jesus, deixando-o agir em nós sempre mais, abandonando-nos a Ele, a ponto de poder dizer como São Paulo: «Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim» (Gl 2, 20); e ainda: «Caritas Christi urget nos», «O amor de Cristo nos constrange» (cf. 2 Cor 5, 14). Dom Orione estava consciente desta realidade quando afirmava que «para conquistar Deus e alcançar os outros é preciso primeiro viver uma intensa vida de Deus em nós»,1 uma fé que arde dentro e resplandece à nossa volta. Por isso, deixai-vos conquistar sempre primeiro pelo Senhor, pela sua presença viva na Eucaristia, na sua Palavra, em vós mesmos através do Espírito Santo. Lembrai-vos que, como mães, o maior dom que podeis dar aos filhos que Deus vos confia é transmitir-lhes o vosso amor terno e apaixonado por Jesus, ensiná-los a amá-lo e a conhecê-lo como vós o conheceis e o amais, e torná-los participantes da vossa fé n’Ele.

A segunda indicação deixada por Dom Orione é a de estar próximas dos irmãos. Porque o próprio Jesus nos disse: «Tudo o que fizestes a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim que o fizestes» (Mt 25, 40). Então, também o vosso serviço pode ser vivido como um encontro com Ele, animadas pelo mesmo amor. É Ele que se faz pobre e pequeno nos pobres e pequenos; é Ele que vos pede calor e proteção neles. Por isso, tende sempre, entre vós e para com os outros, um sentido de ternura materna, nunca de frieza. E se por vezes esta doença do coração se faz sentir, expulsai-a imediatamente, com pensamentos, palavras e gestos de acolhimento e de gentileza! Sabemos que um pedaço de pão partilhado com um sorriso é melhor do que um prato requintado, mas temperado com frieza e insípido de amor. Que as vossas casas e os vossos lugares de serviço estejam cheios de calor materno! Como dizia Dom Orione: que todos sejam aquecidos e iluminados pela «chama que arde no vosso coração e pela luz do vosso fogo interior».2

Enfim, São Luís Orione ensinou-vos a “trabalhar com afinco”, a não poupar esforços para servir os mais necessitados. Servir «os pobres, os pequenos, os aflitos por qualquer mal e dor», com as «mangas arregaçadas», como boas mães, com compaixão, criatividade e fantasia, na caridade.3 Uma mãe nunca desiste perante as necessidades dos seus filhos: nunca lhes deixa faltar atenção, surpresas, ternura e até as necessárias repreensões; consegue inventar soluções e remédios inesperados, até perante situações difíceis ou a incompreensão dos outros: é porque uma mãe ama, e o amor torna livres e criativos! Além disso, é sobretudo isso que faz com que os filhos se sintam “em casa”, seguras, aceites para além das suas capacidades, realizações, condições sociais, origem e filiação religiosa, porque uma mãe ama todos, não faz diferenças. É assim que Cristo ama, é assim que a Mãe Igreja ama, e é assim que eu desejo que também vós saibais amar, com esta maternidade doméstica, com um coração generoso e com “as mãos na massa”! Deste modo, dareis alegria e esperança a muitos, e um exemplo concreto de vida sadia, precioso sobretudo para os jovens, muitas vezes desorientados por modelos existenciais frágeis e vazios.

Vós definis a vós mesmas, por vocação, uma “congregação samaritana”: e quem mais do que uma mãe é “samaritana” para os seus filhos? Ela vê, ou até sente as suas feridas, pára, cura-as e, por fim, deixa-os seguir o seu caminho. Exorto-vos a amar deste modo, como fez São Luís Orione, como mães na caridade. Abençoo-vos de coração. E peço-vos que não vos esqueçais de rezar por mim.


1 O Espírito de Dom Orione, vol. vi, x Esperança, 10, “Silêncio e união com Deus”

2 Ibid.

3 Cf. Plano e Programa da Pequena Obra, n. 3.