As «armas da paz» são «o encontro, o diálogo, o acolhimento», recordou o Papa Francisco quando se encontrou na manhã de sábado 7 de janeiro, na Sala Clementina, com cerca de trezentos voluntários do Serviço missionário juvenil ( sermig ). A seguir, o discurso do Pontífice.
Estimados irmãos e irmãs
bom dia e bem-vindos!
Obrigado, caro Ernesto, pela tua saudação. E obrigado a todos vós por terdes vindo. Saúdo também os membros do sermig que não puderam vir e que participam à distância.
Hoje temos a ocasião de dar graças juntos ao Senhor pelo sermig, que é uma espécie de árvore grande que cresceu a partir de uma pequena semente. Assim são as realidades do Reino de Deus. A pequena semente que o Senhor lançou em Turim no início da década de 1960. Um tempo muito fecundo, basta pensar no Pontificado de São João xxiii e no Concílio Vaticano ii . Nesses anos, várias experiências de serviço e vida comunitária germinaram na Igreja, a começar pelo Evangelho. E onde houve uma continuidade, graças a algumas vocações que receberam respostas generosas e constantes, estas experiências foram estruturadas e cresceram procurando corresponder aos sinais dos tempos. O sermig , Serviço missionário juvenil, é uma delas. Nasceu em Turim de um grupo de jovens; mas seria melhor dizer: de um grupo de jovens com o Senhor Jesus. Afinal, Ele disse claramente aos seus discípulos: «Sem mim nada podeis fazer» (Jo 15, 5). Através dos frutos pode-se ver claramente que no sermig não houve mero ativismo, mas deixou-se espaço a Ele: a Ele implorado, a Ele adorado, a Ele reconhecido nos pequeninos e nos pobres, a Ele acolhido nos marginalizados. Sempre Ele, olhando para Ele.
Na história do sermig há muitos acontecimentos, muitos gestos que podem ser lidos como pequenos e grandes sinais do Evangelho vivo. Mas entre todos estes há um que, neste momento da história, se destaca com uma força extraordinária. Refiro-me à transformação do Arsenal Militar de Turim no “Arsenal da Paz” . Este é um facto que fala por si. É triste que seja uma mensagem dramaticamente atual e que se deve repetir de forma contínua.
Também aqui, devemos prestar atenção a não “sair da estrada”. O Arsenal da Paz — como as outras realizações do sermig, e em geral todas as obras das comunidades cristãs — é um sinal do Evangelho, não tanto pelos números que quantificam a operação. Não devemos parar nisto. O Arsenal de Paz é fruto do sonho de Deus, poderíamos dizer do poder da Palavra de Deus. Esse poder que sentimos quando ouvimos a profecia de Isaías: «das suas espadas forjarão relhas de arados / e das suas lanças, foices / Uma nação não levantará a espada contra outra nação / e não se adestrarão mais para a guerra» (2, 4). Este é o sonho de Deus que o Espírito Santo realiza na história através do seu povo fiel. Assim foi também para vós: através da fé e boa vontade de Ernesto, da sua esposa e do primeiro grupo do sermig , tornou-se o sonho de muitos jovens. Um sonho que moveu braços e pernas, animou projetos, ações, e se concretizou na conversão de um arsenal de armas num arsenal de paz.
E o que se “fabrica” no Arsenal da Paz? O que se constrói? Fabricam-se artesanalmente as armas da paz, que são o encontro, o diálogo e o acolhimento. E como são fabricados? Através da experiência: no Arsenal, os jovens podem aprender concretamente a encontrar-se, dialogar, acolher. Este é o caminho, porque o mundo muda na medida em que mudamos. Enquanto os senhores da guerra forçam tantos jovens a lutar contra os seus irmãos e irmãs, precisamos de lugares onde possamos experimentar a fraternidade. Eis a palavra: fraternidade. Com efeito, o sermig chama-se “fraternidade da esperança”. Mas também pode ser dizer o contrário, ou seja, “a esperança da fraternidade”. O sonho que anima os corações dos amigos do sermig é a esperança de um mundo fraterno. Foi o “sonho” que eu quis relançar na Igreja e no mundo através da Encíclica Fratelli tutti (cf. n. 8). Já partilhais este sonho, aliás, fazeis parte dele, contribuís para lhe dar carne, para lhe dar mãos, olhos, pernas, para lhe dar vida. Por isto quero dar graças a Deus convosco, pois esta é uma obra que não pode ser feita sem Deus. Porque a guerra pode ser feita sem Deus, mas a paz só pode ser feita com Ele.
Prezados amigos do sermig , nunca vos canseis de construir o Arsenal da Paz! Mesmo que o trabalho possa parecer concluído, na realidade é um canteiro sempre aberto. Sabeis bem isto, e de facto nos últimos anos desta vida ao Arsenal da Esperança em São Paulo no Brasil, ao Arsenal do Encontro em Madaba na Jordânia, e ao Arsenal da Harmonia em Pecetto Torinese. Mas todas estas realidades: paz, esperança, encontro, harmonia, são construídas apenas com o Espírito Santo, o Espírito de Deus. É Ele quem cria paz, esperança, encontro, harmonia. E os canteiros vão em frente se aqueles que neles trabalham se permitirem ser trabalhados pelo Espírito. Dir-me-eis: e quem não acredita, e quem não é cristão? Isto pode parecer-nos um problema, mas certamente não a Deus. Ele, o seu Espírito, fala ao coração de qualquer pessoa que saiba ouvir. Todos os homens e mulheres de boa vontade podem trabalhar nos Arsenais da paz, da esperança, do encontro e da harmonia.
No entanto, é preciso alguém cujo coração esteja firmemente enraizado no Evangelho. É necessária uma comunidade de fé e de oração que mantenha o fogo aceso para todos. Aquele fogo que Jesus veio trazer à terra e que agora arde para sempre (cf. Lc 12, 49). E aqui vemos também o significado de uma comunidade de pessoas que abraça plenamente a vocação e missão da fraternidade e a realiza de maneira estável.
Estimados irmãos e irmãs, agradeço-vos por este encontro, e sobretudo pelo vosso testemunho e compromisso. Ide em frente! Que Nossa Senhora vos proteja e vos acompanhe. Abençoo-vos de coração, e peço-vos, por favor, que rezeis por mim. Obrigado!