A árvore da vida e o semeador da paz

10 novembro 2022

«Estou aqui, na terra da árvore da vida, como semeador de paz, para viver dias de encontro».

Com estas palavras o Papa Francisco iniciou a sua 39ª viagem, ao Bahrein, que representa quase um terceiro ato em comparação com a viagem a Abu Dhabi em fevereiro de 2019 e ao Iraque em março de 2021.

Três viagens que se movem ao mesmo tempo para trás, para as raízes, para o início da história humana, mas também para a frente, para um futuro de paz e fraternidade que hoje parece frágil, em perigo, mas que pode ser construído se escolhermos o caminho do encontro e não o do conflito: «Estamos aqui juntos, porque pretendemos navegar no mesmo mar, escolhendo a rota do encontro em vez da do confronto, o caminho do diálogo indicado por este Fórum: «Oriente e Ocidente em prol da coexistência humana», disse o Papa no discurso de encerramento no Bahrain Forum for Dialogue. O próprio nome Bahrein, este pequeno Estado do arquipélago nas águas do Golfo pérsico, pode ser traduzido pela expressão “dois mares”, «pensemos nas águas do mar», evidenciou o Papa iniciando o seu discurso no Fórum «que põem em contacto as terras, e em comunicação as pessoas, ligando povos distantes. “O que a terra divide, o mar une”, afirma um antigo ditado. E o nosso planeta Terra, visto do alto, apresenta-se como um vasto mar azul, que liga margens distintas. Do céu, parece recordar-nos que somos uma família: não ilhas, mas um único grande arquipélago. É assim que o Altíssimo nos quer, e bem pode simbolizar o seu anseio este país, um arquipélago com mais de trinta ilhas».

Viver no mundo, mas com o olhar de Deus, ler a história à luz do Evangelho, este é o desafio hoje, como ontem, para o cristão. Por conseguinte, antes de mais, viver, ou seja, escolher a vida. Daqui a referência à árvore da vida, a primeira imagem à qual recorre o Papa, no discurso de ontem às autoridades ao chegar a Awali, inspirando-se neste “emblema de vitalidade” muito sentido no Bahrein: trata-se de uma majestosa acácia que, há séculos, sobrevive numa zona deserta, onde a chuva é muito escassa. «Parece impossível que uma árvore tão longeva resista e prospere em tais condições», observou Francisco, «na opinião de muitos, o segredo estaria nas raízes, que se estendem por dezenas de metros sob o solo, bebendo em depósitos subterrâneos de água». A presença destas abundantes nascentes de água doce criou uma reputação para o Bahrein como uma terra paradisíaca, recordou o Papa, «o antigo reino de Dilmun denominava-se “terra dos vivos”». A esta terra dos vivos, o bispo de Roma chega como semeador de paz, com a urgência de quem sabe que hoje, «no jardim da humanidade, em vez de cuidar do todo, brincamos com o fogo, com mísseis e bombas, com armas que provocam pranto e morte, cobrindo a casa comum de cinzas e de ódio». Para este jardim que corre o risco de morrer sufocado pelas cinzas da guerra, é essencial regressar às fontes de água fresca e limpa; este é o coração do primeiro discurso do Papa Francisco que vale a pena reler e meditar: «Eis a água vital da qual ainda hoje haurem as raízes do Bahrein, cuja maior riqueza brilha na sua variedade étnica e cultural, na coexistência pacífica e no tradicional acolhimento do seu povo. Uma diversidade que não é homologadora, mas inclusiva, representa o tesouro de qualquer país verdadeiramente evoluído».

É verdade que o mundo ocidental evoluiu no sentido da globalização, mas, observa o Papa, este processo causou-lhe a perda de algo precioso, isto é «“o espírito da aldeia”, a hospitalidade, a busca do outro, a fraternidade. Pelo contrário, testemunhamos com preocupação o crescimento, em grande escala, da indiferença e da desconfiança recíproca, a expansão de rivalidades e contrastes que se esperava terem sido superados, populismos, extremismos e imperialismos que põem em risco a segurança de todos. Apesar do progresso e de muitas realizações civis e científicas, a distância cultural entre as várias partes do mundo está a aumentar, e as oportunidades benéficas de encontros estão a ser substituídas por atitudes perversas de confronto».

Há uma água que pode fazer florescer novamente o jardim da humanidade, e é aquela que o Papa Francisco, semeador de paz e “rabdomante de esperança”, indica: «Pensemos na árvore da vida e nos desertos áridos da convivência humana, distribuamos a água da fraternidade: não deixemos que a possibilidade de encontros entre civilizações, religiões e culturas se evapore, não deixemos que as raízes da humanidade murchem! Trabalhemos juntos, trabalhemos pelo conjunto, em prol da esperança».

Andrea Monda