Companheiras de viagem
Ser «companheiras de viagem» das «numerosas mulheres que no mundo sofrem injustiça, abandono, discriminação, pobreza»: eis a missão confiada pelo Papa Francisco às participantes na assembleia geral da Unión Mundial de Organizaciones Femeninas Católicas (Umofc), que se realiza em Assis de 14 a 20 de maio. O Pontífice recebeu-as em audiência na véspera do início dos trabalhos na sala Paulo vi , e nessa ocasião dirigiu-lhes o seguinte discurso.
Dou-vos as boas-vindas, a vós e a quantas seguem a transmissão à distância, mulheres que fazem parte da Unión Mundial de Organizaciones Femeninas Católicas, vindas de diferentes partes do mundo com os vossos familiares, para vos imbuirdes do espírito eclesial e poder regressar com maior entusiasmo aos vossos lugares de proveniência. Dirijo a todas vós as minhas mais cordiais saudações. Agradeço-vos as intervenções que me precederam e que apresentaram o vosso trabalho e as iniciativas que levais a cabo. Obrigado!
Com a vossa presença aqui, tencionais preparar-vos para participar na Assembleia Geral que tereis em Assis na próxima semana. Todas vós podereis fazê-lo acompanhando as delegadas com a oração, para que se deixem iluminar pelo Espírito e a fim de que seja uma ocasião para renovar o vosso impulso missionário, seguindo os princípios originais que impeliram as fundadoras da Unión e, ao mesmo tempo, olhar para o futuro com os olhos e o coração abertos para o mundo, a fim de escutar o lamento de tantas mulheres que no mundo sofrem injustiça, abandono, discriminação, pobreza ou tratamento desumano desde crianças em alguns processos. O Observatório Mundial das Mulheres, que encetastes, dar-vos-á indicações para identificar as necessidades e assim poderdes ser “samaritanas”, companheiras de viagem, que infundem esperança e serenidade nos corações, ajudando e levando outros a ajudar a aliviar as muitas necessidades corporais e espirituais da humanidade.
Hoje é urgente encontrar a paz no mundo, uma paz que começa sobretudo no coração, um coração doente, dilacerado pela divisão do ódio e do rancor. Além da paz, também a identidade antropológica da mulher está em perigo, pois é usada como instrumento, como objeto de disputas políticas e ideologias culturais que ignoram a beleza com que foi criada. É necessário valorizar mais as suas capacidades de relação e de doação, e que os homens compreendam melhor a riqueza da reciprocidade que recebem das mulheres, para recuperar os elementos antropológicos que distinguem a identidade humana e, com ela, a da mulher e o seu papel na família e na sociedade, onde não deixa de ser um coração pulsante. E se quisermos saber o que é a humanidade sem a mulher, o que é o homem sem a mulher, temo-la na primeira página da Bíblia: a solidão. O homem sem a mulher permanece sozinho. A humanidade sem a mulher permanece sozinha. Uma cultura sem a mulher permanece sozinha. Onde não há mulher, há solidão, solidão árida que gera tristeza e todo o tipo de dano para a humanidade. Onde não há mulher, há solidão!
Hoje, dia em que se comemoram as aparições da Virgem Maria aos pastorinhos de Fátima — e também hoje estou muito triste, porque no país onde a Virgem apareceu se promulga uma lei para matar, mais um passo na longa lista de países com a eutanásia — hoje então, pensando na Virgem, olhemos para Maria como modelo de mulher por excelência, que vive plenamente um dom e uma tarefa: o dom da “maternidade” e a tarefa de “cuidar” dos seus filhos na Igreja. Também vós, como mulheres, possuís este dom e esta tarefa, em todos os âmbitos onde estais presentes, sabendo que sem vós estes âmbitos permanecem sozinhos. Não é bom para o homem estar sozinho, eis porquê a mulher. Maria ensina-vos a gerar vida e a protegê-la sempre, relacionando-vos com os outros a partir da ternura e da compaixão, e combinando três linguagens: da mente, do coração e das mãos, que devem ser coordenadas. O que a cabeça pensa, que o coração sinta e as mãos façam; o que o coração sente esteja em harmonia com o que se pensa na cabeça e com o que as mãos fazem; o que as mãos fazem esteja em harmonia com o que se sente e com o que se pensa. Como eu já disse noutras ocasiões, acredito que as mulheres têm esta capacidade de pensar o que sentem, de sentir o que pensam e fazem, e de fazer o que sentem e pensam. Encorajo-vos a continuar a oferecer esta sensibilidade ao serviço dos outros!
Voltando a Fátima, no meio do silêncio e da solidão dos campos, uma mulher boa e cheia de luz encontrou algumas crianças pobres e simples. Como em todas as grandes coisas que Deus faz, a pobreza e a humildade distinguem a cena. Naqueles pastorinhos, estamos representados também nós — toda a humanidade — frágeis e pequeninos, e até poderíamos dizer um pouco desorientados e assustados perante os acontecimentos que ocorrem na vida e que às vezes não conseguimos compreender, porque tais eventos nos superam e nos põem em crise.
Neste contexto, marcado pela debilidade, devemos perguntar-nos: o que fortaleceu Maria? O que foi que deu força aos pastorinhos para fazer o que Ela lhes pediu? Qual foi o segredo que transformou aquelas pessoas frágeis e pequeninas em autênticas testemunhas da alegria do Evangelho? Queridas irmãs, o segredo de cada discipulado e da disponibilidade para a missão consiste em cultivar esta união, uma união a partir de dentro com o “doce hóspede da alma” que nos acompanha sempre: o amor a Deus e o permanecer unidos a Ele, como os ramos à videira (cf. Jo 15, 1-11), para viver — como Maria — a plenitude do ser mulher com a consciência de se sentir escolhida e protagonista da obra salvífica de Deus.
Mas só isso não é suficiente! Esta união interior com Jesus deve manifestar-se exteriormente, deve manifestar-se permanecendo em comunhão com a Igreja, com a minha família ou com a minha organização, que me ajudam a amadurecer na fé. É isto que dá valor a todas as iniciativas que levamos em frente. Devemos “rezar” as obras e “realizar” a oração. Deste modo, estaremos em sintonia com a missão de toda a Igreja. Também esta é a essência da sinodalidade, que nos faz sentir protagonistas e corresponsáveis pelo “bem-estar” da Igreja, para saber integrar as diferenças e trabalhar em harmonia eclesial.
Agradeço-vos tudo o que fazeis e encorajo-vos a progredir com entusiasmo nos vossos projetos e atividades a favor da evangelização, seguindo a voz interior do Espírito, dóceis às sensibilidades interiores. Que Jesus vos abençoe e que a Virgem ampare tanto vós como as vossas famílias. Rezo pelos frutos da Assembleia, falai com clareza, debatei, discuti um pouco, porque faz bem, porque vos faz ir em frente. E peço-vos, por favor, que continueis a acompanhar-me com as vossas preces. Obrigado!