Cada celebração mariana não é apenas um pretexto litúrgico que interrompe o fluxo normal do tempo comum das nossas liturgias e da nossa vida de crentes. Cada celebração mariana nos obriga com benevolência a confrontar-nos com aquilo que recentemente o Papa Francisco definiu dialeto feminino. Através desta expressão, o Pontífice capta uma das peculiaridades daquele génio feminino de que a Igreja é feita. Com efeito, na maioria dos casos, são precisamente as mulheres que subjetivam a vida, ou seja, que fazem dela uma experiência relativa às pessoas na sua singularidade.
Por exemplo, um amor materno nunca é um amor geral, abstrato, mas é sempre amor particular, um amor que chama o filho pelo nome. Diante deste tipo de experiência de bem, todos se sentem considerados na sua unicidade. Neste sentido, a língua do amor é sempre uma língua dialetal, ou seja, uma língua unida à nossa singularidade.
Eis, pois, o motivo pelo qual, quando celebramos uma festa mariana, somos interpelados de uma maneira dialetal a compreender a mensagem do Evangelho. Especialmente na solenidade da Assunção da Bem-Aventurada Virgem Maria ao Céu, somos postos em contacto com o mistério da morte e do nosso destino final.
Maria testemunha-nos que o que já lhe ocorreu irá acontecer no final dos tempos para cada um de nós. Mas, ao mesmo tempo, é um pouco como se esta festa quisesse tornar mais explícita do que nunca a expressão que recitamos frequentemente na Ave-Maria, «rogai por nós, pecadores, agora e na hora da nossa morte».
É bom saber que sobretudo na última hora desta nossa viagem invocamos a presença desta Mãe. Assim, até a morte poderá falar a linguagem do dialeto, poderá assim ser não uma experiência alienante que nos lança no vazio, mas uma experiência que nos trata por tu e nos introduz numa relação de amor que pela sua elevada qualidade chamamos Paraíso. Com efeito, que mais é o Paraíso, se não a experiência indelével de saber que somos amados e de amar ilimitadamente?
Maria é assumida no Céu e precede-nos, dissipando assim aquele medo da morte que misteriosamente atravessa toda a nossa vida. Já não estamos a caminho de um “talvez”, mas de uma “certeza” na qual esta mulher já colocou o seu corpo glorioso.
Luigi Maria Epicoco