· Cidade do Vaticano ·

Conferência na Universidade católica de Díli

Na escola da fraternidade

 Na escola da fraternidade  POR-038
22 setembro 2022

Sendo o primeiro país do mundo cujo parlamento adotou oficialmente como «documento nacional» aquele sobre a fraternidade humana em prol da paz mundial e a convivência comum, Timor Leste «não está impregnado de fraternidade de forma abstrata, como aconteceu, com resultados trágicos, nas ideologias nacionalistas do século passado. Aqui, a fraternidade nasce e cresce através de histórias verdadeiras de encontro e reconciliação», reconheceu o arcebispo Edgar Peña Parra durante a conferência realizada na manhã de 20 de setembro, na Universidade católica de Díli, no âmbito da visita que iniciou no dia anterior na nação lusófona do sudeste asiático. Nessa circunstância, o substituto da Secretaria de Estado inaugurou o “Centro para a fraternidade humana de Timor Leste em prol da paz mundial” e agora o Documento, também conhecido como “Declaração de Abu Dhabi” (4 de fevereiro de 2019) foi introduzido no currículo das escolas públicas de todos os níveis.

No pronunciamento na universidade da capital, o prelado começou por elogiar o seu trabalho como «lugar de cultura e formação das gerações futuras» que lhes proporciona recursos capazes de elaborar «uma visão cristã da sociedade» inspirada nos valores da paz e da convivência comum. Em seguida, ofereceu uma reflexão acerca do Documento sobre a fraternidade humana à luz da homilia pronunciada por João Paulo ii na esplanada de Tasitolu a 12 de outubro de 1989, durante a sua histórica viagem a Timor Leste. O elemento central é a imagem do sal, a primeira que Jesus usa nos Evangelhos referindo-se aos seus discípulos, mas também a que foi aplicada aos timorenses pelo Papa Wojtyła. E assim, disse D. Peña Parra, que «sendo o sal da terra realça, não a preocupação pela aparência e a própria relevância, mas o esforço para dar sabor ao todo». E neste sentido, «olhando para trás nas últimas décadas — assegurou — o povo timorense merece plenamente a qualificação profética de sal da terra. Não só se reconciliou, como está a reconciliar-se: foi capaz de dar o sabor evangélico da fraternidade à terra que habita, representando um modelo de convivência pacífica». Basta pensar — acrescentou — «que é costume, na língua tétum, dirigir-se a estranhos com as palavras “maum” e “mana”, ou seja, irmão e irmã. Igualmente significativo é o costume de se referir às principais autoridades políticas como “maum-boot”, irmãos mais velhos».

Naturalmente, o orador disse estar consciente dos vários obstáculos que o Documento encontra na sua aplicação concreta — há quem o acuse de ingenuidade, de relativismo ou sincretismo — mas relançando as palavras do Papa Francisco na sua recente viagem ao Cazaquistão, salientou a necessidade de que cada religião “se purifique” e se comprometa ativamente para desmascarar qualquer violência que tenda a assumir uma suposta sacralidade.

Depois de falar do sal como o “sabor” da fraternidade, o arcebispo aprofundou a sua função como “conservante” da convivência pacífica, e a este respeito relançou a primazia da educação, pois — esclareceu — para preservar, é necessário educar. Uma formação – disse — «que se dedique não só a temas técnicos orientados para o lucro, mas também a temas humanistas; e que vise não só o potencial do indivíduo, mas também o cuidado do conjunto».

Por fim, aprofundando outros elementos do Documento, o substituto apelou à justiça baseada na misericórdia, à promoção e tutela da liberdade, especialmente da liberdade religiosa — direito inalienável e essencial de todos os grupos e seres humanos — e ao recurso à oração quando as tentativas humanas de mediação parecem falhar.