«Na Ucrânia «voltou-se ao drama de Caim e Abel; desencadeou-se uma violência que destrói a vida, uma violência luciferina e diabólica, à qual nós crentes somos chamados a reagir», disse o Papa Francisco recebendo em audiência na Sala do Consistório, na manhã de 23 de junho, os participantes na 95ª Assembleia plenária da Reunião das obras de ajuda às Igrejas orientais ( roaco ).
Estimados amigos!
Sinto-me feliz por vos receber nesta manhã, na conclusão dos trabalhos da vossa sessão plenária. Saúdo o Cardeal Sandri, o Cardeal Zenari com os Representantes Pontifícios, os Superiores e os Oficiais do Dicastério e, através de vós, todos aqueles que em todos os continentes tornam possível a vossa generosidade.
A própria intuição da roaco corresponde ao caminho sinodal que a Igreja universal percorre; com efeito, o iter de apresentação de um projeto de ajuda implica a participação de vários atores: quem o apresenta, os profissionais encarregados de oferecer a sua contribuição, o Bispo ou Superior religioso, as Representações Pontifícias, o Dicastério para as Igrejas Orientais e vós, Agências, com todos aqueles que compõem os vossos departamentos. Cada um desempenha um papel e é chamado a dialogar com os outros consultando-se, estudando, perguntando e oferecendo sugestões e explicações, caminhando juntos. Os instrumentos informáticos que são preparados pelos vossos gabinetes tornarão o processo mais eficaz, mas é importante que apoiem o encontro e o confronto que amadurecestes ao longo destes anos, ajudando a desenvolver de modo coral a sinfonia da caridade.
Quando uma orquestra executa uma obra importante, antes de começar, deve afinar os instrumentos: só então a execução será digna e revelará a habilidade dos músicos. Enquanto criais a sinfonia da caridade, continuai a procurar o acordo, fugindo de toda a tentação de isolamento e fechamento em vós mesmos e nos próprios grupos, a fim de permanecer abertos para acolher aqueles irmãos e irmãs a quem o Espírito sugeriu iniciar experiências de proximidade e de serviço às Igrejas orientais católicas, tanto na pátria como nos territórios da chamada diáspora. Para encontrar um acordo, é importante sintonizar-se na escuta recíproca, que facilita o discernimento e leva a escolhas partilhadas, verdadeiramente eclesiais. Assim fizestes, por exemplo, com a Assembleia dos Bispos católicos da Síria, na Conferência realizada em Damasco em março, na qual muitos jovens participaram ativamente. No deserto de pobreza e desânimo causado pelos doze anos de guerra que prostraram a amada e martirizada Síria, pudestes descobrir como Igreja que as nascentes para fazer florescer novamente as estepes e dar água aos sedentos só brotarão se cada um de vós souber abandonar uma certa autorreferencialidade e se puser à escuta dos outros para identificar as verdadeiras prioridades. Certamente, trata-se de gotas no oceano da necessidade, mas a gota da Igreja não pode faltar, enquanto estamos sempre à espera de que a comunidade internacional e as autoridades locais não apaguem a última chama de esperança para aquele povo sofredor.
O estilo sinodal animou a Assembleia especial do Sínodo dos Bispos para o Médio Oriente. Em setembro celebrar-se-á o décimo aniversário da Exortação Apostólica Ecclesia in Medio Oriente, promulgada pelo meu predecessor Bento xvi durante a sua Viagem ao Líbano. Em dez anos, aconteceram muitas coisas: pensemos nas tristes vicissitudes que envolveram o Iraque e a Síria, as convulsões na própria na Terra dos Cedros. Houve também algumas luzes de esperança, como a assinatura em Abu Dhabi do Documento sobre a fraternidade humana. Será necessário verificar no território os frutos do Sínodo para o Médio Oriente; entretanto, é preciso encontrar instrumentos atualizados e modalidades adequadas para expressar a proximidade às Igrejas da região. Além disso, espera-se que os trabalhos da mesa de coordenação sobre a Síria e o Iraque, lançada há alguns anos, sejam retomados, incluindo o Líbano na reflexão comum.
Por favor, continuai a manter diante dos olhos o ícone do Bom Samaritano: fizeste-lo e sei que o continuareis a fazer também devido ao drama causado pelo conflito que de Tigray voltou a ferir a Etiópia e em parte a vizinha Eritreia, e sobretudo a amada e martirizada Ucrânia. Lá, voltaram ao drama de Caim e Abel; foi desencadeada uma violência que destrói a vida, uma violência luciferina e diabólica, à qual nós crentes somos chamados a reagir com a força da oração, com a ajuda concreta da caridade, com todos os meios cristãos, para que as armas deixem lugar às negociações. Gostaria de vos agradecer por ajudar a levar a carícia da Igreja e do Papa à Ucrânia e aos países onde os refugiados foram recebidos. Na fé sabemos que as alturas da soberba e da idolatria humanas serão abaixadas, e superados os vales da desolação e das lágrimas, mas também gostaríamos de ver rapidamente cumprida a profecia de paz de Isaías: que um povo já não levante a mão contra outro povo, que as espadas se tornem arados e as lanças, foices (cf. Is 2, 4). Ao contrário, tudo parece ir na direção oposta: os alimentos diminuem e o fragor das armas aumenta. É o padrão cainita que rege a história de hoje! Por conseguinte, não deixemos de rezar, jejuar, socorrer e trabalhar a fim de que os caminhos da paz encontrem espaço na selva dos conflitos.
Abençoo-vos de coração, grato por tudo o que fazeis. Por favor, não vos esqueçais de rezar também por mim. Obrigado!