Um convite a rezar pela viagem à África que começava no dia 31 foi dirigido pelo Papa aos vinte e cinco mil fiéis presentes no Angelus de domingo 29 de janeiro na praça de São Pedro e a quantos o acompanhavam através dos meios de comunicação. Da janela do Palácio apostólico do Vaticano ao meio-dia, antes da oração mariana, o Pontífice comentou, como de costume, o Evangelho dominical, centrado nas Bem-aventuranças.
Prezados irmãos e irmãs
bom dia!
Na liturgia de hoje são proclamadas as bem-aventuranças segundo o Evangelho de Mateus (cf. 5, 1-12). A primeira é fundamental e diz: «Bem-aventurados os pobres em espírito, pois deles é o reino dos céus» (v. 3).
Quem são os “pobres em espírito”? São aqueles que sabem que não bastam a si mesmos, que não são autossuficientes, e vivem como “mendigos de Deus”: sentem necessidade de Deus e reconhecem que o bem vem d’Ele, como dom, como graça. Quem é pobre em espírito, guarda o que recebe; por isso deseja que nenhum dom seja desperdiçado. Hoje gostaria de me concentrar neste aspeto típico dos pobres em espírito: não desperdiçar. Os pobres em espírito procuram não desperdiçar nada. Jesus mostra-nos a importância de não desperdiçar, por exemplo após a multiplicação dos pães e dos peixes, quando pede para recolher a comida que sobeja para que nada se perca (cf. Jo 6, 12). Não desperdiçar permite-nos apreciar o valor de nós mesmos, das pessoas e das coisas. Infelizmente, contudo, este princípio é frequentemente ignorado, especialmente nas sociedades mais abastadas, onde dominam as culturas do desperdício e do descarte: ambas são uma peste. Gostaria, portanto, de propor três desafios contra a mentalidade do desperdício e do descarte.
Primeiro desafio: não desperdiçar o dom que nós somos. Cada um de nós é um bem, independentemente dos dotes que temos. Cada mulher, cada homem é rico não só de talentos, mas também de dignidade, é amado por Deus, vale, é precioso. Jesus lembra-nos que somos abençoados não pelo que temos, mas pelo que somos. E quando uma pessoa desanima e se dissipa, desperdiça-se a si própria. Lutemos, com a ajuda de Deus, contra a tentação de nos considerarmos inadequados, errados, e de nos lamentarmos.
Depois, o segundo desafio: não desperdiçar os dons que temos. Resulta que todos os anos no mundo cerca de um terço da produção total de alimentos é desperdiçada. E isto acontece enquanto tantos estão a morrer de fome! Os recursos da criação não podem ser utilizados dessa forma; os bens devem ser guardados e partilhados, para que a ninguém falte o necessário. Não desperdicemos o que temos, mas difundamos uma ecologia de justiça e caridade, de partilha.
Por fim, o terceiro desafio: não descartar as pessoas. A cultura do descarte diz: uso-te enquanto me serves; quando já não me interessas ou és um obstáculo para mim, ponho-te de lado. E é especialmente assim que são tratados os mais frágeis: os nascituros, os idosos, os necessitados e os desfavorecidos. Mas as pessoas não podem ser deitadas fora, os desfavorecidos não podem ser deitados fora! Cada um é um dom sagrado, cada um é um dom único, em todas as idades e em todas as condições. Respeitemos e promovamos a vida sempre! Não descartemos a vida!
Estimados irmãos e irmãs, façamo-nos algumas perguntas. Antes de mais, como vivo a pobreza de espírito? Dou espaço a Deus, acredito que Ele é o meu bem, a minha verdadeira e grande riqueza? Acredito que Ele me ama, ou desanimo com tristeza, esquecendo que sou um dom? E depois: tenho o cuidado de não desperdiçar, sou responsável na utilização das coisas, dos bens? E estou disposto a partilhá-los com os outros, ou sou egoísta? Por fim: considero os mais frágeis como dons preciosos, dos quais Deus me pede para cuidar? Lembro-me dos pobres, daqueles que não têm o necessário?
