Construir a paz no tempo
«Começais o vosso novo cargo diplomático num momento de maior sensibilidade política, devido às crescentes violações do direito internacional e àquilo a que há muito tempo defini uma terceira guerra mundial combatida em pedaços. Se quisermos que a paz tenha uma possibilidade... todos somos chamados a uma maior vigilância», disse o Papa no discurso dirigido aos novos embaixadores de Belize, Bahamas, Tailândia, Noruega, Mongólia, Níger, Uganda e Sudão, recebidos em audiência a 15 de dezembro na sala Clementina, para a apresentação das cartas com as quais são acreditados junto da Santa Sé.
Dou as calorosas boas-vindas a cada um de vós por ocasião da apresentação das Cartas com que sois acreditados como Embaixadores Extraordinários e Plenipotenciários dos vossos países junto da Santa Sé: Belize, Bahamas, Tailândia, Noruega, Mongólia, Níger, Uganda e Sudão. Peço-vos que transmitais os meus sentimentos de estima aos vossos respetivos Chefes de Estado, com a garantia das minhas orações por eles e por todas as pessoas às quais o seu serviço é dirigido.
Ao assumir as novas responsabilidades, desejo antes de mais reconhecer a multiplicidade do modo como as vossas nações contribuem para o bem comum não só dos próprios cidadãos, mas da inteira família humana. Cada um de vós partilha, com razão, a preocupação de construir a comunidade internacional, como demonstra a vossa participação nas várias organizações e instituições internacionais que são expressão prática da exigência de solidariedade e cooperação entre os povos.
Nesta tarefa vital e coletiva de procurar salvaguardar e fazer progredir o bem-estar de homens e mulheres em todo o mundo, especialmente nos nossos dias, marcados pelos problemas persistentes da crise sanitária global e pelos conflitos violentos que ocorrem em todo o mundo, a ação concertada de toda a família das nações e o trabalho da diplomacia são necessários como nunca. Sem eles não é possível proteger a dignidade e os direitos humanos de todos, promover a justiça, a reconciliação e o diálogo em prol de uma paz duradoura, nem cuidar da nossa casa comum como dom precioso para nós e para as gerações futuras.
Em particular, começais o vosso novo cargo diplomático num momento de maior sensibilidade política, devido às crescentes violações do direito internacional e àquilo a que há muito tempo defini como uma terceira guerra mundial combatida em pedaços. Se quisermos que a paz tenha uma possibilidade e que os pobres tenham a perspetiva de um futuro melhor, sobretudo nas partes do mundo onde conflitos prolongados ameaçam gerar conformismo na consciência pública, somos todos chamados a mostrar uma maior vigilância e a responder à chamada a ser construtores de paz no nosso tempo.
Ao enfrentar tais desafios, cada uma das vossas nações, quer seja antiga ou jovem, pode recorrer a uma vasta herança de tesouros históricos, intelectuais, tecnológicos, artísticos e culturais, que são contribuições únicas e peculiares dos vossos povos. Ao mesmo tempo, prestando homenagem à engenhosidade daqueles que representais, e que certamente deixará um legado de bem para o futuro, vejo os vossos recursos nacionais não só como aptidões e competências a ser celebradas e cultivadas, nem simplesmente como padrões elevados dos quais justamente se orgulhar; os vossos recursos e talentos são também dons que podem ser postos ao serviço de todo o mundo, tanto em contextos bilaterais como multilaterais, para melhorar a humanidade.
Oferecendo generosamente os próprios recursos materiais, humanos, morais e espirituais, os países respondem a uma vocação nobre e essencial. De facto, só poderemos encontrar soluções se nos esforçarmos por abordar os problemas da humanidade de forma cada vez mais integrada e solidária. E não só para os supramencionados. Deve ser chamada a atenção também para outras situações generalizadas relativas aos direitos humanos fundamentais: a falta de acesso universal à água potável, alimentos ou cuidados básicos de saúde; a necessidade de assegurar a educação de todos aqueles que são demasiadas vezes excluídos; assim como a oportunidade de trabalho digno para todos. Penso também nos doentes, nos deficientes, nos jovens — especialmente nas jovens — que não têm oportunidades suficientes para realizar o próprio potencial; bem como naqueles que provêm de contextos empobrecidos e correm o risco de ser deixados para trás, esquecidos ou até deliberadamente excluídos da plena participação nas suas comunidades.
Através de uma constante sensibilização da condição dos que estão à margem da sociedade, o vosso papel de diplomatas pode ajudar a iluminar os ângulos mais obscuros do nosso mundo, trazer para o centro aqueles que estão na periferia e dar voz a quantos não a têm ou foram silenciados. Espero que no exercício das vossas elevadas funções possais procurar, tanto aqui em Roma como noutros lugares, novas e criativas formas de promover a solidariedade e a amizade social, particularmente com os nossos irmãos e irmãs mais vulneráveis (cf. Enc. Fratelli tutti, 112-117). A este respeito, asseguro-vos a colaboração e o apoio da Secretaria de Estado e dos Dicastérios e Departamentos da Cúria Romana. Com base nas numerosas iniciativas e áreas de interesse comum existentes, estou confiante de que as relações positivas e cordiais entre os vossos países e a Santa Sé continuarão a desenvolver-se e a dar frutos.
Caros Embaixadores, ao iniciardes a nova missão ao serviço das vossas nações, apresento-vos os meus mais calorosos bons votos para o vosso importante trabalho. Sobre vós, as vossas famílias e todos os vossos concidadãos, invoco de bom grado as abundantes bênçãos do Todo-Poderoso. Obrigado!