A visita ao campo de Bentiu «foi um murro no estômago». Coloquemos a mão na consciência, pois «não podemos aceitar que no mundo de hoje as pessoas vivam em condições como estas». O cardeal secretário de Estado, Pietro Parolin, regressou a Juba, capital do Sudão do Sul, depois de um dia passado no campo de deslocados de Bentiu, nos arredores da cidade com o mesmo nome, no Estado de Unity, no norte do país.
Um momento intenso, vivido por etapas no meio daqueles que já não têm nada, se é que um dia tiveram algo. São as pessoas deslocadas pela guerra civil de 2013, que eclodiu apenas dois anos depois que o jovem Sudão do Sul conquistou a independência, e durou até 2020. Foi no Estado de Unity que nasceu o vice-presidente Riek Machar, um dos protagonistas do conflito contra o presidente Salva Kiir, e este é um dos lugares que viu os combates mais intensos, que produziu um número impressionante de pessoas deslocadas. A estas, ao longo do tempo, especialmente desde 2019, acrescentaram-se aqueles que fugiram de casa devido às inundações que, em 2021, foram entre as piores que este Estado conheceu nos últimos anos. Uma quantidade recorde de chuva inundou todo o território, impedindo os seus habitantes de poder viver e cultivar, e causando a perda de centenas de milhares de animais.
Tudo aquilo de que depende a sobrevivência da comunidade foi destruído, foram atingidos níveis aterradores de fome e o panorama que se abre aos olhos de quem chegam ao campo, bem como aos do secretário de Estado Parolin, é o de uma terra devastada, submersa por longos trechos, com cerca de 150.000 pessoas deslocadas, levadas a viver em condições higiénicas e sanitárias inimagináveis, sem água limpa, com descargas ao ar livre e com o espetro constante de epidemias, hepatite, malária e cólera, que periodicamente, até nas últimas semanas, atingem este lugar e depois se espalham para os outros Estados do Sudão do Sul.
«Estamos na periferia das periferias», disse o cardeal Parolin, que denunciou as condições de vida daqueles que «não têm sequer o mínimo necessário para sobreviver: sem a ajuda internacional da Onu não haveria esperança». «Estas pessoas queriam uma vida digna, educando os filhos, mas duas catástrofes, uma humana, a guerra, e outra natural, as chuvas, tornaram a sua vida vulnerável», explicou D. Stephen Nyodho Ador Majwok, bispo da diocese de Malakal, da qual faz parte Bentiu, com o seu campo de refugiados, «e a situação continua a piorar. Noventa por cento da população tem menos de 40 anos, há muitas crianças e não existem escolas para elas, qual será o seu futuro? É algo chocante!». Para o bispo, que permaneceu ao lado do cardeal durante toda a visita ao campo, a chegada do purpurado foi «um momento maravilhoso e histórico para a diocese de Malakal», acrescentou: «Ele veio para defender o nosso povo». Um dia inesquecível para os habitantes do Estado de Unity e Bentiu que, concluiu o prelado, «reforçará a fé na Igreja destas pessoas, atingidas por atrocidades, guerras e catástrofes naturais». Com estas palavras, o cardeal Parolin recordou «a proximidade do Papa a este povo de Deus».
de Bentiu
Francesca Sabatinelli