Lugar para estudantes
Amigos, vizinhos e colegas de escola de religião hindu e muçulmana, e depois a sua família de fé cristã: esta sempre foi a rotina diária da irmã Gracy, hoje superiora delegada na Índia da congregação das Filhas da Igreja. A irmã Gracy Joseph Vadakara cresceu num contexto multirreligioso e, assim, fez deste hábito de diálogo uma caraterística distintiva da sua missão. Com efeito, tornou-se promotora de vários projetos para escolas na Índia, onde as irmãs da sua congregação trabalham, como uma pequena biblioteca inter-religiosa e concursos com prémios destinados aos estudantes para refletirem sobre o tema da diversidade.
«O diálogo inter-religioso está no meu adn , porque nasci na Índia», explica a consagrada. O seu percurso interior e humano foi marcado, quando era menina, por um episódio: a participação numa cerimónia inter-religiosa, que semeou no seu coração o desejo de aprofundar este tema.
Depois veio a chamada à vida consagrada nas Filhas da Igreja, congregação com marcada vocação ecuménica, fundada por Maria Oliva Bonaldo na primeira metade do século xx , que abrange uma espiritualidade de comunhão com a Igreja e um compromisso constante na oração pela unidade dos cristãos. Mais tarde, a irmã Gracy dedicou-se aos estudos, obtendo um doutoramento em teologia e ecumenismo pela Universidade de S. Tomás de Aquino em Roma e um diploma em estudos inter-religiosos com a Bolsa “Russell Berrie” do Centro João Paulo ii para o Diálogo Inter-religioso. Graças a este programa de estudos — que visa formar uma classe de liderança capaz de construir pontes entre pessoas de diferentes credos — a irmã Gracy conseguiu fazer frutificar as suas capacidades e ideias.
Com efeito, não há limites para a criatividade quando se trata de iniciativas que visam semear a beleza de viver juntos em harmonia, especialmente quando os destinatários são os mais jovens. Há três anos, na região do Kerala, no sul da Índia, nasceu a primeira biblioteca inter-religiosa numa das escolas da congregação das Filhas da Igreja. Após a aquisição dos textos e a constituição material do espaço cultural, a irmã Gracy ativou-se para animar dias de formação sobre as diferentes religiões, para despertar o interesse dos estudantes, mas também dos professores. Diante da Bíblia, do Alcorão e de outros textos sagrados, os participantes no projeto de diferentes religiões puderam confrontar-se e descobrir novos aspetos uns dos outros. Então participaram num pequeno concurso de conhecimentos, que ajudou a manter alta a atenção no seminário de formação.
«Creio firmemente — afirma a religiosa — que uma biblioteca inter-religiosa é um lugar de encontro para estudantes pertencentes a qualquer religião. Os jovens crescem, mas trazem sempre consigo o espírito que receberam na escola primária».
Depois, na sequência desta primeira iniciativa, foram lançados outros projetos, como um concurso de desenho sobre o tema “Unidade na diversidade” para estudantes, no qual os professores podiam concorrer, escrevendo um ensaio sobre o mesmo tema. No final do ano académico, foi organizado um dia de itinerário inter-religioso para os professores, para os levar à descoberta dos lugares sagrados de diferentes tradições religiosas: o templo, a igreja, a mesquita, a sinagoga. Um dia surpreendente, que despertou muito entusiasmo nos professores e naqueles que abriram as portas dos seus lugares sagrados.
Após os anos difíceis da pandemia, a irmã Gracy tenciona repetir os seminários sobre as religiões na escola que hospeda a biblioteca inter-religiosa, mas o seu compromisso não se limita a isto. Com efeito, a sua função de superiora delegada na congregação das Filhas da Igreja leva-a a viajar muito na Índia, para se encontrar com as numerosas comunidades e religiosas. «Algumas das nossas irmãs trabalham nas escolas da diocese, explica a irmã Gracy. Onde quer que eu vá, falo sempre da importância do diálogo inter-religioso entre os professores e entre os alunos. Devemos estar enraizados na nossa fé, onde encontramos a salvação, mas também acho que devemos respeitar aquilo em que os outros acreditam».
Nas escolas, a irmã Gracy insiste muito sobre a importância de celebrar as festas religiosas, a fim de que se tornem oportunidade de diálogo e alegria para todos, independentemente da tradição de pertença. «Como cristãos devemos acolher todos, sem nunca ceder a compromissos com o que somos».
Beatrice Guarrera
#sistersproject