Salvar servindo: eis o que Jesus faz quando lava os pés aos discípulos. O Papa Francisco repropôs este gesto e o seu significado na tarde de quinta-feira santa, 6 de abril, com os presos no cárcere juvenil de Casal del Marmo, em Roma. Na capela da penitenciária, o Pontífice celebrou a missa “in Cena Domini”, com a qual inaugurou os ritos do Tríduo pascal. A seguir, o texto da homilia proferida pelo bispo de Roma nessa circunstância.
Chama a atenção o modo como Jesus, precisamente no dia antes de ser crucificado, faz este gesto. Lavar os pés era habitual naquela época, pois as estradas eram poeirentas, as pessoas vinham de fora e, entrando numa casa, antes do banquete, do encontro, lavavam os pés. Mas quem lavava os pés? Os escravos, porque se tratava de um trabalho de escravo.
Imaginemos como ficaram espantados os discípulos, quando viram Jesus começar a fazer este gesto de escravo. Mas fá-lo para os levar a compreender a mensagem do dia seguinte, que morreria como um escravo, para pagar a dívida de todos nós. Se ouvíssemos tudo isto de Jesus, a vida seria muito bonita, porque nos apressaríamos a ajudar-nos uns aos outros, em vez de nos enganarmos reciprocamente, aproveitando-nos uns dos outros, como nos ensinam os astutos. É muito bom ajudar-nos uns aos outros, dar uma mão: são gestos humanos, universais, mas que brotam de um coração nobre. E hoje, com esta celebração, Jesus quer ensinar-nos isto: a nobreza do coração. Cada um de nós pode dizer: “Mas se o Papa soubesse o que tenho dentro de mim...”.
Mas Jesus sabe tudo, ama-nos como somos e lava os pés de todos nós. Jesus nunca se assusta com as nossas debilidades, nunca tem medo porque já pagou; só quer acompanhar-nos, quer tomar-nos pela mão para que a vida não seja tão difícil para nós. Farei o mesmo gesto do lava-pés, mas não é algo folclórico, não!
Pensamos que se trata de um gesto que anuncia como devemos ser uns com os outros. Na sociedade vemos quantas pessoas se aproveitam do próximo, quantas pessoas estão encurraladas e não conseguem sair. Quantas injustiças, quantas pessoas desempregadas, quanta gente que trabalha e recebe metade, quantas pessoas não têm dinheiro para comprar remédios, quantas famílias destruídas, tantas coisas negativas... E nenhum de nós pode dizer: “Eu, graças a Deus, não sou assim, sabes?” — “Se não sou assim, é graças a Deus!”; cada um de nós pode escorregar, cada um de nós! E esta consciência, esta certeza de que cada um de nós pode escorregar é o que nos dá a dignidade — escutai esta palavra: “dignidade” — de ser pecadores. E Jesus quer-nos assim, e por isso quis lavar os pés e dizer: “Vim para vos salvar, para vos servir!”. Agora farei o mesmo, em recordação do que Jesus nos ensinou: ajudar-nos uns aos outros. E assim a vida é mais bela e podemos ir em frente deste modo. Durante o lava-pés — espero conseguir, pois não posso caminhar bem — mas durante o lava-pés pensai: “Jesus lavou-me os pés, Jesus salvou-me, e agora enfrento esta dificuldade!”. Mas passará, o Senhor está sempre ao teu lado, nunca te abandona, nunca! Pensai nisto!