«Só a conversão dos corações pode abrir o caminho que conduz à paz». Afirmou o Pontífice no final do Angelus de 26 de março, renovando o apelo a rezar pelo povo ucraniano martirizado. Falando ao meio-dia da janela do Palácio apostólico do Vaticano, antes da oração mariana com os 35.000 fiéis presentes na Praça de São Pedro e com quantos o seguiam através dos meios de comunicação social, Francisco comentou o Evangelho do quinto Domingo da Quaresma, centrado na ressurreição de Lázaro.
Estimados irmãos e irmãs,
bom dia!
Hoje, quinto domingo de Quaresma, o Evangelho apresenta-nos a ressurreição de Lázaro (cf. Jo 11, 1-45). É o último dos milagres de Jesus narrados antes da Páscoa: a ressurreição do seu amigo Lázaro. Lázaro é um querido amigo de Jesus, o qual sabe que está prestes a morrer; Ele põe-se a caminho, mas chega a sua casa quatro dias após a sepultura, quando toda a esperança está perdida. A sua presença, contudo, reacende um pouco de confiança no coração das irmãs Marta e Maria (cf. vv. 22.27). Elas, mesmo na tristeza, agarram-se a esta luz, a esta pequena esperança. E Jesus convida-as a ter fé e pede-lhes que abram o túmulo. Depois reza ao Pai e grita a Lázaro: «Sai para fora!» (v. 43). E ele volta à vida e sai. Este é o milagre, assim, simples.
A mensagem é clara: Jesus dá a vida inclusive quando parece não haver mais esperança. Acontece, por vezes, que nos sentimos sem esperança — aconteceu a todos — ou que encontramos pessoas que perderam a esperança, amarguradas por terem experimentado situações negativas, o coração ferido não pode ter esperança. Por causa de uma perda dolorosa, de uma doença, de uma amarga desilusão, por causa de uma injustiça ou traição sofridos, por causa de um erro grave cometido... deixaram de ter esperança. Por vezes ouvimos alguém dizer: “Não há mais nada a fazer!”, e fechar a porta a qualquer esperança. São momentos em que a vida parece um sepulcro fechado: tudo é escuro, em volta só se vê tristeza e desespero. O milagre de hoje, diz-nos que não é assim, o fim não é este, que nestes momentos não estamos sozinhos, aliás, que é precisamente nestes momentos que Ele se aproxima mais do que nunca para nos restituir a vida. Jesus chora: o Evangelho diz que Jesus, diante do túmulo de Lázaro chorou, e hoje Jesus chora connosco, tal como pôde chorar por Lázaro: o Evangelho repete duas vezes que se comoveu (cf. vv. 33.38) e sublinha que irrompeu em lágrimas (cf. v. 35). Ao mesmo tempo, Jesus convida-nos a não deixar de acreditar e de esperar, a não nos deixarmos esmagar por sentimentos negativos, que nos tiram as lágrimas. Ele aproxima-se dos nossos túmulos e diz-nos, como fez então: «Tirai a pedra» (v. 39). Nestes momentos temos como que uma pedra dentro de nós e o único capaz de a remover é Jesus, com a sua palavra: “Tirai a pedra”.
Isto é o que Jesus diz também a nós. Tirai a pedra: a dor, os erros, também os fracassos, não os escondais dentro de vós, num quarto escuro, solitário e fechado. Tirai a pedra: tirai para fora tudo o que está dentro. “Ah, envergonho-me”. Lançai-o em mim com confiança, diz o Senhor, não me escandaliza; lançai-o em mim sem temor, pois estou convosco, amo-vos, e desejo que volteis a viver. E, como a Lázaro, repete a cada um de nós: Sai para fora! Levanta-te, retoma o caminho, recupera a confiança! Quantas vezes na vida nos vimos assim, nesta situação de não termos forças para nos levantarmos de novo. E Jesus: “Vai, continua! Estou contigo”. Levo-te pela mão, diz Jesus, como quando criança aprendias a dar os primeiros passos. Querido irmão, querida irmã, tira as ligaduras que te prendem (cf. v. 45); por favor, não cedas ao pessimismo que deprime, não cedas ao temor que isola, não cedas ao desânimo por causa da memória das más experiências, não cedas ao medo que paralisa. Jesus diz-nos: “Quero-te livre, quero-te vivo, não te abandonarei, e estou contigo! Tudo é escuro, mas eu estou contigo! Não deixes que a dor te aprisione, não deixes que a esperança morra. Irmão, irmã, regressa à vida!” — “E como faço?” — “Pega na minha mão”, e Ele toma-nos pela mão. Deixa-te puxar: e Ele é capaz de o fazer. Nos momentos negativos que acontecem a todos nós.
