A esperança, a felicidade
Ocinzento é o oposto do verde. Não só e não tanto porque o cinzento é a cor do cimento e do asfalto, enquanto o verde é a natureza, a relva, as árvores... mas porque o verde é a cor da esperança, enquanto uma existência cinzenta é marcada pela monotonia, tristeza, resignação. O verde foi a cor com que o Papa Francisco “coloriu” os Estados gerais da natalidade, dos quais se elevou um clamor pela condição em que se encontra a Itália, em relação à “questão” dos nascimentos. Se um dado se torna uma questão, se nascem instituições para seguir um fenómeno, quer dizer que as coisas não correm bem e que já estamos atrasados. Com efeito, esperança é a palavra, que lhe é muito cara, que o Papa quis “recomendar” a todos os participantes porque, afirmou: «O desafio da natalidade é questão de esperança».
Qualquer crise política, social, económica é sempre, sobretudo, uma crise espiritual. Por isso, sem dúvida, a política poderá, deverá encontrar as medidas adequadas para procurar inverter a tendência e transformar o atual inverno numa primavera demográfica, mas o cerne do problema é indicado pelo Papa, passar do cinzento para o verde, transformar a tristeza e a solidão em solidariedade e esperança. Uma esperança que, admoestou o Papa, «não é, como muitas vezes se pensa, otimismo, não é um vago sentimento positivo sobre o futuro... Não é uma ilusão, nem uma emoção que se sente, não; é uma virtude concreta, uma atitude de vida. E tem a ver com escolhas concretas. A esperança alimenta-se do compromisso de cada um com o bem, cresce quando sentimos que participamos e nos empenhamos para dar sentido à vida, nossa e dos outros».
A esperança tem a ver com os outros e com o seu destino. Um pouco como a felicidade, segundo a linda definição do bispo americano Fulton Sheen: «A felicidade não se obtém esforçando-se freneticamente na sua busca, mas vem como uma surpresa ao encontro de quem está concentrado em fazer os outros felizes».
Além da esperança, a felicidade foi a outra palavra que o Papa quis recomendar no discurso, convidando a política a estar à altura do desejo que o coração das pessoas alberga, um desejo cujo “nível” nunca deve ser diminuído «contentando-se com substitutos privados e medíocres». Limitar o horizonte vital a uma vida de “substitutos” entristece-nos, separa-nos do nosso desejo de felicidade, e «quando estamos tristes, cinzentos, defendemo-nos, fechamo-nos e vemos tudo como uma ameaça. Por isso, a natalidade e o acolhimento nunca devem ser opostos, pois são duas faces da mesma moeda, revelam-nos o grau de felicidade que há na sociedade. Uma comunidade feliz desenvolve naturalmente os desejos de gerar, integrar, acolher, ao passo que uma sociedade infeliz se reduz a uma soma de indivíduos que procuram defender a todo o custo o que têm. E muitas vezes esquecem-se de sorrir!».
As palavras do Papa abrem aos políticos uma bifurcação específica, pedindo-lhes que prestem contas em relação a uma visão da sociedade: por um lado, uma “soma de indivíduos”, por outro, um povo composto por pessoas. Mas, sem perturbar toda a tradição do personalismo cristão, é clara a diferença entre a pessoa, que é uma rede de relações, e o indivíduo, que ao contrário é distinto, separado, isolado. Nisto consiste a responsabilidade dos políticos que, no respeitante ao tema específico da crise da natalidade, devem recordar-se sempre da distinção que De Gasperi fazia entre o político e o estadista, o primeiro ocupado em pensar nas próximas eleições, o segundo nas gerações vindouras.
Andrea Monda