O estigma da hanseníase «continua a causar graves violações dos direitos humanos em várias partes do mundo», recordou o Papa Francisco na mensagem enviada aos participantes no segundo simpósio sobre a doença de Hansen, inaugurada no dia 23 de janeiro em Roma, no Instituto patrístico “Augustinianum”. O tema dos trabalhos, encerrados no dia seguinte, foi: «Não deixar ninguém para trás».
Ilustres Senhoras e Senhores
irmãs e irmãos!
Uma calorosa saudação a todos vós, por ocasião do segundo Simpósio sobre a doença de Hansen. Agradeço-vos o vosso compromisso a favor das pessoas que sofrem desta patologia e que são frequentemente esquecidas e descartadas pela sociedade. Sois como o bom Samaritano que se inclina para curar os mais frágeis e restabelecer os seus direitos negados e a sua dignidade.
O Simpósio de hoje realiza-se a poucos dias do 70º Dia Mundial dos doentes de hanseníase, iniciado por Raul Follereau em 1953 para sensibilizar a opinião pública sobre uma enfermidade que muitos julgam extinta. O que nos deve preocupar, hoje mais do que então, é que pode ser esquecida não só a doença, mas também as pessoas.
A lepra, também conhecida como doença de Hansen, é uma das enfermidades mais antigas da história humana. O que nem sequer a Bíblia por si só nos recorda de modo suficiente é que o estigma ligado à lepra continua a causar graves violações dos direitos humanos em várias partes do mundo. «Crescemos em muitos aspetos, mas somos analfabetos em acompanhar, cuidar e sustentar os mais frágeis e vulneráveis das nossas sociedades desenvolvidas. Habituamo-nos a olhar para o outro lado, a passar à margem, a ignorar as situações, enquanto elas não nos atingem diretamente» (Enc. Fratelli tutti, 64). Não podemos esquecer estes nossos irmãos e irmãs. Não devemos ignorar esta doença, que infelizmente ainda atinge muitos, especialmente em contextos sociais mais desfavorecidos.
Pelo contrário, convictos da vocação da família humana à fraternidade, deixemo-nos interpelar e interrogar: «Debruçar-nos-emos para tocar e curar as feridas dos outros? Abaixar-nos-emos para levar o outro às costas? Este é o desafio atual, de que não devemos ter medo» (ibid., 70).
Então, aproveitemos a ocasião do Dia mundial dos doentes de hanseníase para rever os nossos modelos de desenvolvimento e denunciar e procurar corrigir as discriminações que eles causam. Esta é uma ocasião propícia para renovar o nosso compromisso de construir uma sociedade inclusiva, que não deixe ninguém à margem.
Com efeito, a denúncia deve ser sempre acompanhada por uma proposta, como síntese entre o bem que silenciosamente já existe e visões proféticas, capazes de inspirar uma caridade estruturada e uma convivência mais justa. Nisto, são preciosos a vossa contribuição, o estímulo e a ajuda que ofereceis às Igrejas locais, para que permaneçam ao lado dos descartados e saibam acompanhar ativamente os processos de inclusão e de desenvolvimento humano integral.
De modo específico, devemos perguntar-nos como melhor colaborar com as pessoas que sofrem de lepra, tratando-as plenamente como pessoas, reconhecendo-as como protagonistas principais na sua luta para participar nos direitos humanos fundamentais e viver como membros da comunidade com plenos direitos.
Faço votos a fim de que este Simpósio contribua para reunir as vozes do mundo inteiro e para encontrar medidas que possam ser tomadas para promover ainda mais o respeito pela dignidade humana.
Manifesto a minha proximidade a quantos sofrem da doença de Hansen e encorajo a continuar a trabalhar para que não lhes faltem o apoio espiritual e os cuidados de saúde. Que as comunidades cristãs se deixem evangelizar por estes irmãos e irmãs, permanecendo na linha da frente nos esforços para a sua plena integração.
Caros amigos, que vos assistam Maria Santíssima e os numerosos santos e santas que serviram Cristo nas pessoas que sofrem de lepra. Abençoo-vos de coração e rezo por vós, pelos doentes, pelas suas famílias e por aqueles que, carinhosamente, cuidam deles. Que todos possais experimentar que Jesus veio para que cada homem e cada mulher possa ter vida, e vida em abundância (cf. Jo 10, 10).
Roma, São João de Latrão
17 de janeiro de 2023
memória de Santo
António Abade.
Francisco