Ajude-nos Maria, Mulher das Bem-aventuranças, a testemunhar a alegria de que a vida é um dom e a beleza de fazer de nós uma dádiva.
Depois do Angelus, o Papa lançou um duplo apelo à paz: na Terra Santa, onde uma «espiral de morte aumenta de dia para dia», e no Corredor de Lachin, no Cáucaso do Sul, «pela grave situação humanitária»; depois recordou o 70º Dia mundial dos doentes de hanseníase e saudou os fiéis presentes, incluindo os jovens da Ação católica em Roma. Após a leitura de uma mensagem por dois deles, que estavam ao seu lado, Francisco convidou a rezar pela sua viagem à África.
Caros irmãos e irmãs!
Com grande tristeza tomo conhecimento das notícias que chegam da Terra Santa, em particular da morte de dez palestinianos, incluindo uma mulher, mortos durante ações militares antiterroristas israelenses na Palestina; e do que aconteceu perto de Jerusalém na sexta-feira à noite, quando sete judeus israelitas foram assassinados por um palestiniano e três ficaram feridos na saída da sinagoga. A espiral de morte que aumenta dia após dia fecha ainda mais os poucos vislumbres de confiança que existem entre os dois povos. Desde o início do ano, dezenas de palestinianos foram mortos em tiroteios com o exército israelense. Apelo aos dois governos e à comunidade internacional para que encontrem, imediatamente e sem demora, outros caminhos, que incluam o diálogo e a busca sincera da paz. Rezemos por isto, irmãos e irmãs!
Renovo também o meu apelo a favor da grave situação humanitária no Corredor de Lachin, no Cáucaso do Sul. Estou próximo de todos aqueles que, em pleno Inverno, são obrigados a enfrentar estas condições desumanas. Todos os esforços devem ser feitos a nível internacional para encontrar soluções pacíficas para o bem das pessoas.
Hoje celebra-se o 70º Dia mundial dos doentes de hanseníase. Infelizmente, o estigma ligado a esta doença continua a causar graves violações dos direitos humanos em várias partes do mundo. Expresso a minha proximidade a quantos sofrem com isso e encorajo o empenho na plena integração destes nossos irmãos e irmãs.
Dirijo a minha saudação a todos vós, provenientes da Itália e de outros países. Saúdo o grupo de Quinceañeras do Panamá e os estudantes de Badajoz na Espanha. Saúdo os peregrinos de Moiano e Monteleone di Orvieto, os de Acqui Terme e os jovens do Grupo Agesci Cercola Primo.
E agora com grande afeto saúdo os jovens da Ação Católica da Diocese de Roma! Viestes na “Caravana da Paz”. Agradeço-vos por esta iniciativa, tanto mais preciosa este ano porque, pensando na martirizada Ucrânia, o nosso empenho e a nossa oração pela paz devem ser ainda mais fortes. Pensemos na Ucrânia e rezemos pelo povo ucraniano, tão maltratado. Ouçamos agora a mensagem que os vossos amigos aqui ao meu lado irão ler para nós.
[leitura da mensagem]
Estimados irmãos e irmãs, depois de amanhã partirei para uma viagem apostólica à República Democrática do Congo e à República do Sudão do Sul. Agradeço às autoridades civis e aos Bispos locais pelos convites e pelos preparativos para estas visitas, e saúdo com afeto as queridas populações que me esperam.
Essas terras estão provadas por longos conflitos: a República Democrática do Congo sofre, especialmente no Leste do país, pelos conflitos armados e pela exploração; enquanto o Sudão do Sul, dilacerado por anos de guerra, não vê a hora que acabem as contínuas violências que obrigam tantas pessoas a viver deslocadas e em condições de grande sofrimento. Ao Sudão do Sul chegarei juntamente com o Arcebispo de Cantuária e o Moderador da Assembleia Geral da Igreja da Escócia: viveremos assim juntos, como irmãos, uma peregrinação ecuménica de paz.
A todos peço, por favor, que acompanheis esta Viagem com a oração.
E desejo a todos bom domingo. E por favor, não vos esqueçais de rezar por mim. Bom almoço e até à vista!