«Preocupação e tristeza» pela «situação na Nicarágua» foram expressas pelo Papa no final do Angelus recitado ao meio-dia de domingo 21 de agosto, na praça de São Pedro. «Gostaria de expressar», disse, «a minha convicção e esperança de que, através de um diálogo aberto e sincero, ainda se possam encontrar as bases para uma coexistência respeitosa e pacífica. Precedentemente, Francisco comentou o trecho litúrgico do Evangelho de Lucas (13, 22-30), recordando que a «porta estreita» da qual Jesus fala não é «destinada apenas aos poucos escolhidos nem aos perfeitos», mas está «aberta a todos» e mede-se pela capacidade de «comprometer a própria vida com o amor, o serviço e a doação de si mesmo».
Estimados irmãos e irmãs bom domingo!
No excerto do Evangelho de Lucas da liturgia deste domingo, alguém pergunta a Jesus: «“Senhor, são poucos os homens que se salvam?”». E o Senhor responde: «Procurai entrar pela porta estreita» (Lc 13, 24). A porta estreita é uma imagem que nos pode assustar, como se a salvação fosse destinada apenas a poucos eleitos ou aos perfeitos. Mas isto contradiz o que Jesus nos ensinou em muitas ocasiões; com efeito, um pouco mais adiante, Ele diz: «Virão do Oriente e do Ocidente, do Norte e do Sul, e sentar-se-ão à mesa no Reino de Deus» (v. 29). Portanto, esta porta é estreita, mas está aberta a todos! Não vos esqueçais disto: a todos! A porta está aberta a todos!
Mas para compreender melhor esta porta estreita, devemos perguntar-nos o que ela é. Jesus apresenta a imagem da vida da época e provavelmente refere-se ao facto de que, quando anoitecia, as portas da cidade eram fechadas e apenas uma, mais estreita e pequena, permanecia aberta: para regressar a casa, só se podia passar por ali.
Pensemos então em quando Jesus diz: «Eu sou a porta: se alguém entrar por mim, será salvo» (Jo 10, 9). Significa que para entrar na vida de Deus, na salvação, é preciso passar por Ele, e não por outro, por Ele; acolher a Ele e à sua Palavra. Assim como para entrar na cidade era preciso “medir-se” com a única porta estreita deixada aberta, também aquela do cristão é uma vida “à medida de Cristo”, fundada e modelada n’Ele. Significa que a medida é Jesus e o seu Evangelho: não o que pensamos, mas o que Ele nos diz. E assim trata-se de uma porta estreita não porque se destina a poucos, não, mas porque ser de Jesus significa segui-lo, comprometer a vida no amor, no serviço e no dom de si como Ele fez, passando pela porta estreita da cruz. Entrar no projeto de vida que Deus nos propõe requer que reduzamos o espaço do egoísmo, que diminuamos a presunção de autossuficiência, que baixemos as alturas da soberba e do orgulho, e que superemos a preguiça, a fim de atravessar o risco do amor, até quando inclui a cruz.
Pensemos, para sermos concretos, nos gestos diários de amor que realizamos com esforço: pensemos nos pais que se dedicam aos filhos fazendo sacrifícios e renunciando ao tempo para si mesmos; naqueles que cuidam dos outros e não apenas dos próprios interesses: quantas pessoas são assim, boas; pensemos em quantos se dedicam ao serviço dos idosos, dos mais pobres e mais frágeis; pensemos naquelas que continuam a trabalhar com empenho, suportando dificuldades e talvez incompreensões; pensemos em quantos sofrem por causa da fé, mas continuam a rezar e a amar; pensemos naqueles que, em vez de seguirem os próprios instintos, respondem ao mal com o bem, encontram a força para perdoar e a coragem para recomeçar. Estes são apenas alguns exemplos de pessoas que não escolhem a porta larga do próprio conforto, mas a porta estreita de Jesus, de uma vida vivida no amor. Estes, diz o Senhor hoje, serão reconhecidos pelo Pai muito mais do que aqueles que se consideram já salvos e, na realidade, na vida são «iníquos» (Lc 13, 27).
Irmãos e irmãs, de que lado queremos estar? Preferimos o caminho fácil de pensar apenas em nós mesmos ou escolhemos a porta estreita do Evangelho, que desafia o nosso egoísmo, mas que nos torna capazes de acolher a verdadeira vida que vem de Deus e nos faz felizes? De que lado estamos nós? Nossa Senhora, que seguiu Jesus até à cruz, nos ajude a medir a nossa vida com a d’Ele, para entrar na vida plena e eterna.
No final da oração mariana, depois de apelar a favor da paz na Nicarágua, Francisco saudou os grupos presentes e renovou a sua prece «pelo querido povo ucraniano, que vive uma imensa crueldade».
Amados irmãos e irmãs!
Estou a acompanhar de perto com preocupação e tristeza a situação na Nicarágua, que envolve pessoas e instituições. Gostaria de expressar a minha convicção e esperança de que, através de um diálogo aberto e sincero, se possam ainda encontrar as bases para uma convivência respeitadora e pacífica. Peçamos ao Senhor, através da intercessão da Puríssima, que inspire no coração de todos esta vontade concreta.
Irmãos e irmãs, saúdo todos vós, romanos e peregrinos de vários países: famílias, grupos paroquiais, associações. Em particular, saúdo a comunidade do Pontifício Colégio Norte-Americano, especialmente os novos seminaristas que acabam de chegar, e exorto-os ao compromisso espiritual e à fidelidade ao Evangelho e à Igreja. Saúdo as consagradas do Ordo virginum e encorajo-as a testemunhar com alegria o amor de Cristo.
Saúdo os fiéis de Verona, Trevignano, Pratissolo; os jovens de Paternò, Lequile e os do caminho da Via lucis, que, sustentados pelo exemplo dos santos da “porta ao lado”, irão ao encontro dos pobres que vivem nos arredores das estações ferroviárias. E uma saudação também aos jovens da Imaculada.
Perseveremos na proximidade e na oração pelo querido povo ucraniano, que está a viver uma imensa crueldade.
Desejo-vos feliz domingo e por favor não vos esqueçais de rezar por mim. Bom almoço e até à vista!