«Hoje, as colonizações ideológicas destroem a personalidade humana e, quando entram na educação, causam desastres», disse Francisco aos representantes da União mundial dos professores católicos, recebidos em audiência na manhã de 12 de novembro, na sala do Consistório.
Estimados irmãos e irmãs bom dia e bem-vindos!
Agradeço ao Presidente as suas palavras de saudação e a todos vós, que pertenceis à União Mundial dos Professores Católicos ( umec ). Saúdo e agradeço ao Cardeal Farrell, ao Arcebispo Dollmann que é o Assistente eclesiástico, aos demais Bispos presentes e ao Secretário do Dicastério para a Cultura e a Educação.
Reunistes-vos nestes dias aqui em Roma para a vossa Assembleia Geral, que deverá também eleger o novo Conselho internacional. Manifesto a minha gratidão aos membros do Comité de Presidência cessante pelo serviço fiel e generoso prestado durante muitos anos, na certeza de que o trabalho levado a cabo — com abnegação e grande paixão — dará frutos no futuro: trabalho para dar frutos!
Vivestes tempos não fáceis na vossa história recente, inclusive com momentos de dúvida e desânimo. Às vezes parecia quase como se já não houvesse condições para continuar, que se devia terminar. Mas graças a Deus, até nestes períodos de borrasca, perseverastes! Confiastes em Deus e no apoio da Igreja, continuastes a empenhar-vos num espírito de fé e de esperança cristã. Tende a certeza: as sementes lançadas na esperança criam raízes e crescem sempre!
Também a umec , como muitas outras associações católicas, está diante do desafio da mudança geracional, que diz respeito particularmente aos dirigentes. Convido-vos a considerar esta exigência com um olhar positivo. A realidade nunca é estática, é dinâmica. E isto, naturalmente, é válido também para as agregações eclesiais: evoluem e desenvolvem-se com a mudança dos tempos, e cada mudança de época coloca-as diante de uma nova missão. Portanto, a renovação dentro de vós e nas funções de maior responsabilidade deve ser vista como o início de uma nova missão, como uma oportunidade para relançar vigorosamente as vossas atividades de serviço e de apoio às novas gerações de professores católicos, tanto dos que trabalham nas escolas católicas como dos que trabalham em instituições interconfessionais ou seculares.
A vossa União propõe-se encorajar e motivar todos estes professores, para que estejam plenamente conscientes da sua importante missão de educadores e testemunhas da fé, individualmente ou no âmbito de grupos de colegas. A tal propósito, propondes-vos ser uma rede de colegas de profissão e irmãos e irmãs na fé que, em espírito e estilo de amizade, acolhimento, conhecimento mútuo e crescimento espiritual comum, se colocam ao serviço de todos os professores católicos, para que preservem a sua identidade e cumpram a sua missão. Diria que nesta tarefa sois “colaboradores do Papa”: com efeito, a missão do Sucessor de Pedro é precisamente confirmar e apoiar os irmãos na fé (cf. Lc 22, 32). E assim, no mundo da escola, tornais presente o serviço da Igreja de corroborar na fé os professores católicos, para que possam desempenhar melhor o seu trabalho e o seu testemunho, em situações muitas vezes complexas tanto a nível relacional como institucional.
A presença de educadores cristãos no mundo escolar é de importância vital. E decisivo é o estilo que ele ou ela assume. Pois o educador cristão é chamado a ser plenamente humano e ao mesmo tempo plenamente cristão. Não há humanismo sem cristianismo. E não há cristianismo sem humanismo. Não deve ser espiritualista, em órbita, “fora do mundo”. Deve estar enraizado no presente, no seu tempo, na sua cultura. É importante que a sua personalidade seja rica, aberta, capaz de estabelecer relações sinceras com os estudantes, de compreender as suas necessidades mais profundas, as suas interrogações, os seus receios, os seus sonhos. E que também seja capaz de testemunhar — antes de mais com a vida e também com as palavras — que a fé cristã abraça todo o ser humano, tudo, que lança luz e verdade a todas as esferas da existência, sem nada excluir, sem cortar as asas aos sonhos dos jovens, sem empobrecer as suas aspirações. Com efeito, na tradição da Igreja a educação dos jovens teve sempre como objetivo a formação completa da pessoa humana, não apenas a instrução dos conceitos, a formação em todas as dimensões humanas (cf. conc. vat. ii , Constituição pastoral Gaudium et spes, 48).
