A memória vai imediatamente para Billy Elliot, o filme de 2000 realizado por Stephen Daldry, que conta a história de um menino inglês que da periferia de Londres entra na Royal Ballet School. Mas desta vez não se trata de um filme, mas sim da realidade. Uma realidade tão difícil e amarga como a que é vivida em Manguinho, uma das favelas do Rio de Janeiro, no Brasil. Aqui, o tráfico de droga e os tiroteios estão na ordem do dia e o barulho da violência muitas vezes supera e sufoca a melodia da dança. Mas é aqui que funciona o Ballet Manguinhos, uma escola de dança que oferece os seus cursos gratuitamente a 410 alunos, representando um pequeno oásis para aqueles que procuram uma alternativa à vida de rua, que sonham um futuro. «A dança é a minha segunda casa», diz Vitoria Gomes de Carvalho, 16 anos.
Agora, porém, o Ballet Manguinhos está em risco de encerramento: a sua fundadora, Daiana Ferreira, faleceu em janeiro de 2021 de covid-19 e a crise económica global devido à pandemia fez diminuir os financiamentos, com o risco que o pano caia para sempre sobre os estudantes e os seus projetos. Mas a escola não desiste e continua a ter esperança, em ponta de pés.
Vêm-me à mente as palavras do Papa Francisco, que a 25 de julho de 2013 visitou a comunidade de Varginha, no bairro de Manguinhos: «A vós, queridos jovens, repito: nunca desanimeis, não percais a confiança, não deixeis que a esperança se extinga», disse o Pontífice. «Procurai vós levar o bem, não vos habitueis ao mal, mas vencei-o com o bem». E talvez também, acrescentamos, com a beleza da dança. (isabella piro )