Unidade dos cristãos
A semana de oração pela unidade dos cristãos iniciada a 18 de janeiro e o anúncio de uma vigília ecuménica programada para o dia 30 de setembro para confiar a Deus os trabalhos do Sínodo. Estes foram os temas abordados pelo Papa Francisco no final do Angelus de domingo 15 de janeiro. Antes da recitação mariana, da janela do Palácio apostólico, o Pontífice ofereceu aos quinze mil fiéis presentes na praça de São Pedro uma meditação sobre a figura de João Batista, protagonista do Evangelho dominical.
Estimados irmãos e irmãs bom domingo!
O Evangelho da liturgia de hoje (cf. Jo 1, 29-34) relata o testemunho de João Batista sobre Jesus, depois de o ter batizado no rio Jordão. Lê-se assim: «Este é aquele de quem eu disse: Depois de mim virá alguém que passou à minha frente, porque era antes de mim» (vv. 29-30).
Esta declaração, este testemunho, revela o espírito de serviço de João. Ele tinha sido enviado para preparar o caminho ao Messias e tinha-o feito sem se poupar. Humanamente falando, poder-se-ia pensar que lhe seria reconhecido um “prémio”, um lugar relevante na vida pública de Jesus. Mas não. João, tendo cumprido a sua missão, sabe afastar-se, retira-se de cena para dar lugar a Jesus. Viu o Espírito descer sobre Ele (cf. vv. 33-34), indicou-o como o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, e agora ele, por sua vez, põe-se em humilde escuta. De profeta torna-se discípulo. Ele pregou ao povo, reuniu discípulos e formou-os durante muito tempo. No entanto, não vincula ninguém a si. E isto é difícil, mas é o sinal do verdadeiro educador: não ligar as pessoas a si mesmo. João faz isto: coloca os seus discípulos nas pegadas de Jesus. Ele não está interessado em ter um séquito para si, em obter prestígio e sucesso, mas dá testemunho e depois dá um passo atrás, para que muitos possam ter a alegria de encontrar Jesus. Podemos dizer: ele abre a porta e sai.
Com este espírito de serviço, com a sua capacidade de dar lugar a Jesus, João Batista ensina-nos algo importante: a libertação dos apegos. Sim, porque é fácil apegar-se a papéis e posições, à necessidade de ser estimado, reconhecido e recompensado. E isto, embora seja natural, não é bom, porque o serviço requer gratuidade, cuidar dos outros sem benefício para si mesmo, sem segundas intenções, sem esperar retribuição. Também a nós fará bem cultivar, como João, a virtude de nos afastarmos no momento apropriado, testemunhando que o ponto de referência na vida é Jesus. Pôr-se de lado, aprender a despedir-se: cumpri esta missão, este encontro, afasto-me e deixo espaço ao Senhor. Aprender a afastar-se, a não pretender algo como uma retribuição para nós.
Pensemos em como isto é importante para um sacerdote, que é chamado a pregar e a celebrar, não por protagonismo ou interesse, mas para acompanhar os outros a Jesus. Pensemos como isto é importante para os pais, que criam os filhos com tantos sacrifícios, mas depois têm de os deixar livres para seguirem o próprio caminho no trabalho, no matrimónio, na vida. É bom e correto que os pais continuem a assegurar a sua presença, dizendo aos seus filhos: “Não vos deixaremos sozinhos”, mas discretamente, sem intrusões. A liberdade de crescer. E o mesmo se aplica a outros âmbitos, como a amizade, a vida de casal, a vida comunitária. Libertar-se dos apegos do próprio ego e saber afastar-se custa, mas é muito importante: é o passo decisivo para crescer no espírito de serviço, sem procurar retribuição.
Irmãos, irmãs, procuremos perguntar-nos: somos capazes de deixar espaço aos outros? De os ouvir, de os deixar livres, de não os ligar a nós pretendendo reconhecimentos? Inclusive de os deixar falar, às vezes. Não dizer: “Mas não sabes nada!”. Deixar falar, dar espaço aos outros. Atraímos os outros para Jesus ou para nós mesmos? E ainda, seguindo o exemplo de João: sabemos como nos regozijar que as pessoas empreendam o próprio caminho e sigam a sua chamada, mesmo que isso signifique um pouco de desapego de nós? Regozijamo-nos com as suas realizações, com sinceridade e sem inveja? Isto significa deixar que os outros cresçam.
Que Maria, a serva do Senhor, nos ajude a libertar-nos dos apegos, a dar espaço ao Senhor e aos demais.
Depois do Angelus, o Papa falou sobre o iminente oitavário ecuménico e da próxima assembleia sinodal, e lançou um novo apelo a favor da Ucrânia devastada pela guerra.
Prezados irmãos e irmãs!
De 18 a 25 de janeiro, terá lugar a tradicional Semana de Oração pela unidade dos cristãos. O tema deste ano foi tirado do profeta Isaías: «Aprendei a fazer o bem, procurai a justiça» (1, 17). Demos graças ao Senhor que fiel e pacientemente guia o seu povo para a plena comunhão, e peçamos ao Espírito Santo que nos ilumine e sustente com os seus dons.
O caminho para a unidade dos cristãos e o caminho de conversão sinodal da Igreja estão ligados. Por isso, aproveito esta oportunidade para anunciar que a 30 de setembro próximo terá lugar na Praça de São Pedro uma Vigília ecuménica de oração, com a qual confiaremos a Deus os trabalhos da xvi Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos. Para os jovens que vierem à Vigília haverá um programa especial durante aquele fim de semana, organizado pela Comunidade de Taizé. Desde já, convido os irmãos e as irmãs de todas as confissões cristãs a participarem neste encontro do Povo de Deus.
Irmãos e irmãs, não esqueçamos o martirizado povo ucraniano, que sofre muito! Permaneçamos próximos deles com os nossos sentimentos, com a nossa ajuda, com a nossa oração.
E agora saúdo-vos, romanos e peregrinos aqui reunidos. Em particular, saúdo os fiéis espanhóis de Múrcia e os de Sciacca na Sicília. Que a visita ao túmulo de Pedro reforce a vossa fé e o vosso testemunho.
A todos desejo bom domingo. Por favor, não vos esqueçais de rezar por mim. Bom almoço e até à vista.