· Cidade do Vaticano ·

O Papa a uma delegação ecuménica da Finlândia para a festa de Santo Henrique

A guerra é sempre uma derrota Reconciliar-se para ser agentes de reconciliação

 A guerra é sempre uma derrota Reconciliar-se para ser agentes de reconciliação  POR-004
26 janeiro 2023

«A guerra é sempre uma derrota, sempre... Somos filhos reconciliados e, portanto, chamados a reconciliar-nos cada vez mais entre nós, e a ser agentes de reconciliação no mundo», disse o Papa Francisco a uma delegação ecuménica da Finlândia, recebida em audiência na Biblioteca particular do Palácio apostólico na manhã de 19 de janeiro por ocasião da festa de Santo Henrique. Estavam presentes o cardeal Kurt Koch e o bispo Brian Farrell, respetivamente presidente e secretário do Dicastério para a promoção da unidade dos cristãos.

Estimadas irmãs
caros irmãos!

Dou as calorosas boas-vindas a todos vós, membros da Delegação ecuménica da Finlândia! Obrigado porque este ano viestes a Roma para celebrar a festa de Santo Henrique com uma ênfase ainda mais ecuménica: estou verdadeiramente feliz por receber representantes não apenas luteranos e católicos, mas também ortodoxos e metodistas. Prezada irmã, estou grato pelas suas amáveis palavras e pelas condolências expressas pela morte do meu predecessor Bento xvi . Estou igualmente grato pelo que evocou de modo sugestivo através da imagem do mar Báltico, fonte de vida ameaçada pela ação humana, lugar de encontro que sofre dolorosamente devido ao clima de confronto causado pela feroz insensatez da guerra. A guerra é sempre uma derrota, sempre!

Quero retomar sobretudo o que disse a propósito das águas, que para nós cristãos evocam o dom da reconciliação recebido no Batismo. Acabamos de celebrar o Batismo do Senhor. Imergindo-se nas águas do Jordão no início do seu ministério público, o Filho de Deus manifestou a vontade de se inserir completamente na nossa condição humana. E nós, batizados em Cristo, por pura graça, fomos imersos n’Ele: é por isso que nos chamamos e somos filhos de Deus à sua imagem, irmãos e irmãs entre nós. Tendo recebido o único Batismo, como crentes somos, portanto, chamados em primeiro lugar a dar graças porque, a partir das águas do Batismo, a nossa existência foi reconciliada com Deus, com os outros, com a criação. Somos filhos reconciliados e por isso somos chamados a reconciliar-nos cada vez mais entre nós, e a ser agentes de reconciliação no mundo.

É bom constatar tudo isto na Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos. Nela, recitando juntos o Credo niceno-constantinopolitano, professamos «um só batismo para o perdão dos pecados», mas este ano também refletimos sobre algumas palavras tiradas do livro do profeta Isaías: «Aprendei a praticar o bem, procurai a justiça» (Is 1, 17). Assim sentimos o eco do nosso Batismo, que nos exorta, enquanto justificados pela graça, a realizar com gratuidade obras de justiça, a praticar gestos concretos de proximidade a favor de quantos são vítimas de injustiças, de descarte, de várias formas de opressão e sobretudo de guerras. Como testemunhas da fé em Cristo, que se inseriu na fragilidade da nossa condição humana, somos obrigados a mergulhar nas feridas dos necessitados. E a fazê-lo juntos.

Na comunidade de todos os batizados, sabemos que estamos realmente unidos entre nós, aqui e agora, com cada irmã e irmão em Cristo, mas também com as nossas mães e pais na fé que viveram antes de nós. Da comunhão perfeita do Céu olham para nós e convidam-nos a caminhar juntos nesta terra. Santo Henrique, testemunha de fé, mensageiro de esperança e instrumento de caridade, é um deles. Com ele celebramos a comunhão ecuménica de todos os santos, conhecidos e desconhecidos, renascidos para uma nova vida a partir das águas do Batismo. Portanto, podemos abraçar com o olhar a graça original do Batismo e, simultaneamente, a meta da vida eterna; a fonte de vida que na terra nos tornou filhos do Céu e o Céu onde os santos nos esperam e nos encorajam. Em tudo, reconheçamos como é grande a unidade que nos é comum, e como é importante rezar juntos, trabalhar de modo assíduo e dialogar intensamente para superar as divisões e ser, segundo a vontade do Senhor, um só na comunhão trinitária, a fim de que o mundo creia (cf. Jo 17, 21).

Certamente estamos cientes disto, mas a consciência por si só não é suficiente. É preciso alimentar uma verdadeira paixão, uma paixão que brota do amor pela comunhão, do desejo de superar o contratestemunho dado pelas dilacerações históricas entre os cristãos, que tanto feriram a unidade do Corpo de Cristo. É necessário, sobretudo hoje, um zelo ardente pela evangelização, pois anunciando juntos redescobrimo-nos irmãos e irmãs; e porque nos damos conta de que não podemos propagar dignamente o nome de Jesus, que nasceu, morreu e ressuscitou por todos, sem dar testemunho da beleza da unidade, sinal distintivo dos seus discípulos.

Caríssimos, ao renovar a gratidão pela vossa visita anual, sempre esperada e apreciada, gostaria de pedir hoje convosco o dom desta paixão fervorosa para que não nos cansemos de amar, esperar, procurar os distantes, arder dentro com o desejo de anunciar Jesus e edificar a unidade pela qual Ele tanto anseia. Peçamos o dom de um renovado zelo apostólico, para nos levar a redescobrir os outros crentes como nossos irmãos e irmãs em Cristo, que nos faça sentir como apóstolos reconciliados por Deus para nos reconciliarmos entre nós e para nos tornarmos artífices de reconciliação para o mundo. Por isso, agora gostaria de vos convidar a recitar juntos o Pai-Nosso, a oração dos filhos que, melhor do que qualquer outra, manifesta a realidade do nosso Batismo. Podemos recitá-la cada qual na própria língua, mas juntos: uns com os outros e uns pelos outros!