· Cidade do Vaticano ·

A dor compartilhada no sinal de Francisco

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06 abril 2023

Três dias, mas muito longos. Porque muito intensos. Se “experiência” é o nome que damos aos acontecimentos da vida que geram uma mudança, uma transformação em quem os vive, então esta hospitalização do Papa na policlínica Gemelli foi realmente uma experiência rica, tanto para ele como também para todas as pessoas que participaram direta e indiretamente neste evento. O que potencialmente poderia equivaler ao mundo inteiro, pois na realidade, graças aos meios de comunicação social, o mundo inteiro acompanhou, primeiro com preocupação, depois com alívio e alegria, o desenrolar dos três dias, cadenciados pela difusão de boletins médicos cada vez mais positivos e promissores, à medida em o melhoramento progredia.

Três dias é uma medida temporal com “som” bíblico, aliás, pascal: o sinal de Jonas de que Jesus fala (cf. Mt 12, 38-41), aquele estar “na barriga do peixe”, que se refere ao estar “no coração da terra” durante três dias e três noites. O Papa Francisco estava à sua maneira “no coração” da humanidade, porque um hospital é precisamente o lugar onde a vida e a morte se enfrentam em duelo, onde a alegria e as dores convivem num abraço tão intenso quão inextricável. As imagens da tarde de 31 de março do Papa que, acariciando, abençoa e batiza o recém-nascido Miguel Ángel, com aquela do abraço na manhã do dia seguinte à jovem mãe em lágrimas pela perda da filha, narram apenas algumas das profundas emoções que o Papa viveu e depois transmitiu a todas as pessoas com ele “conectadas”.

Os gestos realizados por Francisco evocam uma atitude positiva e proativa que o Papa realçou frequentemente na sua pregação, escolhendo como ícone o de Maria que, no momento do anúncio do anjo, não obstante o impacto que tal acontecimento possa ter tido na sua vida, não se limitou a chorar pelo seu destino, fechando-se na sua perplexidade, mas como diz o Evangelho de Lucas, «partiu apressadamente para a montanha e chegou depressa» à casa da prima Isabel, que se encontrava em necessidade. Assim o Papa: não se limitou ao necessário e forçado descanso, mas levantou-se, moveu-se porque se comoveu no lugar onde se encontrava e foi ao encontro das pessoas, saudando-as e encorajando-as, com a simples proximidade. Fez do que era um imprevisto, um “acidente”, uma experiência, transformando a dificuldade em oportunidade. No seu sinal de proximidade, de vizinhança, no sinal da Virgem, a quem não por acaso, logo que saiu, foi agradecer na sua “casa” de Santa Maria Maior.

Andrea Monda