«Proponho o rito congolês da celebração da Eucaristia como modelo para outras Igrejas em busca de uma expressão litúrgica apropriada para fazer maturar os frutos da empresa missionária da evangelização das culturas e da inculturação do Evangelho», escreveu o Papa Francisco na mensagem para a apresentação, realizada a 20 de junho em Roma, do volume Le Pape François et le «Missel Romain pour les Diocèses du Zaïre», publicado — sob a direção da irmã Rita Mboshu Kongo — pela Libreria editrice vaticana (Cidade do Vaticano, 2022, 260 páginas) tendo em vista a viagem do bispo de Roma ao país africano, programada para o início de julho e depois adiada.
Estou feliz por poder entrar em contacto convosco para este importante evento da Igreja Família de Deus na República Democrática do Congo. A apresentação da tradução francesa da obra Le Pape François et le «Missel Romain pour les Diocèses du Zaïre» sob a direção da irmã Rita Mboshu Kongo, publicada pela Libreria Editrice Vaticana, faz parte dos preparativos da minha viagem à República Democrática do Congo, seguindo o exemplo do meu predecessor São João Paulo ii . Como não recordar aqui o que dizia São João Paulo na Ecclesia in Africa: «na vossa pátria africana, renovou-se o Pentecostes de Jerusalém. Os vossos antepassados ouviram a mensagem da Boa Nova, que é a língua do Espírito. Os seus corações acolheram pela primeira vez esta palavra e inclinaram as suas cabeças nas fontes da água batismal, onde o homem, por obra do Espírito Santo, morre junto com Cristo crucificado e renasce para uma nova vida na sua ressurreição (...). Foi certamente o mesmo Espírito que impeliu aqueles homens de fé, os primeiros missionários, que em 1491 aportaram à foz do rio Zaire, em Pinda, iniciando uma autêntica epopeia missionária. Foi o Espírito Santo, que age a seu modo no coração de cada homem, que moveu o grande rei do Congo, Nzinga-a-Nkuwu, a pedir missionários para anunciar o Evangelho» (Ecclesia in Africa, n. 32).
Com efeito, o que teria um cristão mais precioso do que a sua fé em Jesus Cristo? Porventura esta fé não é o grande tesouro herdado das gerações anteriores e que deve passar intacto para as gerações futuras? Compreende-se então a inestimável contribuição da liturgia, «ápice e fonte da atividade da Igreja», na transmissão da fé; porque o seu conteúdo modela a fé, da mesma forma que a fé de um povo determina o seu culto.
O rito congolês da celebração da Eucaristia é certamente o fruto da pregação missionária sob o sol da África e que foi colhido na aurora. Na sua tripla fidelidade à fé e tradição apostólica, à natureza íntima da própria liturgia católica e, por fim, ao génio religioso e ao património cultural africano e congolês, o Missel Romain pour les Diocèses du Zaïre é o único missal romano «insculturado», nascido da reforma litúrgica do Concílio Vaticano ii . É o fruto de muitos anos de pesquisa, de experiência no território e de cooperação frutuosa entre a Santa Sé e a Igreja no Congo. Poder-se-ia dizer, com razão, que este missal alcançou perfeitamente os seus objetivos. De facto, permite que os congoleses rezem na própria língua, com o seu corpo e a sua alma, e usem símbolos que lhes são familiares.
A 30 de abril de 1988, a Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos aprovou e confirmou o ordinário da Missa em francês, com, como apêndice, os preliminares, o calendário e as Missas.
Proponho o rito congolês da celebração da Eucaristia como modelo para outras Igrejas em busca de uma expressão litúrgica apropriada para fazer maturar os frutos da obra missionária de evangelização das culturas e da inculturação do Evangelho. «Não convém ignorar a enorme importância que tem uma cultura marcada pela fé, porque, não obstante os seus limites, esta cultura evangelizada tem, contra os ataques do secularismo atual, muitos mais recursos do que a mera soma dos crentes. Uma cultura popular evangelizada contém valores de fé e solidariedade que podem provocar o desenvolvimento duma sociedade mais justa e crente, e possui uma sabedoria peculiar que devemos saber reconhecer com olhar agradecido» (Evangelii gaudium, n. 68).
Exorto-vos — como dizia São João Paulo II a 23 de abril de 1988 aos bispos do Congo em visita “ad limina Apostolorum” — a comprometer-vos da mesma forma com todo o ritual dos sacramentos e sacramentais que estais a preparar para completar este rito.
Desejo-vos uma leitura frutuosa deste livro, para compreender que é bom celebrar juntos as maravilhas do nosso Deus no seu filho Jesus Cristo Nosso Senhor.
francisco
Cidade do Vaticano,
4 de junho de 2022.