A respeito desta missão educativa, vós da umec sois chamados a apoiar professores de todas as idades, de todas as condições de trabalho: quer aqueles com longa experiência — ricos de satisfações mas também de canseiras — quer as novas gerações, docentes animados pelo entusiasmo e desejo de trabalhar, mas com as fragilidades e incertezas que não raro marcam os primeiros anos de ensino. Todos estes professores — se olharmos para eles de uma perspetiva cristã, da qual eles próprios às vezes não estão plenamente conscientes — se encontram em condições de deixar uma marca, no bem ou no mal, na vida das crianças, adolescentes e jovens, que lhes são confiados durante muito tempo. Que responsabilidade! E que oportunidade para os introduzir, com sabedoria e respeito, nos caminhos do mundo e da vida, acompanhando as suas mentes a abrir-se ao verdadeiro, ao belo, ao bem. Sabemos, por experiência pessoal, como é importante ter bons professores e sábios educadores nos anos de formação!
Caros amigos, no vosso apostolado tendes justamente em conta que a arte de educar deve ser continuamente cultivada e enriquecida. Não é algo adquirido de uma vez por todas. E se isto é verdade para várias profissões, que requerem atualização, a do professor tem uma peculiaridade única: pois não se trabalha com objetos, mas com sujeitos! A educação tem a ver com seres humanos, e além disso na idade evolutiva. São pessoas que mudam de um ano para o outro, aliás, às vezes de um mês para o outro. Depois, os jovens de uma geração são diferentes dos da geração seguinte. Portanto, os educadores devem renovar-se constantemente nas motivações e formas de trabalho. Não podem ser rígidos. A rigidez destrói a educação. Na abordagem de diferentes grupos de alunos e estudantes, são chamados todos os anos a recomeçar de novo, a redescobrir a capacidade de empatia e comunicação. Neste sentido, a vossa tarefa consiste em ajudá-los a manter vivo o desejo de crescer com os seus estudantes, a encontrar as modalidades mais eficazes para transmitir a alegria do saber e o desejo de verdade, adotando linguagens e formas culturais adequadas aos jovens de hoje.
E sobre isto, permito-me salientar algo. Eu disse: “As linguagens adequadas às formas culturais de hoje”. Sim, mas prestai atenção às colonizações ideológicas. Uma coisa é estar com a cultura do momento, falar a língua do momento, outra coisa é deixar-se colonizar ideologicamente. Por favor: tende o cuidado de ensinar os professores a discernir o que é uma novidade que nos faz crescer e o que é uma ideologização, uma colonização ideológica. Hoje, as colonizações ideológicas destroem a personalidade humana e, quando entram na educação, causam desastres.
Gostaria de vos dirigir um último convite, que me é muito caro. A vossa União pode contribuir para sensibilizar os professores católicos a respeito do Pacto Global sobre a Educação. Como sabeis, esta iniciativa, que teve a adesão de muitas instituições educativas, visa «unir os esforços numa ampla aliança educacional para formar pessoas maduras, capazes de superar fragmentações e oposições, reconstruindo o tecido de relações para uma humanidade mais fraterna» (Mensagem para o lançamento do Pacto Educativo, 12 de setembro de 2019). Confio no vosso compromisso de envolver os professores da umec neste projeto, que deseja colocar no centro a pessoa na sua dignidade e beleza, e as famílias como principais sujeitos da educação.
Caros irmãos e irmãs, encorajo-vos a olhar em frente com esperança e a dar novo impulso à União dos Professores Católicos. Há um grande trabalho e uma importante missão que vos esperam no mundo escolar. Que Nossa Senhora e os Santos e Santas educadores vos acompanhem e vos inspirem. Também eu estou convosco neste desafio — não como santo ou santa, mas como companheiro de luta. Abençoo-vos de coração e peço-vos, por favor, que oreis por mim. Obrigado!