Os confessores deveriam garantir constantemente a própria presença no confessionário, durante um horário programado. Nunca é tempo perdido, mesmo que nenhum penitente se apresente, frisou monsenhor Krzysztof Jozef Nykiel, regente da Penitenciaria Apostólica, nesta entrevista a «L’Osservatore Romano», na véspera do início do xxxiii curso sobre o Fórum íntimo, que se realiza em Roma, no Palácio da Chancelaria, de 20 a 24 de março. Tema desta edição: «O sacramento da reconciliação, um “milagre permanente da ternura divina”».
Quais são os objetivos e quem são os destinatários da iniciativa?
Há trinta e três anos que a Penitenciaria Apostólica promove este curso de formação, destinado principalmente aos seminaristas prestes a ser ordenados e aos jovens sacerdotes. No entanto, são sempre bem-vindos aqueles que exercem o ministério sacerdotal há mais tempo e louvavelmente desejam atualizar ou aprofundar a sua preparação num âmbito tão central e delicado como o serviço do confessor. Incentivados pela resposta positiva nas últimas edições, também este ano é possível acompanhar as conferências programadas, tanto em presença, na basílica de São Lourenço “in Damaso”, adjacente ao Palácio da Chancelaria, como à distância, aproveitando os recursos oferecidos pelos instrumentos digitais. Isto permite alcançar um número potencialmente maior de interessados, sobretudo em benefício de quem não vive em Roma.
Que temas serão abordados nas conferências da semana?
O curso gostaria de tratar, de uma perspetiva multidisciplinar, os principais temas relacionados com o Fórum íntimo (fórum da consciência) e a pastoral do sacramento da reconciliação. Com efeito, hoje mais do que nunca exige-se dos ministros da misericórdia uma adequada e atualizada preparação teológica, espiritual, pastoral e jurídica. Por conseguinte, será privilegiada uma abordagem “concreta”, visando a correta administração da reconciliação, a solução de casos particularmente delicados que, no sacramento, o confessor deverá dirimir, e a atitude correta a adotar, de tempos a tempos, para acompanhar os penitentes com disponibilidade, paciência, ternura, solicitude e clarividência. Esta pluralidade de abordagens reflete-se na vasta gama de vozes que compõem o programa dos dias: tomam a palavra teólogos, canonistas, psicólogos e confessores que exercem pessoalmente o ministério, para aprofundar os seus aspetos litúrgicos, pedagógicos e pastorais. Além disso, não se deixará de falar da competência e prática da Penitenciaria Apostólica. Com efeito, seria deveras desejável que cada sacerdote visse neste nosso “Tribunal da misericórdia”, como o Papa Francisco o definiu amavelmente, um ponto de referência seguro ao qual recorrer, não só nos casos prescritos pelo direito, ou seja, quando se trata de absolvições ou dispensas reservadas à Sé Apostólica, mas também, em geral, sempre que se apresentar uma situação mais complexa, ou quando o confessor se sentir inseguro acerca do próprio juízo. A Penitenciaria é, para todos os efeitos, o Dicastério para o serviço dos confessores, assim como dos penitentes!
Haverá também o tradicional encontro da celebração penitencial?
Como já é tradição, além das conferências da tarde, os pontos altos do curso são a escuta das palavras do Papa Francisco e a celebração penitencial, presidida pelo cardeal Mauro Piacenza, penitenciário-mor, na igreja romana de Santo Espírito “in Sassia” — santuário da Divina Misericórdia, na tarde de sexta-feira 24 de março. Os futuros ou novos confessores terão a oportunidade de ouvir as palavras do Sucessor de Pedro, a cujo coração bem sabemos como é querido o ministério da misericórdia, vivido em primeiro lugar na celebração do sacramento da reconciliação, um «milagre permanente da ternura divina», como ele disse em certa ocasião. Um momento importante será também a celebração penitencial, quando os próprios participantes no curso tiverem a oportunidade de se aproximar do confessionário. Com efeito, gostaria de salientar que quando falamos da necessidade de formação dos confessores, queremos dizer que não basta conhecer a teoria, os aspetos técnicos, sempre necessários. Só será um bom confessor quem for capaz de abrir as portas do céu aos penitentes, porque ele próprio experimentou primeiro a ternura do amor misericordioso do Pai. Em síntese, como o Papa Francisco gosta de repetir, não se pode ser bom confessor sem ser também bom penitente.