Estimados irmãos e irmãs, este trecho do capítulo 11 do Evangelho de João, que faz tão bem ler, é um hino à vida, e é proclamado quando a Páscoa está próxima. Talvez também nós, neste momento, carreguemos no coração algum fardo ou sofrimento, que parece esmagar-nos; alguma coisa má, algum pecado antigo que não conseguimos fazer sair, algum erro da juventude, nunca se sabe. Estas coisas más devem sair. E Jesus diz: “Sai para fora”. Então é o momento de remover a pedra e sair para encontrar Jesus, que está próximo. Podemos abrir-lhe o coração e confiar-lhe as nossas preocupações? Será que podemos? Conseguimos abrir o túmulo dos problemas, somos capazes, e olhar para além do limiar, na direção da sua luz, ou temos medo disto? E, por nossa vez, como pequenos espelhos do amor de Deus, somos capazes de iluminar os ambientes em que vivemos com palavras e gestos de vida? Damos testemunho da esperança e da alegria de Jesus? Nós, pecadores, todos? E também, gostaria de dizer uma palavra aos confessores: caros irmãos, não vos esqueçais que também vós sois pecadores, e que estais no confessionário não para torturar, mas para perdoar, e perdoar tudo, como o Senhor perdoa tudo. Que Maria, Mãe da esperança, renove em nós a alegria de não nos sentirmos sós e a chamada a levar luz às trevas que nos rodeiam.
Depois do Angelus, o Papa recordou o drama da guerra na Ucrânia e a recolha em paróquias italianas para as vítimas do terramoto na Turquia e na Síria. Em seguida, falou do tornado que atingiu o Mississippi e os sofrimentos no Peru.
Prezados irmãos e irmãs!
Ontem, solenidade da Anunciação, renovámos a consagração ao Imaculado Coração de Maria, na certeza de que só a conversão dos corações pode abrir o caminho que conduz à paz. Continuemos a rezar pelo martirizado povo da Ucrânia.
E permaneçamos também próximos das vítimas do terramoto da Turquia e da Síria. A eles é destinada a especial coleta de ofertas que hoje se realiza em todas as paróquias de Itália. Rezemos também pelo povo do Estado do Mississippi, atingido por um tornado devastador.
Saúdo todos vós, romanos e peregrinos de muitos países, em particular os de Madrid e Pamplona e os mexicanos; assim como os peruanos, renovando a oração pela reconciliação e paz no Peru. Devemos rezar pelo Peru, que está a sofrer muito.
Saúdo os fiéis de Zollino, Rieti, Azzano Mella e Capriano del Colle, Bellizzi, Crotone e Castelnovo Monti com a Unitalsi; e saúdo os crismandos de Pavia, Melendugno, Cavaion e Sega, Settignano e Prato; os jovens de Ganzanigo, Acilia e Longi; e a Associação de Amigos do Crucifixo das Marcas.
Dirijo uma saudação especial à delegação da Aeronáutica Militar Italiana, que está a celebrar o centenário de fundação. Formulo os melhores votos por este aniversário e encorajo-vos a trabalhar sempre para a construção da justiça e da paz.
Rezo por todos vós e fazei-o por mim. Desejo a todos bom domingo. Bom almoço e até à vista.