Uma luz acesa
«Obrigado, Senhor Jesus, pela luz que acendeste nas nossas noites». Começa assim, com um vislumbre de esperança já projetado para o júbilo pascal, o tweet de Francisco lançado na noite de Sexta-Feira Santa, na conta @Pontifex. «Reconciliando cada divisão, tornaste-nos todos irmãos, filhos do mesmo Pai que está no céu», escreveu o Papa, fazendo eco ao convite — dirigido através de outro tweet postado algumas horas antes — a «termos olhos e coração para os numerosos “cristos abandonados”».
E precisamente alguns desses “cristos”, que se encontram todos os dias nas ruas, foram protagonistas das meditações da Via-Sacra deste ano, que teve lugar à noite no Coliseu, na presença de cerca de vinte mil fiéis. A celebração foi presidida pelo cardeal Angelo De Donatis, vigário-geral do Pontífice para a diocese de Roma, enquanto o Papa Francisco acompanhou o rito da Casa Santa Marta, para evitar riscos ligados à saúde, devido ao frio.
As 14 estações deram voz a quantos vivem nos territórios feridos pela guerra, àqueles que são vítimas de pobreza, violência e injustiça: homens e mulheres, leigos, consagrados, jovens e idosos do mundo que desejavam confiar as próprias histórias de sofrimento e de dificuldade à reflexão diante da Cruz. Trata-se de testemunhos enviados ao Papa dos recantos mais remotos do mundo e que Francisco quis que se tornassem os textos de uma Via-Sacra, cujo tema foi: «Vozes de paz em tempo de guerra».
A coletânea foi editada por vários dicastérios da Cúria romana. Leram as meditações e as orações, na presença do presidente da câmara municipal de Roma com a tradicional faixa tricolor, Roberto Gualtieri, Orazio Coclite, Giorgia Cardinaletti e Simona De Santis, acompanhados pelo coro da Capela Sistina, conduzido por monsenhor Marcos Pavan, enquanto a cruz foi carregada por indivíduos e famílias, em representação de quantos quiseram compartilhar as suas experiências de sofrimento e de esperança de todos os cantos do mundo.
Os primeiros quatro testemunhos vieram da Terra Santa, da África Ocidental, da América Central e da América do Sul. Depois, foi a vez de três migrantes provenientes da África, do sul da Ásia e do Médio Oriente, de um pároco dos Balcãs e de dois adolescentes do norte de África. Outro brado de paz veio do sudeste asiático, seguido da experiência de uma religiosa da África Central.
Na estação x , as meditações foram feitas por dois jovens: um ucraniano e um russo. O primeiro narrou a sua fuga de Mariupol para a Itália, e o segundo recordou o seu irmão mais velho que morreu, bem como o pai e o avô que desapareceram. Ambos imploraram de Deus a purificação do «ressentimento», do «rancor», das «palavras e reações violentas».
A estação xi chamou novamente a atenção do mundo para o próximo Oriente; em seguida, uma mulher da Ásia Ocidental, uma religiosa, que vive na África Oriental, e algumas jovens da África Austral narraram as suas experiências.
A Via-Sacra terminou com uma oração — lida pelo cardeal De Donatis — cadenciada por “14 obrigados” ao Senhor, como 14 eram as estações.