Publicamos o texto da mensagem de vídeo enviada pelo Papa Francisco por ocasião do terceiro Dia internacional da fraternidade humana, celebrado em Abu Dhabi a 4 de fevereiro. As suas palavras foram transmitidas durante a cerimónia de entrega do Prémio Zayed 2023 inspirado no «Documento sobre a fraternidade humana» assinado na capital dos Emirados Árabes Unidos em 2019 pelo Papa Francisco e o Grão-Imã de Al-Azhar.
Estimados irmãos e irmãs, bom dia!
Saúdo com afeto e estima o Grão-Imã Ahmed Al-Tayyeb com quem, há exatamente quatro anos em Abu Dhabi, assinei o Documento sobre a Fraternidade humana para a paz mundial e a convivência comum.
Agradeço a Sua Alteza o Xeque Mohammed bin Zayed pelo seu empenho no caminho da fraternidade; ao Alto Comité para a Fraternidade Humana pelas iniciativas promovidas em várias partes do mundo; e agradeço também à Assembleia Geral das Nações Unidas por ter estabelecido a data de 4 de fevereiro como Dia Internacional da Fraternidade Humana na sua resolução de dezembro de 2020. Apraz-me também associar-me à louvável iniciativa da atribuição do Prémio Zayed para a Fraternidade Humana 2023.
Ao partilharmos sentimentos de fraternidade uns pelos outros, somos chamados a ser promotores de uma cultura de paz que encoraje o diálogo, a compreensão recíproca, a solidariedade, o desenvolvimento sustentável e a inclusão. Todos temos no coração o desejo de viver como irmãos, em mútua ajuda e harmonia. O facto de que isto com frequência não se verifique — e infelizmente temos sinais dramáticos disto — deveria estimular ainda mais a busca da fraternidade.
É verdade que as religiões não têm a força política para impor a paz, mas ao transformar o homem a partir de dentro, ao convidá-lo a desapegar-se do mal, guiam-no para uma atitude de paz. Por conseguinte, as religiões têm uma responsabilidade decisiva na convivência dos povos: o seu diálogo tece uma teia pacífica, rejeita as tentações de rasgar o tecido civil e liberta-se da instrumentalização das diferenças religiosas para fins políticos. Também relevante é a tarefa das religiões em lembrar-nos que o destino do homem vai além dos bens terrenos e está num horizonte universal, pois cada pessoa humana é criatura de Deus, de Deus todos viemos e para Deus todos regressamos.
As religiões, para estarem ao serviço da fraternidade, precisam de dialogar umas com as outras, conhecer-se, enriquecer-se mutuamente e aprofundar sobretudo aquilo que une e a colaboração em vista do bem de todos.
As diversas tradições religiosas, haurindo cada uma do próprio património espiritual, podem dar um grande contributo para o serviço da fraternidade. Se soubermos mostrar que é possível viver a diferença na fraternidade, podemos libertar-nos gradualmente do medo e da desconfiança em relação ao outro que é diferente de mim. Cultivar a diversidade e harmonizar as diferenças não é um processo fácil, mas é a única forma de garantir uma paz sólida e duradoura, e é um compromisso que nos obriga a reforçar a nossa capacidade de diálogo com os outros.
Homens e mulheres de diferentes religiões caminham rumo a Deus percorrendo veredas que se cruzam cada vez mais. Cada encontro pode ser ocasião de nos contrapormos ou, com a ajuda de Deus, de nos encorajarmos reciprocamente a seguir em frente como irmãos e irmãs. De facto, partilhamos não só uma origem e descendência comuns, mas também um destino comum, o das criaturas frágeis e vulneráveis, como o período histórico que estamos a viver nos mostra tão claramente.
Prezados irmãos e irmãs, estamos conscientes de que o percurso da fraternidade é longo e difícil. Aos muitos conflitos, às sombras de um mundo fechado, contraponhamos o sinal da fraternidade! Ela exorta-nos a acolher os outros e a respeitar a sua identidade, inspira-nos a trabalhar na convicção de que é possível viver em harmonia e paz.
Agradeço a todos aqueles que se unirem ao nosso caminho de fraternidade, e encorajo-os a empenharem-se na causa da paz e a responderem aos problemas e necessidades concretas dos últimos, dos pobres, dos indefesos, daqueles que precisam da nossa ajuda.
E o Prémio Zayed vai na direção da Fraternidade Humana. Muito, muito obrigado por esta vossa sessão com o prémio deste ano, que foi atribuído à Comunidade de Santo Egídio e à Senhora Shamsa Abubakar Fadhil. Muito obrigado pelo vosso trabalho, pelo vosso testemunho.
E a todos vós, queridos irmãos e irmãs, as minhas saudações e a minha bênção.