Juntos para promover
«Cristãos e hindus: promovamos juntos a convivialidade e a corresponsabilidade»: eis o tema da mensagem enviada a 17 de outubro pelo Dicastério para o diálogo inter-religioso, por ocasião da festa de Deepavali (ou seja, “festa das luzes”) que representa a vitória da verdade sobre a mentira, da luz sobre as trevas, da vida sobre a morte, do bem sobre o mal. Em 2022, a festa será celebrada por muitos hindus na próxima segunda-feira, 24 de outubro, mas a verdadeira festa dura três dias, marcando o início de um novo ano, a reconciliação familiar, especialmente entre irmãos e irmãs, e a adoração a Deus. Publicamos em seguida o texto, assinado pelo presidente, cardeal Miguel Ángel Ayuso Guixot, e pelo secretário, monsenhor Indunil Janakaratne Kodithuwakku Kankanamalage.
Prezados amigos hindus!
O Dicastério para o Diálogo Inter-Religioso, até agora conhecido como Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-Religioso, transmite-vos as suas jubilosas saudações e os melhores votos por ocasião de Deepavali, que este ano se celebra no dia 24 de outubro. Que esta festa de luzes possa conceder-vos a graça e a felicidade de vivificar não só a vossa vida, mas também a de cada um nas vossas famílias e comunidades e, num sentido mais amplo, na sociedade.
Crescentes tensões, conflitos e violências em várias partes do mundo, com base em identidades e supremacias religiosas, culturais, étnicas, raciais e linguísticas — frequentemente alimentadas por políticas competitivas, populistas e expansionistas, mas também por movimentos maioritários e minoritários e pelo uso descarado das redes sociais — são causa de preocupação para todos nós, pois ferem gravemente a coexistência social fraterna e pacífica. Neste contexto, a necessidade de promover a convivialidade e um espírito de corresponsabilidade entre as pessoas é vital e central. Continuando a nossa querida tradição, queremos partilhar convosco nesta ocasião algumas reflexões sobre o modo como nós, cristãos e hindus, podemos promover juntos a convivialidade e a corresponsabilidade, para o bem de cada um e de todos.
A convivialidade é tanto a qualidade de ser amistoso e vivaz, como a capacidade de viver entre aos outros com as suas individualidades, diversidades e diferenças, num espírito de respeito, amor e confiança. É o ato e a arte de forjar relações amistosas e fraternas, saudáveis e harmoniosas entre os seres humanos, por um lado, e entre os seres humanos e a natureza, por outro. Ela constrói-se diariamente, através de encontros pessoais e diálogo, escuta e compreensão mútuas, paciência e perseverança, com a convicção de que «a vida subsiste onde há vínculo, comunhão, fraternidade» (Papa Francisco, Encíclica Fratelli tutti — sobre a fraternidade e a amizade social, 2020, n. 87).
Além disso, a promoção da convivialidade comporta da nossa parte a assunção da responsabilidade recíproca e pela criação. Ela exige uma disponibilidade a caminhar e trabalhar em conjunto com caridade, fraternidade e um sentido de corresponsabilidade pelo bem comum. Além de sermos os primeiros a contribuir responsavelmente como podemos para o bem comum, é necessário que tornemos as pessoas que nos circundam responsáveis pela realização da convivialidade através do respeito pela dignidade transcendental de cada pessoa humana e pelos seus direitos legítimos decorrentes da mesma, a fim de trabalhar pelo bem-estar social e o desenvolvimento sustentável de todos, comprometendo-nos a viver em harmonia com cada pessoa e com a natureza. No caminho para a convivialidade, devemos enfrentar muitos desafios por causa da indiferença e do individualismo predominantes na nossa sociedade de hoje e, como crentes, não podemos ceder ao pessimismo mas, ao contrário, estar unidos e agir como exemplo para os outros.
Como as famílias, com o exemplo dos pais e dos idosos, desempenham um papel-chave na impressão dos nobres valores da convivialidade e da corresponsabilidade nos seus filhos e nos mais jovens, também a família dos líderes religiosos e grupos de todas as religiões do mundo, as instituições educativas, os meios de comunicação social, as organizações governamentais e não governamentais, partilham igualmente a responsabilidade de cultivar os valores da convivialidade e da corresponsabilidade com todos os meios à sua disposição. Assim, o diálogo inter-religioso, que segundo o Papa Francisco é “um sinal providencial” dos nossos tempos e “um caminho privilegiado para o crescimento da fraternidade e da paz no mundo” (Saudações aos Delegados do International Jewish Committee on InterReligious Consultations, 30 de junho de 2022), constitui sem dúvida um instrumento poderoso para inspirar e impelir pessoas de diferentes tradições religiosas a viver estes valores em fraternidade, unidade e solidariedade para o bem comum.
Como crentes e líderes das nossas comunidades religiosas, estamos enraizados nas nossas respetivas crenças e convicções, e partilhamos uma preocupação e responsabilidade comuns pelo bem-estar da família humana e da terra, nossa casa comum. Assim, possamos nós, cristãos e hindus, unir os nossos esforços com as pessoas de todas as outras tradições religiosas e com aquelas de boa vontade, para promover, individual e coletivamente, o espírito de convivialidade e coresponsabilidade para transformar este mundo numa morada segura para todos, onde viver alegremente em paz!
Desejamos-vos feliz Deepavali!