Uma mãe que continua desesperadamente a gritar o nome do filho, olhando para o mar tempestuoso. O vento que, com a sua força, ameaça levantar os lençóis brancos colocados, numa longa sucessão, como piedosa cobertura para os cadáveres. Os restos de madeira de um velho barco de pesca que parece impossível ter transportado pelo menos 150 migrantes, talvez 200, antes de se partir em dois, depois da colisão contra os rochedos, empurrado pela fúria das águas, com ondas de dois metros de altura. Eis as imagens apocalípticas da última tragédia marítima, no mar Jónico, ao largo do litoral calabrês de Crotone. Assim que os socorristas, entre os quais muitos voluntários e cidadãos comuns, começaram a recuperar os cadáveres que a maré trazia para a costa, a extensão da catástrofe tornou-se cada vez mais clara: dezenas de vítimas, incluindo 14 menores. Sobretudo as crianças dilaceraram o coração dos socorristas: dois gémeos pequeninos, um menino de 7 anos, outro de alguns meses. Cerca de 80 sobreviventes, incluindo muitos menores: algumas pessoas foram transferidas para o Centro de requerentes de asilo em Isola Capo Rizzuto, outras — mais de 20 — estão internadas no hospital civil em Crotone. Algumas crianças foram tratadas na enfermaria de pediatria e uma morreu nos braços dos médicos que procuravam ressuscitá-la. Ainda há dezenas de desaparecidos.
Apesar das condições difíceis do mar, as operações de busca nunca pararam, com a ajuda de unidades do departamento aeronaval da Guarda fiscal e do Corpo de bombeiros, e de mergulhadores da Guarda costeira. A polícia deteve três dos suspeitos contrabandistas. Entretanto, continua a reconstrução do que aconteceu, tornada mais difícil porque muitos dos sobreviventes se encontram em estado de choque e mal conseguem exprimir-se. O barco carregado de migrantes, na sua maioria provenientes do Irão, Afeganistão e Síria, partiu quatro dias antes da catástrofe do porto de Izmir, Turquia. O barco foi avistado na noite de 25 de fevereiro a cerca de 40 milhas ao largo da costa de Crotone por uma unidade Frontex em patrulha. Então, foram enviados para a área um barco e um navio da patrulha, mas o mau tempo impediu as operações no mar. Também foi ativada uma operação de busca em terra, com a mobilização das forças policiais. Em seguida, um pescador lançou o alarme ao reparar que o barco já estava destruído e os primeiros corpos flutuavam na água.
No meio do luto faz-se o balanço do número trágico das viagens da esperança no Mediterrâneo ocidental, central e oriental. Em dez anos já se contam 26.000 vítimas. Mais de 220 só em 2023, incluindo o naufrágio ao largo da costa de Crotone. Em 2022 houve 2.406. Todos migrantes que partiram da África e da Ásia, com o sonho de chegar à Europa. Mas afogaram durante a travessia, antes de tocar o solo. Às vezes a poucos metros do destino, como aconteceu com o último barco que partiu da Turquia.