Com o seu Magnificat a Virgem «profetiza que não prevalecem o poder, o sucesso e o dinheiro, mas sim o serviço, a humildade, e o amor», recordou o Papa no Angelus da solenidade da Assunção da Bem-Aventurada Virgem Maria, dirigindo-se aos numerosos fiéis reunidos ao meio-dia de 15 de agosto na praça de São Pedro.
Estimados irmãos e irmãs bom dia! Feliz Festa!
Hoje, Solenidade da Assunção da Bem-Aventurada Virgem Maria, o Evangelho propõe-nos o diálogo entre Ela e a prima Isabel. Quando Maria entra em casa e saúda Isabel, ela diz-lhe: «Bendita sois Vós entre as mulheres, e bendito é o fruto do vosso ventre» (Lc 1, 42). Estas palavras, cheias de fé, de alegria e de enlevo, passaram a fazer parte da “Ave-Maria”. Cada vez que recitamos esta oração, tão bonita e familiar, fazemos como Isabel: saudamos Maria, bendizemo-la, porque Ela nos traz Jesus.
Maria aceita a bênção de Isabel e responde com o cântico, um dom para nós, para toda a história: o Magnificat. É um cântico de louvor que poderíamos definir “o cântico da esperança”. É um hino de louvor e de exultação pelas maravilhas que o Senhor realizou nela, mas Maria vai além: contempla a obra de Deus em toda a história do seu povo. Por exemplo, diz que o Senhor «derrubou do trono os poderosos e exaltou os humildes. Saciou de bens os indigentes e despediu de mãos vazias os ricos» (vv. 52-53). Ouvindo estas palavras, poderíamos perguntar-nos: porventura não exagera um pouco a Virgem, descrevendo um mundo que não existe? Com efeito, o que diz não parece corresponder à realidade; enquanto Ela fala, os poderosos da época não foram derrubados: por exemplo, o temível Herodes permanece firme no seu trono. E também os pobres e os famintos permanecem assim, enquanto os ricos continuam a prosperar.
O que significa esse cântico de Maria? Qual é o sentido? Ela não quer fazer a crónica do tempo — não é uma jornalista — mas quer dizer-nos algo muito mais importante: que, através dela, Deus inaugurou uma mudança histórica, estabeleceu definitivamente uma nova ordem de coisas. Ela, pequena e humilde, foi exaltada e — é o que celebramos hoje — levada à glória do Céu, enquanto os poderosos do mundo estão destinados a permanecer de mãos vazias. Pensai na parábola daquele homem rico que tinha à porta um mendigo, Lázaro. Como acabou? De mãos vazias. Em síntese, Nossa Senhora anuncia uma mudança radical, uma inversão de valores. Enquanto fala com Isabel carregando Jesus no ventre, antecipa o que o seu Filho dirá, quando proclamar bem-aventurados os pobres e os humildes, admoestando os ricos e quantos confiam na própria autossuficiência. Portanto, com este cântico, com esta oração, a Virgem profetiza: profetiza que não prevalecem o poder, o sucesso e o dinheiro, mas sim o serviço, a humildade e o amor. E olhando para Ela na glória, compreendemos que o verdadeiro poder é o serviço — não o esqueçamos: o verdadeiro poder é o serviço — e reinar significa amar. E que este é o caminho para o Céu!
Então, olhando para nós, podemos interrogar-nos: aquela inversão anunciada por Maria toca a minha vida? Acredito que amar é reinar, e servir é poder? Acredito que a meta da minha vida é o Céu, o paraíso? Ou só estou preocupado em viver bem aqui na terra, só me preocupo com as coisas terrenas, materiais? Mais ainda, observando as vicissitudes do mundo, deixo-me prender pelo pessimismo ou, como a Virgem, consigo vislumbrar a obra de Deus que, através da mansidão e da pequenez, realiza maravilhas? Irmãos e irmãs, hoje Maria canta a esperança e reacende-a em nós, nela vemos a meta do caminho: Ela é a primeira criatura que, com todo o seu ser, de corpo e alma, cruza vitoriosa a linha de chegada no Céu. Mostra-nos que o Céu está à mão. Como assim? Sim, o Céu está à mão, se também nós não cedermos ao pecado, louvarmos a Deus com humildade e servirmos os outros com generosidade. Não cedamos ao pecado; contudo, alguém pode dizer: “Mas padre, sou fraco” — “Mas o Senhor está sempre perto de ti, porque é misericordioso!”. Não esqueças qual é o estilo de Deus: proximidade, compaixão e ternura; Ele está sempre perto de nós com o seu estilo. A nossa Mãe toma-nos pela mão, acompanha-nos à glória, convida-nos a regozijar-nos pensando no paraíso. Bendigamos Maria com a nossa prece, pedindo-lhe um olhar capaz de vislumbrar o Céu na terra.
No final da prece mariana, o Pontífice saudou os grupos presentes na praça de São Pedro, depois dirigiu um pensamento especial às pessoas sozinhas e aos doentes, e no final exortou os fiéis a visitar um santuário mariano, invocando «a intercessão de Nossa Senhora para que Deus conceda a paz ao mundo», de maneira especial ao povo ucraniano. Em seguida, as palavras do Sumo Pontífice
Prezados irmãos e irmãs!
Saúdo todos vós, romanos e peregrinos de vários países: famílias, grupos paroquiais, associações. Em particular, saúdo os jovens da Diocese de Verona, comprometidos num acampamento escolar, e os jovens da Imaculada.
Desejo feliz Festa da Assunção a todos vós aqui presentes, àqueles que estão de férias, assim como a muitos que não podem permitir-se um período de descontração, às pessoas sozinhas e aos doentes. Não os esqueçamos! E nestes dias penso com gratidão em quantos prestam serviços indispensáveis para a coletividade. Obrigado pelo vosso trabalho para nós!
E neste dia dedicado a Nossa Senhora, exorto todos os que tiverem a oportunidade, a visitar um santuário mariano para venerar a nossa Mãe celestial. Muitos romanos e peregrinos vão a Santa Maria Maior para rezar diante da Salus Populi Romani. Ali há também a imagem da Virgem Rainha da paz, colocada pelo Papa Bento xv . Continuemos a invocar a intercessão de Nossa Senhora para que Deus conceda a paz ao mundo, e oremos de modo especial pelo povo ucraniano!
Feliz festa a todos! Não vos esqueçais de rezar por mim. Bom almoço e até à vista!