«Cristãos e muçulmanos: promotores de amor e amizade». Eis o tema escolhido este ano pelo Dicastério para o Diálogo Inter-religioso para a mensagem tradicional à comunidade islâmica por ocasião do mês do Ramadão e de ’Id al-Fitr (1444 h . / 2023 a.d. ), a festa que o conclui. Publicamos o texto assinado pelo cardeal prefeito Miguel Ángel Ayuso Guixot e pelo secretário, monsenhor Indunil Kodithuwakku Janakaratne Kankanamalage.
Prezados irmãos e irmãs muçulmanos!
O mês do Ramadão é importante para vós, mas também para os vossos amigos, vizinhos e crentes de outras religiões, especialmente cristãos. As amizades existentes são reforçadas e novas são construídas, abrindo caminho para uma coexistência mais pacífica, harmoniosa e jubilosa. Na realidade isto corresponde à vontade divina para as nossas comunidades, para todos os membros e comunidades da única família humana.
Estamos conscientes, caros amigos, de que a convivência pacífica e amistosa enfrenta muitos desafios e ameaças: extremismo, radicalismo, polémicas, disputas e violência com motivação religiosa. As ameaças são alimentadas pela cultura do ódio. Precisamos, portanto, de encontrar formas mais oportunas de contrastar e superar esta cultura, reforçando ao contrário o amor e a amizade, particularmente entre muçulmanos e cristãos, em virtude dos vínculos que nos unem. Por esta razão, considerámos apropriado partilhar convosco algumas reflexões sobre este assunto, esperando receber também as vossas.
Tudo tem origem na nossa atitude uns para com os outros, particularmente quando existem diferenças entre nós em matéria de religião, etnia, cultura, língua ou assuntos políticos.
As diferenças podem ser vistas como uma ameaça, mas cada um tem direito à sua identidade específica com as suas diferentes componentes, sem ignorar nem esquecer o que temos em comum: «Os homens constituem todos uma só comunidade; todos têm a mesma origem, pois foi Deus quem fez habitar em toda a terra o inteiro género humano; têm também todos um só fim último, Deus, que a todos estende a sua providência, os seus testemunhos de bondade e os seus desígnios de salvação, até que os eleitos se reúnam na cidade santa, iluminada pela glória de Deus e onde todos os povos caminharão à sua luz» (Declaração sobre a relação da Igreja com as Religiões não cristãs, Nostra aetate, 28 de outubro de 1965, n. 1).
As atitudes e comportamentos negativos em relação àqueles que são diferentes de nós infelizmente são numerosos: suspeita, medo, rivalidade, discriminação, exclusão, perseguição, polémica, insultos e maledicências, para citar apenas alguns.
As plataformas dos meios de comunicação social são espaços comuns para tais comportamentos prejudiciais, transformando o seu papel de meios de comunicação e amizade em instrumentos de inimizade e luta. A este respeito, o Papa Francisco afirmou: «Ao mesmo tempo que defendem o próprio isolamento consumista e acomodado, as pessoas escolhem vincular-se de maneira constante e obsessiva. Isto favorece o pululamento de formas insólitas de agressividade, com insultos, impropérios, difamação, afrontas verbais até destroçar a figura do outro, num desregramento tal que se existisse no contacto pessoal acabaríamos todos por nos destruir entre nós. A agressividade social encontra um espaço de ampliação incomparável nos dispositivos móveis e nos computadores» (Fratelli tutti, 3 de outubro de 2020, n. 44).
Os opostos dos comportamentos negativos acima mencionados são respeito, bondade, caridade, amizade, cuidado mútuo para com todos, perdão, cooperação para o bem comum, ajudando todos aqueles que se encontram em qualquer tipo de necessidade, e cuidado com o meio ambiente, a fim de manter a nossa “casa comum” um lugar seguro e agradável para viver juntos em paz e alegria.
Não podemos impedir nem contrariar a cultura do ódio e, ao contrário, promover uma cultura de amor e amizade sem uma educação saudável das gerações futuras em todos os espaços onde são formadas: na família, na escola, nos lugares de culto e nas redes sociais.
Um mundo em que reinam a justiça, a paz, a fraternidade e a prosperidade agrada ao Todo-Poderoso e traz alegria, solicitando assim o nosso compromisso sincero e partilhado.
Que desfruteis, caros irmãos e irmãs muçulmanos, das abundantes bênçãos do Todo-Poderoso durante o Ramadão e celebrai ’Id al-Fitr na alegria que flui da fidelidade e do amor pelo Todo-Poderoso e por todas as pessoas com quem viveis ou com quem vos encontrais.
Vaticano, 3 de março de 2023