«Relevância e escuta: comunicar a mensagem cristã na pluralidade das vozes contemporâneas» foi o tema do 13º Seminário profissional sobre os departamentos de comunicação da Igreja, organizado pela Faculdade de comunicação institucional da Pontifícia Universidade da Santa Cruz, de 2 a 4 de maio. Publicamos excertos do discurso do prefeito do Dicastério para a comunicação, Paolo Ruffini, que interveio numa sessão do seminário, na qual participaram também monsenhor Lucio Adrián Ruiz, secretário do mesmo Dicastério, Andrea Tornielli, diretor editorial, Nataša Govekar, diretora teológico-pastoral, Andrea Monda, diretor de «L’Osservatore Romano», e Matteo Bruni, diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé.
Gostaria de fazer do meu pronunciamento uma premissa, baseando-me no título que me sugeristes. Um título que parece quase uma contradição e que, pelo contrário, é o coração do magistério do Papa Francisco sobre sinodalidade e comunicação. O papel do Dicastério para a comunicação no processo de escuta sinodal. Portanto, não no processo de anúncio, não no processo de explicação, de algo que vem do centro, de Roma. Exatamente o contrário. O papel do Dicastério para a comunicação é escutar o que vem do mundo. A criatividade comunicativa — se quisermos chamá-la assim — do Dicastério para a comunicação não está tanto em transmitir uma mensagem (o que outros definiriam marketing), mas em tecer uma rede criativa de algo bom (para a Igreja e para o mundo) que vem da escuta do que o Espírito diz à Igreja. A importância da comunicação não consiste tanto em “informar sobre o sínodo” como em “formar-nos para a sinodalidade”: para construir, através da comunicação nos dois sentidos, a comunhão sinodal de um povo que comunica através do seu caminho. Um povo que é criativo precisamente porque caminha junto, não por causa da brilhante invenção de um indivíduo. Escutar com o coração e falar com o coração (as duas últimas mensagens do Papa Francisco) estão na base deste modo diferente de entender a comunicação institucional. E, precisamente por isso, são dirigidas não só aos profissionais, mas a todos. Para que todos levem a sério o exercício da comunicação construtiva. Para que todos compreendam o significado desta chamada a ser Igreja e a testemunhá-la na comunicação do que somos, única forma de tornar credível o que dizemos. Por isso, só por isso, podemos ser reconhecidos. [...] Não há comunicação se não houver comunhão. E não há comunhão se não houver comunicação. Portanto, a sinodalidade não pode e não deve reduzir-se a uma lista de coisas a fazer, de papéis a distribuir, de funções a desempenhar, privadas do que de mais belo nos move: do Espírito que nos une, do amor que nos torna um só.
[...] Neste sentido, podemos dizer que o Dicastério procurou não evitar a chamada radical à conversão, à mudança que o Sínodo expressa. E fazer disto o caráter distintivo do seu trabalho: criar uma infraestrutura de relações virtuosas entre as pessoas; construir juntos uma Igreja atrativa, concreta, inclusiva, à escuta, em saída; onde é fácil entrar e ser parte. O Dicastério para a comunicação serve também para isso. Convocar homens e mulheres de boa vontade para caminhar juntos. Fazer com que esta chamada radical passe de voz em voz. Isto é o Sínodo! E o momento é propício. Mesmo que Babel pareça o ícone da nossa época. Talvez precisamente por isso.
[...] «Como encontrar uma comunicação verdadeira e autêntica na Babel de hoje, na qual as palavras, os gestos, os sinais percorrem os caminhos certos, são captados e compreendidos, recebem ressonância e simpatia?». É uma pergunta que nos ajudou, como comunicadores, a construir uma comunicação intrinsecamente sinodal. [...] Numa época em que a desintermediação e as redes sociais transformaram radicalmente a relação entre instituições e pessoas, o nosso trabalho consiste em procurar testemunhar a beleza de ser comunidade a caminho, unida no Senhor; procurar testemunhar uma forma diferente de fazer comunicação e de fazer jornalismo. Outro modo de estar nas redes sociais. Uma maneira diferente de fazer formação numa perspetiva sinodal. Exercitamos a nossa criatividade para ir ao encontro das pessoas onde elas vivem, encontrando oportunidades de escuta, de diálogo e de encontro. Tecendo na comunhão um sistema de comunicação diferente de qualquer outro.
[...] Comunicar o Sínodo foi e é para nós oferecer-nos como instrumento de comunicação, testemunhando o nosso ser um só, um edifício de pedras vivas que encontra em Pedro a sua primeira pedra e em Jesus o seu fundamento. Procurando voltar à essencialidade narrada nos Atos dos Apóstolos, à beleza do encontro... Por isso, antes de falar, escutamos. Conscientes da riqueza da Igreja. E começamos por nos escutar a nós mesmos. Examinando a nossa consciência. Reunindo-nos em pequenos grupos. Adotando o método do diálogo espiritual. Fazendo do nosso Sínodo uma prece partilhada. [...] A comunicação, que é o nosso serviço, não podia, não pode deixar de ser sinodal; e é precisamente por isso que, com a comunhão, nos torna verdadeiramente membros uns dos outros. Mesmo abordando a questão de um ponto de vista funcional, tecnológico, precisamente porque comunicar significa colocar-se em comunhão — cito as palavras do Papa — que «já não se trata apenas de “usar” instrumentos de comunicação, mas de viver numa cultura amplamente digitalizada» (Exort. ap. pós-sinodal Christus vivit, 86). [...] Este é o significado mais profundo de falarmos tantos idiomas (mais de 50) e linguagens mediáticas (jornal, rádio, televisão, internet, redes sociais, podcast). A nossa missão consiste em falar a linguagem dos que nos ouvem e em ouvir quantos nos falam.
[...] Tecer a unidade foi e é a razão, o fundamento do nosso serviço: construir uma verdadeira rede, em comunhão uns com os outros, onde tudo é tecido pelo Espírito Santo, o único que nos pode tornar capazes de ver além das aparências, de saber distinguir entre a opinião muitas vezes inconstante da maioria e a verdade. Mas para sermos credíveis, começamos por nós. [...] Tocamos com as mãos, refletindo e rezando juntos, que ter unido (num único corpo) as muitas instituições (membros) que na Santa Sé se ocupavam da comunicação não era e não é, em primeiro lugar, um dado funcional. Mas foi e é essencialmente um elemento de comunhão; a melhor explicação para isto consiste precisamente na metáfora do corpo e dos membros e na sua ligação à comunicação. Tudo isto nos levou a compreender que aquilo que procuramos noutros lugares, na tecnologia, no marketing, nos efeitos especiais, na realidade deve ser procurado dentro de nós.
[...] Neste caminho, pensamos num papel para cada um dos nossos meios de comunicação: para a Rádio Vaticano (e para as rádios que nos retransmitem em muitos países), para L’Osservatore Romano; para Vatican News; para as redes sociais; para os livros que publicamos com a Lev. Mas, antes de mais nada, compreendemos a chamada sinodal como uma graça a viver ad intra. Redescobrindo que a verdade que procuramos e somos chamados a comunicar já está inscrita no maior mandamento a que somos chamados: do amor e da pobreza. E que a sinodalidade está na comunhão que saberemos testemunhar na diversidade dos carismas.
Paolo Ruffini