· Cidade do Vaticano ·

Mensagem do Pontífice para a apresentação do livro «Le Pape François et le ”Missel Romain pour les Diocèses du Zaïre”»

Da África um rito promissor para outras culturas

 Da África um rito promissor para outras culturas  POR-027
05 julho 2022

«Proponho o rito congolês da celebração da Eucaristia como modelo para outras Igrejas em busca de uma expressão litúrgica apropriada para fazer maturar os frutos da empresa missionária da evangelização das culturas e da inculturação do Evangelho», escreveu o Papa Francisco na mensagem para a apresentação, realizada a 20 de junho em Roma, do volume Le Pape François et le «Missel Romain pour les Diocèses du Zaïre», publicado — sob a direção da irmã Rita Mboshu Kongo — pela Libreria editrice vaticana (Cidade do Vaticano, 2022, 260 páginas) tendo em vista a viagem do bispo de Roma ao país africano, programada para o início de julho e depois adiada.

Estou feliz por poder entrar em contacto convosco para este importante evento da Igreja Família de Deus na República Democrática do Congo. A apresentação da tradução francesa da obra Le Pape François et le «Missel Romain pour les Diocèses du Zaïre» sob a direção da irmã Rita Mboshu Kongo, publicada pela Libreria Editrice Vaticana, faz parte dos preparativos da minha viagem à República Democrática do Congo, seguindo o exemplo do meu predecessor São João Paulo ii . Como não recordar aqui o que dizia São João Paulo na Ecclesia in Africa: «na vossa pátria africana, renovou-se o Pentecostes de Jerusalém. Os vossos antepassados ouviram a mensagem da Boa Nova, que é a língua do Espírito. Os seus corações acolheram pela primeira vez esta palavra e inclinaram as suas cabeças nas fontes da água batismal, onde o homem, por obra do Espírito Santo, morre junto com Cristo crucificado e renasce para uma nova vida na sua ressurreição (...). Foi certamente o mesmo Espírito que impeliu aqueles homens de fé, os primeiros missionários, que em 1491 aportaram à foz do rio Zaire, em Pinda, iniciando uma autêntica epopeia missionária. Foi o Espírito Santo, que age a seu modo no coração de cada homem, que moveu o grande rei do Congo, Nzinga-a-Nkuwu, a pedir missionários para anunciar o Evangelho» (Ecclesia in Africa, n. 32).

Com efeito, o que teria um cristão mais precioso do que a sua fé em Jesus Cristo? Porventura esta fé não é o grande tesouro herdado das gerações anteriores e que deve passar intacto para as gerações futuras? Compreende-se então a inestimável contribuição da liturgia, «ápice e fonte da atividade da Igreja», na transmissão da fé; porque o seu conteúdo modela a fé, da mesma forma que a fé de um povo determina o seu culto.

O rito congolês da celebração da Eucaristia é certamente o fruto da pregação missionária sob o sol da África e que foi colhido na aurora. Na sua tripla fidelidade à fé e tradição apostólica, à natureza íntima da própria liturgia católica e, por fim, ao génio religioso e ao património cultural africano e congolês, o Missel Romain pour les Diocèses du Zaïre é o único missal romano «insculturado», nascido da reforma litúrgica do Concílio Vaticano ii . É o fruto de muitos anos de pesquisa, de experiência no território e de cooperação frutuosa entre a Santa Sé e a Igreja no Congo. Poder-se-ia dizer, com razão, que este missal alcançou perfeitamente os seus objetivos. De facto, permite que os congoleses rezem na própria língua, com o seu corpo e a sua alma, e usem símbolos que lhes são familiares.

A 30 de abril de 1988, a Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos aprovou e confirmou o ordinário da Missa em francês, com, como apêndice, os preliminares, o calendário e as Missas.

Proponho o rito congolês da celebração da Eucaristia como modelo para outras Igrejas em busca de uma expressão litúrgica apropriada para fazer maturar os frutos da obra missionária de evangelização das culturas e da inculturação do Evangelho. «Não convém ignorar a enorme importância que tem uma cultura marcada pela fé, porque, não obstante os seus limites, esta cultura evangelizada tem, contra os ataques do secularismo atual, muitos mais recursos do que a mera soma dos crentes. Uma cultura popular evangelizada contém valores de fé e solidariedade que podem provocar o desenvolvimento duma sociedade mais justa e crente, e possui uma sabedoria peculiar que devemos saber reconhecer com olhar agradecido» (Evangelii gaudium, n. 68).

Exorto-vos — como dizia São João Paulo II a 23 de abril de 1988 aos bispos do Congo em visita “ad limina Apostolorum” — a comprometer-vos da mesma forma com todo o ritual dos sacramentos e sacramentais que estais a preparar para completar este rito.

Desejo-vos uma leitura frutuosa deste livro, para compreender que é bom celebrar juntos as maravilhas do nosso Deus no seu filho Jesus Cristo Nosso Senhor.

francisco

Cidade do Vaticano,
4 de junho de 2022.