Monsenhor Francesco Ingoli primeiro secretário
Francesco Ingoli nasceu a 21 de novembro de 1578 em Ravenna. Estudou direito civil e direito canónico na Universidade de Pádua. A 27 de maio de 1601 obteve o título de doutor utriusque iuris e começou a ensinar direito na sua cidade natal.
Conhecia o latim, o francês, o espanhol, o grego e o árabe e também se distinguia nos campos da astronomia e cosmografia. O cardeal Bonifacio Caetani, Legado pontifício em Bolonha, nomeou-o seu auditor. Do purpurado, que teve uma profunda influência no seu caráter e espiritualidade, Ingoli aprendeu a capacidade de trabalhar de modo sistemático e a arte de executar rapidamente as tarefas que lhe eram confiadas. Todas as questões que lhe eram submetidas eram resolvidas em pouco tempo. A ordem e a disciplina reinavam no seu ambiente de trabalho. Naquele período, entrou em contacto com os Teatinos em Ravenna.
Quando a 9 de fevereiro de 1621 o cardeal Alessandro Ludovisi se tornou Papa Gregório xv , nomeou Ingoli tutor legal do seu sobrinho Ludovico, que mais tarde foi criado cardeal e nomeado arcebispo de Bolonha.
A estadia de Ingoli em Bolonha com o cardeal Ludovico foi breve. De facto, foi chamado pelo Pontífice para Roma, onde lhe foi confiada a tarefa de preparar as normas para a eleição do futuro Papa. A sua contribuição foi muito apreciada e considerando o seu ardente zelo pela propagação da fé, Gregório xv decidiu nomeá-lo primeiro Secretário da erigenda Sagrada Congregação de Propaganda Fide.
As normas tinham a data de 6 de janeiro de 1622, o mesmo dia da instituição do Dicastério, embora a carta de nomeação só tenha sido publicada no dia 1 de setembro seguinte.
Face a esta nova responsabilidade de dimensão universal, que exigia o máximo empenho, o Secretário trabalhou para dar forma à Congregação e assegurar o apoio necessário para o seu funcionamento eficaz. Monsenhor Ingoli estava bem ciente de que tinha de começar de zero como escritório central para as missões em Roma.
O primeiro passo foi escrever aos núncios apostólicos e superiores-gerais dos vários institutos religiosos para os informar sobre a nova instituição missionária. Pediu-lhes que lhe enviassem informações detalhadas sobre a situação nos próprios territórios e que dessem sugestões. Esta vasta coleção de informação foi necessária para se ter uma visão clara antes de definir as funções da Congregação. Assim, a Congregação tornou-se o gabinete mais bem informado da Cúria Romana sobre o trabalho evangelizador da Igreja no mundo. Além disso, Ingoli considerou esta coleção de documentos a base dos arquivos de Propaganda, da qual foi o primeiro arquivista.
Ao estudar estes documentos, preparou discursos e relatórios sobre questões particulares relativas às missões, tais como o sistema de patrocínio, a necessidade de uma tipografia, os abusos, a admissão de estudantes nativos nas ordens sacerdotais e religiosas, a nomeação de bispos, e assim por diante. Estas medidas testemunham o zelo de Ingoli pela difusão da fé, pela organização missionária e pela formação daqueles que se ocupariam dela.
Típico do modo de trabalhar de Ingoli foi atribuir grande importância ao máximo possível de retidão no tratamento dos assuntos da secretaria de Propaganda Fide. Considerava uma prioridade a organização da secretaria. Deu particular importância a uma resposta rápida e imediata no tratamento dos ficheiros.
No papel de Secretário, cabia a ele preparar as congregações gerais e particulares dos cardeais do Dicastério. Desempenhava estas tarefas meticulosamente, assegurando em particular que a sua duração não excedesse a planeada, especialmente quando eram realizadas na presença do Papa. Para ele, não havia outra obra que agradasse a Deus a não ser o trabalho missionário.
Monsenhor Ingoli estava convencido de que a nova Congregação tinha de desenvolver o próprio procedimento missionário adequado. Devia apresentar novos métodos, para que o seu programa de ação pudesse ser implementado sem obstáculos. A este respeito, teve sempre o cuidado de pedir aos superiores religiosos, núncios e outros que propusessem novos métodos para promover a vitalidade do movimento.
Algumas das ideias sugeridas por estas pessoas foram: 1) a necessidade de uma tipografia como instrumento para a propagação da fé e, portanto, a criação de uma tipografia em Roma para imprimir materiais como gramáticas, dicionários, catecismos, testes e livros para a propagação da fé em territórios de missão; 2) a cuidadosa seleção e formação de missionários; 3) a colaboração dos bispos.
Monsenhor Ingoli estava convencido da necessidade de uma formação cuidadosa do clero indígena como base para a nomeação de bispos. Sugeriu, por conseguinte, a criação de um colégio missionário. A instituição teria também de insistir no conhecimento das línguas locais dos povos aos quais poderiam pregar e administrar os sacramentos.
Segundo ele, a Propaganda Fide destinava-se a proteger os missionários e bispos dos funcionários dos poderes temporais. Procurou abolir os vicariatos reais sob o sistema de patrocínio, especialmente por causa dos abusos decorrentes desta prática. Essas falhas atingiram negativamente o progresso da missão.
Em particular, estava muito interessado na formação de sacerdotes indígenas e na nomeação de bispos indígenas como norma missionária. Ele considerou esta abordagem uma vantagem. Houve extensa correspondência e muitas intervenções de Ingoli para sublinhar este ponto em várias ocasiões, especialmente na América Latina e na Índia.
A fim de assegurar o crescimento nos territórios de missão, Ingoli cultivava e mantinha contactos estreitos com os institutos religiosos. Aproveitou ocasiões como os Capítulos Gerais para apresentar aos superiores questões relacionadas com a missão e pedir as suas opiniões ou sugestões.
Para Ingoli, o único objetivo era a difusão da fé. Todos os seus esforços visavam encontrar a melhor forma para construir, promover e expandir as atividades da jovem Congregação.
Levou uma vida simples e austera. A sua lealdade para com a Igreja era inquestionável. Apesar da sua bondade paterna, era severo. Era rigoroso e obstinado especialmente quando se tratava de defender os direitos da Propaganda ou da Santa Sé, ou a implementação de uma medida a favor das missões.
Faleceu em Roma a 24 de abril de 1649. Por sua firme decisão, recebeu uma sepultura simples na igreja teatina de Sant’Andrea della Valle, em Roma.