«Não podemos permitir que se tire até a última centelha de esperança dos olhos e dos corações dos jovens e das famílias» da Síria. O Papa Francisco renovou o seu «apelo a quantos têm responsabilidades, no país e na comunidade internacional, a fim de que se possa chegar a uma solução equitativa e justa para o drama» da «amada e martirizada» nação. Fê-lo durante a audiência a 20 de junho, na Biblioteca particular do Palácio apostólico, aos membros do Sínodo da Igreja greco-melquita.
Sinto-me feliz por vos receber e estou contente por rever D. Georges Kahhale, é corajoso! Gostaria de dizer que ele me ajudou muito. Antes de mais nada, aprendeu depressa a língua: espero que o seu sucessor fale espanhol, porque não pode ser bispo de um povo falando outra língua. É uma pena que não esteja aqui. Depois, tivemos um problema com um sacerdote, em Buenos Aires, e ele foi enérgico na solução, mas muito pastor, muito bom no modo de o procurar. Quando o vi, regozijei-me e é por isso que quero dar este testemunho perante todos vós. Um dos vossos irmãos que vos honra.
Obrigado, D. Kahhale. Depois, contar-vos-á as aventuras que tivemos em Buenos Aires com aquele sacerdote.
Beatitude
Estimados irmãos
no Episcopado!
Tenho o prazer de vos receber esta manhã, dando início aos trabalhos do Sínodo dos Bispos da Igreja Patriarcal de Antioquia dos Greco-Melquitas. Agradeço ao Patriarca, grande amigo, Sua Beatitude Youssef Absi, as palavras que me dirigiu.
Pedistes para poder celebrar a vossa convocação anual em Roma, junto dos túmulos dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo, e daqueles de muitos mártires que deram a vida em fidelidade ao Senhor Jesus. Precisamos da sua intercessão, para que também no nosso tempo, em sociedades que algumas análises definem “líquidas”, com relações superficiais que multiplicam a solidão e o abandono dos mais frágeis, a comunidade cristã tenha a coragem de testemunhar o nome de Cristo, autor e aperfeiçoador da nossa fé. Entre os Sucessores de Pedro há também alguns que nasceram na Síria, e isto faz-nos sentir, por um lado, o respiro católico da Igreja de Roma, chamada a presidir à caridade e a ter a sollicitudo Ecclesiarum omnium, e por outro, faz-nos ir como peregrinos à terra onde alguns de vós, a começar pelo Patriarca Youssef, são Bispos: a amada e martirizada Síria.
Os dramas dos últimos meses, que tristemente nos obrigam a dirigir o olhar para o leste da Europa, não devem fazer-nos esquecer o que há doze anos acontece na vossa terra. Lembro-me, no primeiro ano do meu pontificado, quando se preparava um bombardeamento sobre a Síria, que convocamos uma noite de oração, aqui em São Pedro, também com o Santíssimo Sacramento e a praça cheia, que rezava. Havia inclusive alguns muçulmanos, que tinham trazido o seu tapete e rezavam connosco. E ali nasceu a expressão: “Amada e martirizada Síria”. Milhares de mortos e feridos, milhões de refugiados no país e no estrangeiro, a impossibilidade de iniciar a necessária reconstrução. Em mais de uma ocasião, encontrei-me e ouvi a história de alguns jovens sírios que chegaram aqui, e fiquei impressionado com o drama que carregavam dentro de si, pelo que tinham vivido e visto, mas também pelo seu olhar, quase sem esperança, incapaz de sonhar com um futuro para a sua terra. Não podemos permitir que se tire até a última centelha de esperança dos olhos e dos corações dos jovens e das famílias! E assim renovo o meu apelo a quantos têm responsabilidades, no país e na Comunidade internacional, para que se possa alcançar uma solução equitativa e justa para o drama da Síria.
Vós, Bispos da Igreja greco-melquita, sois chamados a interrogar-vos sobre o modo em que, como Igreja, dais o vosso testemunho: heroico, sim, generoso, mas sempre necessitado de ser colocado à luz de Deus para que seja purificado e renovado. Ecclesia semper reformanda. Sois um Sínodo, devido às caraterísticas que foram reconhecidas em vós como Igreja patriarcal, e é necessário que vos questioneis sobre o estilo sinodal do vosso ser e agir, segundo o que pedi à Igreja universal: a vossa capacidade de viver a comunhão de oração e de intenções entre vós e com o Patriarca, entre os Bispos e os sacerdotes e diáconos, com os religiosos e as religiosas, e com os fiéis leigos, formando todos juntos o Povo santo de Deus.
Estais justamente preocupados com a sobrevivência dos cristãos no Médio Oriente — também eu estou: é uma preocupação! — instância que partilho plenamente; por outro lado, há décadas que a presença da Igreja melquita tem uma dimensão mundial. O Patriarca pedia-me para ordenar bispos de tantos lugares: há eparquias na Austrália e Oceânia, nos Estados Unidos e Canadá, na Venezuela e Argentina, para citar apenas algumas; e há muitos fiéis também na Europa, embora ainda não tenham tido a oportunidade de se unir em circunscrições eclesiásticas próprias. Isto representa sem dúvida um desafio eclesial, mas também cultural e social, não sem dificuldades e obstáculos. Ao mesmo tempo, é também uma grande oportunidade: permanecer enraizado nas próprias tradições e origens, abrindo-vos, contudo, à escuta dos tempos e lugares em que estais disseminados, a fim de responder ao que o Senhor pede hoje à vossa Igreja.
No âmbito do Sínodo, encorajo-vos a exercer sabiamente as vossas competências: sei que nalgumas Igrejas Orientais se fazem reflexões sobre o papel e a presença dos Bispos eméritos, especialmente com mais de oitenta anos, que são um número substancial nalguns Sínodos.
Outro capítulo é o das eleições dos Bispos, para as quais vos peço que reflitais sempre bem e rezeis ao Espírito Santo para vos iluminar, preparando adequadamente e com bastante antecedência o material e as informações sobre os vários candidatos, superando qualquer lógica de partidarismo e equilíbrios entre as Ordens religiosas de proveniência. Exorto-vos — e agradeço-vos pelo compromisso que assumirdes nisto — a fazer resplandecer o rosto da Igreja, que Cristo conquistou com o seu Sangue, mantendo distantes divisões e murmurações, que não fazem senão escandalizar os mais pequeninos e dispersar o rebanho que vos foi confiado. Sobre este assunto, abro um parêntese: estai atentos à tagarelice! Por favor, nada! Se alguém tiver algo a dizer ao outro, que o diga na sua frente, com caridade, mas na cara. Como homem! Pode dizê-lo na sua cara sozinho, pode dizê-lo na cara diante dos outros: correção fraterna. Mas nunca falar mal do próximo com outro, isso não se faz. Este é um caruncho que destrói a Igreja. Sejamos corajosos. Recordemos como Paulo disse tantas coisas na cara de Tiago. Também a Pedro. E depois faz-se unidade, a verdadeira unidade, entre homens. Eliminai todos os tipos de tagarelice, por favor. E depois o povo escandaliza-se: olhai para os sacerdotes, olhai para os bispos, esfolam-se uns aos outros! Recomendo: o que vos deveis dizer, dizei-o na cara, sempre!
Abençoo de coração cada um de vós e os vossos trabalhos sinodais. A Santíssima Virgem, Mãe da Igreja, vos acompanhe. E peço-vos a caridade de rezar por mim. Preciso disto. Obrigado!