Que conselhos daria a um confessor que dá os primeiros passos no seu ministério?
Três pontos me parecem importantes. Em primeiro lugar, é bom reiterar que cada sacerdote é chamado a experimentar o perdão de Deus sobre si, antes ainda que sobre os outros. Em segundo lugar, os confessores não devem ter medo de pedir a Deus o dom da perseverança para estar no confessionário. Garantir constantemente a presença durante um horário possivelmente programado nunca é tempo perdido, mesmo que nenhum penitente se apresente. É doloroso ver às vezes, em certas paróquias, confessionários vazios, sem sequer uma indicação do horário para as confissões. É evidente que isto anula a iniciativa dos fiéis. Ao contrário, é fundamental que as pessoas saibam que num dado momento podem encontrar no confessionário um sacerdote disposto a ouvir e a absolver os pecados. De resto, todos os grandes santos confessores passavam muitas horas no confessionário, confessando longas filas de fiéis ou, talvez, à espera de acolher com alegria o filho pródigo. Depois, se um confessor, especialmente quando está no início do seu ministério, se deparar com dúvidas ou dificuldades em relação a um caso específico encontrado no confessionário, seria verdadeiramente prudente que não hesitasse em procurar o conselho de um confessor sábio e perito (naturalmente, sem nunca violar o sigilo sacramental), ou escrevesse diretamente à Penitenciaria, que certamente não deixará de lhe comunicar a própria opinião quanto antes, como sempre se fez. Estamos ao serviço dos ministros da misericórdia.
A 13 de março passado foi celebrado o 10º aniversário da eleição de Francisco. Que espaço ou importância tem no seu magistério e na sua vida o tema da misericórdia divina?
Há tantos discursos e gestos que que comovem o coração, e ações com que o Papa manifestou a atenção central que dedica a este tema, desde os primeiros dias do seu pontificado. Deus é misericórdia! Nunca se cansa de nos perdoar! Confiemos n’Ele! Colocando-se em continuidade com o magistério da Igreja, Francisco indicou sabiamente e sempre reiterou como a misericórdia divina é o coração palpitante do Evangelho, aliás, a própria essência de Deus. E se, como afirma o Pontífice em Misericordia et misera, «a celebração da misericórdia tem lugar de modo muito especial com o sacramento da reconciliação, momento em que sentimos o abraço do Pai que vem ao nosso encontro para nos restituir a graça de ser novamente seus filhos», nenhum confessor deve esquecer que no exercício do seu ministério ele é a imagem visível da misericórdia invisível de Deus, «canal de alegria para o fiel». Como disse o Papa na audiência de 4 de março de 2016, aos participantes no curso sobre o Fórum íntimo: «Depois de ter recebido o perdão, [o fiel] já não se sinta oprimido pelas culpas, mas saboreie a obra de Deus que o libertou». Assim como o pai bondoso, quando o filho adolescente cometeu um erro, escolhe o caminho do diálogo confiando nele, o mesmo faz Jesus em relação a nós, pecadores, e é isto que muda o nosso coração, como recordou o Pontífice na sua meditação matutina na capela da Domus Sanctae Marthae, em 27 de fevereiro de 2018. Deus ama-nos, nunca se cansa de nós, nunca se cansa de perdoar! Esta verdade, tantas vezes recordada com convicção pelo Santo Padre, ajudou muitos irmãos e irmãs no mundo nesta década a sair da sua pobreza espiritual e a retomar com confiança o caminho de fé.
Nicola Gori